🖤 Tentativas Frustradas 🖤

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Mas chegará o instante em que me darás a mão,
não mais por solidão, mas como eu agora:
por amor

- Clarice Linspector

— Que bom que não demorou! — Endora disse procurando, um pouco desajeitada, alguma coisa naquela gaveta cheia de papel. — Essa sala está ficando pequena; não? —, bufou por não encontrar o que procurava. Mas também estava uma bagunça. Não conseguia fechá-la totalmente de tão cheia. Forçou com um empurrãozinho vão. — De repente, você coloca as coisas num lugar e depois: puff, elas simplesmente desaparecem! —, não consigo dizer se o sorriso esboçado por ela era mais irônico ou decepcionado. 

— Eu estava no meio de uma agradável experiência, com uma aluna... a Vick, Endora. —, bufou com certo desdém para euforia da irmã. — Estávamos tentando produzir sementes de abóbora de maneira independente da planta matriz. Um projeto empolgante, interessante e extremamente produtivo, diga-se de passagem, no entanto, infelizmente você nos interrompeu, então se puder ser breve eu ficaria muito grata.

— Você se lembra do meu álbum de fotografias? —, perguntou um pouco receosa. — Aquele que mantinha com muito carinho naquela casa de Los Angeles?

— Não. —, respondeu encostada ao umbral. Tossiu, devido a fumaça do cigarro. — deveria trocar a nicotina por uma droga menos agressiva...

— Se está me recomendando aquele seu matinho queimado, eu agradeço. —, respondeu ríspida. — Eu estou um pouco confusa, porque eu cheguei a te mostrar umas fotografias que fiz de Berlim e Munique. Estavam lá, eu me lembro de você vendo e comentando alguma coisa...

— Me desculpe Endora, mas eu realmente não me lembro... eu nem sabia que você gostava de fotografar. —, respondeu um pouco desinteressada. — Era só isso?

— Bom, na verdade eu queria que você me fizesse um favor. —, a megera falou sentando-se na sua mesa de trabalho. — Eu estava um pouco... a verdade é que eu estava um pouco saudosa e... e eu senti vontade de lembrar da mamãe. —, falou com um sorriso choroso estampado no rosto. — Mas eu não consigo me recordar dele e nem da sua cara... e como você tem esse dom de resgatar as memórias perdidas, eu queria que...

— Eu não sei como você tem coragem de me pedir uma coisa dessas, — falou com os olhos embotados de lágrima, — sabendo que eu nunca tive a oportunidade de conhecer a mamãe.

— O que? —, ficou sem nada entender. De fato, aquela reação havia sido inesperada, ouso dizer que demasiada.  — Justamente querida... Você recuperará essa memória que se foi e então poderá conhecer o rosto da mamãe e poderá... e poderá me devolver essa lembrança há muito esquecida... Vamos faça isso! Eu sei que consegue... —, ordenou apoiando-se a sua mesa, como de costume. Aquela corporeidade irritava Assylvix de uma forma inexplicável. 

— Não sei o que você ganha a passar a sua vida em prol de me colocar nestas situações. —, respondeu limpando as lágrimas, — Apenas me deixe esquecer que você estragou as nossas vidas para sempre, Endora. —, tentando se recompor. — Se era só isso, com licença. —, saiu sem esperar uma resposta de Endora, e na verdade, não lhe interessava uma resposta.

Um pouco atordoada, Endora tentou processar o que havia acabado e acontecer. O sol estava impiedoso, anunciando a chuva, prelúdio de frias estações. Ficou compenetrada nas nuvens distantes que longe lá se acumulavam. Vi-as, mas seus olhos mirava outras coisas, temporadas passadas, sorrisos antigos, cortinas e brilhos.

Naquela mesma tarde ensolarada, cheia de calor pra dar, Sr. Tadeus, avô de Mia, convidou Sr. Cáspio para tomar alguma coisa na sua imensa sala de jogos. Almejava investigar o que estava acontecendo, também estava cheio de motivações deturpadas em sua mente, mal havia conseguido dormir depois de tudo que havia espiado. Criou mil coisas, tinha horas que confundia sonho e realidade. Era possível notar as saltadas bolsas debaixo de seus olhos adornados com escandalosas olheiras. 

Witchcraft: A Saga De AshântiOnde histórias criam vida. Descubra agora