Capítulo Onze - 2°parte

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Marlon Shipka:

Quando Otto saiu do quarto, fechei a porta com a tranca e me joguei em cima da cama, soltando um suspiro pesado. Como aquele homem consegue ser tão descaradamente safado? A maneira como ele misturava provocação e carinho me deixava desconcertado, mas também, de alguma forma, fazia meu coração acelerar de maneiras que eu não queria admitir.

A verdade é que, no fundo, eu queria que, ao menos uma vez, alguém demonstrasse interesse genuíno nas mesmas coisas que eu gosto ou que, ao menos, chegasse a compartilhar dos meus interesses. Mas isso parecia uma realidade distante para mim, algo que nunca seria possível nesta vida ou em qualquer outra. E essa percepção me atingiu com uma melancolia profunda.

Há uma cegueira maior do que a do que vive na ilusão dos sentidos, das memórias e das esperanças de um futuro improvável. Nosso coração tem uma habilidade impressionante de ludibriar nossa mente, mas chega o dia em que precisamos encarar o que é real e verdadeiro. Somente então podemos conhecer o que há de autêntico nas pessoas e nas terras ao nosso redor. Fugir do que é verídico, por mais que possa nos machucar, é viver em desacordo com a realidade.

Levantei-me da cama, sentindo uma onda de frustração. Queria me bater por fazer um drama tão grande por causa disso. Afinal, não fazia sentido se agarrar a algo que era improvável. Da mesma forma, era tolice desejar o afeto de alguém que, mesmo sendo incrivelmente cativante, estava claramente preso às suas próprias ilusões e interesses.

Resolvi tomar um banho para tentar afastar esses pensamentos, deixando que a água quente aliviasse a tensão que ainda sentia. Coloquei uma roupa simples e me lembrei do que Jam e Sofia haviam mencionado sobre uma festa em um bar naquela noite. Sinceramente, eu costumava ir a festas como essa porque pensava que era meu dever, uma maneira de fazer conexões e me integrar. Mas agora, eu não estava tão preocupado com isso. A ideia de escapar por algumas horas, mesmo que para um lugar onde o álcool e a música dominassem, parecia ser exatamente o que eu precisava.

Saí do quarto, sentindo o ar fresco do corredor bater no meu rosto, e chamei Orion. Deixei o Palácio das Rosas para trás, decidido a esquecer, pelo menos por algumas horas, as complicações que Otto trazia para minha vida. Estava pronto para me perder em algo mais simples, onde as expectativas e as responsabilidades não pesassem tanto.

Ao montar em Orion e seguir pelas ruas em direção ao bar, senti um pequeno alívio. Talvez a noite não me trouxesse respostas, mas pelo menos me ofereceria uma pausa da complexidade que parecia dominar tudo ao meu redor. E, por agora, isso já era o suficiente.

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A festa estava a todo vapor em um bar localizado no lado sul da capital real, um lugar que, definitivamente, não era frequentado por nobres de alto escalão. Mas isso não me incomodava; na verdade, eu me sentia mais à vontade ali do que em qualquer salão de baile luxuoso. Em minha vida passada, havia comparecido a muitas festas como essa, e já conhecia bem esses ambientes. Entrei no bar sem pensar duas vezes, mas, mesmo assim, meu coração batia um pouco mais forte com a antecipação.

— Oh, você está aqui, meu senhor? — Jam me cumprimentou, mas logo corrigiu sua formalidade ao perceber minha expressão. — Digo, que bom ver você, Marlon.

À medida que nos aproximávamos da mesa, os cavaleiros que estavam ocupados comendo levantaram a cabeça e me cumprimentaram em uníssono, o que me fez sentir um pouco mais confortável. Jam me conduziu até o centro da mesa, onde Sofia e Dimitri estavam sentados, e percebi que todos pareciam estar se divertindo.

— Por favor, venha por aqui — um dos cavaleiros sugeriu, enquanto outro pedia um copo extra.

— Ei, precisamos de mais um copo! — alguém exclamou.

O bruxo imperadorOnde histórias criam vida. Descubra agora