S E T E N T A Q U A T R O

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THOMAS combinava com a noite, sua pele parecia feita para ser vista sob o luar, e seus olhos atingiam a tonalidade perfeita no escuro que nós rodeava, deixando apenas que a luz pálida fosse capaz de tocar nossas peles, e delinear nossas silhuetas ...

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THOMAS combinava com a noite, sua pele parecia feita para ser vista sob o luar, e seus olhos atingiam a tonalidade perfeita no escuro que nós rodeava, deixando apenas que a luz pálida fosse capaz de tocar nossas peles, e delinear nossas silhuetas um para o outro.

Essa noite porém, parecia diferente.

A lua estava belíssima no alto, como uma rainha após sair vitoriosa de uma guerra, as estrelas eram pontos minúsculos e distantes, e a brisa que sempre estava ao redor, tinha desaparecido, o silêncio nas entranhas daquela noite era como um rei que foi derrotado em batalha.

Não demorou muito para o olhar de Thomas recair sobre mim, não demonstrando nenhuma reação, um cigarro dançava entre seus dedos e fumaça flutuava da sua boca, até os hábitos mais detestáveis eram suportáveis quando feitos por Thomas.

- Dia ruim? - perguntei me sentando ao seu lado, e encostando minha cabeça em seu ombro.

Thomas parecia uma pedra, nenhum movimento e até sua voz parecia morta.

- Péssimo.

- imaginei.

Levo meus lábios até seu pescoço, me inclinei para beijá-lo com delicadeza e sinto em minha alma sua voz áspera deslizando sobre ela.

- Por quê?

- Você fuma quando está estressado e precisa espairecer, péssimo hábito e provavelmente vai te matar antes dos cinquenta anos, mas é o que você faz. - falei, meu hálito preenchendo a pele dele e procurando pelo carinho que Thomas tem, como um dom divino que foi dado a ele.

Ele solta ar frio de suas narinas, é indiferente ao meu toque e sua postura me parece distante, como as estrelas no céu.

- Posso ter perguntar uma coisa? - a pergunta dele sai misturado a uma espécie de sussuro, como se ele não quisesse ser ouvido porém precisasse de uma resposta urgentemente.

Beijei sua bochecha fria, e coloquei meu rosto na curva do seu pescoço.

- Qualquer coisa.

- Já imaginou que uma pessoa fosse uma coisa, e de repente, descobrisse que ela nunca foi quem pensava?

A pergunta me pega desprevenida, a noite parece se torna mais escura e o olhar de Thomas também.

- Já. - respondi, a palavra voando da minha boca como uma navalha que certamente me atingiria no futuro.

- E o que fez?

Sinto o olhar dele pousando em mim, com uma determinação intensa, sei que ele só vai desviar o olhar quando uma resposta surgi.

- Tentei descobrir quem aquela pessoa era realmente, e me surpreendi. - ponderei antes de dizer.

E a quietude nos embala, perfura nossos corpos e amarra nossos corações e olhando para ele consigo sentir tudo que ele sempre foi capaz de me dar, paz e paixão, mas sinto tudo se dissipar aos poucos, os bons momentos ficam embaçados, as alegrias compartilhadas se tornam fantasmas e o carinho que sempre encontrei com um único olhar, não está mais alí, por um segundo consigo enxergar, mas no momento seguinte desapareceu.

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