🌊 O Despertar dos Mares 🌊

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Dúbios pensares, ambíguos pesares
Dualismo ambulante, dualidade andante, errante, amante
Jogo de palavras,  que tolas escravas
O ressoar do labor ao incansável relutante relutando, mas o rio corre apenas para o mar, não há dois sentidos


Fazia naquele dia um calor impróprio, quase infernal. O mormaço quase parecia sufocar as pessoas e as pássaros ficavam de bico aberto à procura de alguma sombra pra se confortar. Isobella havia levado as meninas para uma agradável aula no pomar de baixo do pé de abacate.

— ... Frutificamos-nos em constante transformação do que já se é, sem deixar de ser-se. O que fui ontem, já hoje não posso ser. Reparem na maravilhosa transmutação da borboleta. Ela realiza em toda a sua beleza de ser o ato de se mutar, de mostrar ao mundo quem realmente estava ali dentro daquelas camadas de casca e pele. Muito se engana quem pensa que a borboleta radicalmente apresenta outra coisa além do que já era. Remontando-se, ela é o que é desde que nasce, mas suas asas estavam presas a espera do perfeito momento pra enfim se revelar. Não é poético que a nossa bruxa interna esteja exatamente assim dentro de nós?

— Então quer dizer que não adianta tentarmos de toda forma despertar a nossa mulher selvagem, que no momento exato ela aparecerá? —, Lilly perguntou.

— Todas nós precisamos ter a consciência de que ela está aqui, Lilly. Se esta consciência não nos for dada morremos como lagartas antes de podermos nos transformar em mariposas... Ou borboletas. Só existe pra gente aquilo que a gente sabe. Se na nossa subjetividade não entendemos que ela habita em nossa interior então permaneceremos não a conhecendo. Depois que temos esta consciência, basta apenas esperar o momento certo. O destino vai se encarregar de desencadear processos que por suas vezes nos ajudarão a entender que a hora chegou. Parece que a gente sabe a hora. Sabem? É intuitivo. É como se um mar estivesse morto dentro de nós e de repente um tsunami acaba por o despertar. A gente sente o embalo, o abalo, o badalo...

Depois da aula as meninas foram a biblioteca, mas Vick estava demasiadamente inquieta e Juliana declamava em maravilhosa declamação um poema:

...Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse...

— Carlos Drummond de Andrade. —, falou mia que estava deitada ao chão tentando ler algum livro. — Eu costumava ler quando estava embebedada de tédio da mansão. Ele foi um gênio.

— Era tão entediante assim viver na mansão? —, Juliana perguntou.

— Insuportável! Tinha dias que parecia que as paredes estavam me engolindo. Sabe? Parece que os móveis estavam se aproximando... Me sufocando e... Era uma claustrofobia. Mas era uma claustrofobia de solidão, tédio e mesmices.

— Nossa. —, Megumi falou sentando-se ao lado da amiga com um livro de mão. — O que você está lendo?

Razão e sensibilidade e você?

— Nossa que romântico. —, sorriu de maneira fofa. — Eu estou lendo O Livro do Travesseiro.

— Sério? —, Juliana deu um pulo. — Eu sempre quis ler essa joia preciosa da literatura japonesa! —, se aproximou quase faltando engolir o livro. Sem querer acabou empurrando a amiga que quase derrubou o livro lá em baixo. Elas estavam no décimo segundo andar da biblioteca.

Witchcraft: A Saga De AshântiOnde histórias criam vida. Descubra agora