Será que sou apenas mais um pseudônimo inventado pra alçar fuga da minha real identidade?
Um caracol de fogo circulando dentro de mim e dele provêm toda a minha intuição. Há lesões por séculos de resistência que lesionadas estão e já não se sustentam mais, muletas.
As vozes que estão dentro de mim a todo tempo sussurrado palavras de coragem em minhas veias não fazem distinção do meu estado de humor, então mesmo quando triste estou, valente tenho que ser, porque assim é que caminha humanidade: em meio ao desalento e dissabor.
Eu sou meu próprio mediador e todo o meu senso é mediado pelas coisas que acredito. Esta manhã olhei pra mim mesmo no reflexo do espelho d'agua, que se formou depois da chuva violenta da noite passada, e ele me propôs um estudo de mim mesmo, do meu vocabulário, do meu próprio dicionário, da minha vivência e ser e então assim juntos numeramos as nossas diferenças e deficiências e me integrei das minhas falhas.
Apesar de ser meu reflexo, não somos tão iguais, embora super parecidos. Depois de um longo exercício de consciência ele me perguntou: Você se lembra de como você era antes de dizerem como você deveria ser?
Uma grande ruptura aconteceu no solo da minha instância e tentei diversas dinâmicas psicológicas pra me auto entender, no entanto, apenas descobrir que eu tenho muito o que explorar nesta caverna que é o meu corpo pois eu sou desconhecido para mim mesmo. Notei que tenho resguardado até mesmo as minhas vantagens dentro de mim como se eu as estivesse escondendo de alguém que as pretende de mim roubar.Este sou eu ou aqui dentro de mim habita uma entidade que visa inviabilizar a minha presença? Precisarei realizar uma expedição para dentro do meu próprio coração e viajar com uma caravana de versões diferentes de mim mesmo para desvendar os mistérios da minha existência. Eu sou mesmo eu ou sou alguém que você queira que eu seja? Esta ótica me deixa consternado e de tanto pensar eu acabo existindo no mundo. Sou feita apenas de um amontoado sem sentido de bugigangas? Mesmo que eu seja ainda uma tirana demagogia é unânime em mim que haja uma libertação do monstro que eles criaram pra mim, em mim mesma, por mim.
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O
clima estava frio, típico daqueles dias de chuva durante o inverno, e havia uma sucinta névoa se levantando do chão para encontrar o céu em um realengo de muita saudade, separação. Os trovões de maneira agressiva rasgavam o tecido do alto véu que nos separa da grandeza universal, num prelúdio para a tempestade devastadora que logo mais viria nos contemplar.
— Matamba está furiosa. Sinto seu poder se manifestando nos céus hoje. Estamos em uma situação crítica. —, Adessa disse compenetrada na paisagem do lado de fora enquanto tentava amarrar o laço de fita no vestido de Mia, de uma maneira que ficasse mais firme. — Estamos navegando por um oceano ainda desconhecido por todas nós à mercê da vulnerabilidade. É um eterno sufrágio e vivemos sempre cheias de adendos, costuras e remendos. —, o laço era de cetim e se desamarrava facilmente podendo se amassar, todo zelo era necessário pra que ficasse em perfeita desenvoltura.
— Às vezes penso estar vivendo eternamente em um sonho onde nada disso é real e que a qualquer momento eu vou acordar com a minha mãe gritando na porta dizendo que eu estou atrasada pra escola. —, Juliana falou enquanto tentava ler pela enésima vez seu livro favorito, O Mágico de Oz. —, Mas é um sonho só meu, sabem? É como se fosse o meu país das maravilhas. É uma realidade deturpada que ninguém mais consegue ver ou entender. Eu vivo num fabuloso devaneio.
— Mas a gente vive numa realidade filtrada. A gente definitivamente nunca sabe o que é real ou o que não é real. —, Vick prontamente respondeu enquanto se olhava sentada de frente a penteadeira. Ela gentilmente penteava os cabelos agora um pouco mais crescidos e de raízes terrosas. — A realidade é subjetiva Juliana, e ela está sendo mediada nas suas palavras. Se as suas palavras não existem no meu dicionário então provavelmente eu não vou conseguir enxergar a sua realidade. Quando alguém está disposto a enxergar as diversas perspectivas que existem ao seu redor ele precisa se instrumentalizar de diversas ferramentas pra dar cabo disso. Às vezes a minha perspectiva não consegue existir pra você, porque simplesmente você não consegue decodificar ela. Eu posso chamar um sapo de rã e acreditar piamente nisso se o sapo não existir como palavra pra mim. A nossa realidade passa por um filtro de subjetividade e o que é real pra você pode não ser real para mim.
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Witchcraft: A Saga De Ashânti
FantasiaSete jovens intimamente conectadas pela magia, com as mesmas dores e alegrias viverão uma desventura em busca de salvar as bruxas que ainda existem na terra. Juliana a curiosa, Sol a destemida, Vick a pacificadora, Adessa a ambiciosa, Ryoko a valent...