Da Lua no céu um conjunto de lindas gravuras. Sou uma miniatura perante a grandeza da grande beleza lunar. Compreendo agora porque Vitória Régia se apaixonou profundamente por Jaci. Quem não se sente completamente atraído pelo olhar fascinante da tão linda Jaci? Não tenho mobilidade e nem consigo sintetizar o espaço quando estou diante dela. Quero apenas estar comprometido com a viciante mania de para sempre te desejar. Sou uma covarde por não tentar voar até você. Eu poderia possuir asas, ser um pássaro ou ter um avião. É certo que eu não sei pilotar e nem se quer já toquei em um volante, mas eu criaria estratégias antes não feitas pelo supremo prazer da sua face sublime tocar. A brisa na minha cara, alma em sucção e tu ultrajante a me banhar com tua luz. Nada pode lhe transpor ou rebaixar, porque tu és intransponível. Pavimenta-me estradas para que eu possa chegar até a ti. Sobre teu corpo estão duas faces a porfiar, em tuas mãos o adubo brilhoso que deixas derramar para nos iluminar, sobre tua cabeça a maior de todas as batalhas: a de honrar o poder feminino; tu nos instruí e assim instituídos são os nossos preceitos; por liminares e liminares tu nos dá a ênfase de viver, tecelã imprevisível da vida.
Eclipsia macetou óleo de sésamo e extrato de calêndula, que Juliana e Mia haviam colhido na noite anterior, fazendo um pasta concentrada que usou para passar na cara de todas as alunas. Nequaat havia espalhados diversos círculos de pedra por todo o chão e Sol estava bem no meio do campo dentro daquela estufa.
Eclipsia deu a todas elas uma xícara cheia de chá contendo anis estrelado e folhas de erva-doce. As meninas beberam sem demora a emulsão reveladora de tom avermelhado e em seguida umectou a mão de suas alunas com óleo de Cártamo proferindo um encantamento de abertura da aura.
A lua estava exatamente onde ela deveria estar e Sol estava entubada em um estufa lunar feita de ametistas, safiras e gemas diversas, que estava especada no centro daquele campo aberto. Nequaat a sua velha mandinga recitava em murmúrios, ela estava literalmente nervosa e desacreditada que isto poderia funcionar. Murmuro teu nome sem cessar, evoco tua presença sem parar e danço para ti sem descansar.
— Se você continuar incrédula acabará quebrando a conexão de energias entre nós e o supremo. —, Eclipsia disse acertando os últimos detalhes da fogueira.
— Não tenho culpa que a minha perspectiva não seja nada maleável ou influenciável. —, respondeu em discordância andando de um lado para o outro. — Tenho medo das muitas possibilidades e no que isso possa vir a acarretar.
— No rufar dos tambores vamos cutucar a chaga mortal desta besta. Devemos ser algozes e não poderá haver nada além de vitória, mesmo que momentânea. Não quero derrotas ou empates e nem mesmo temos o luxo de ter estas opções como escolhas, é matar ou morrer, sobreviver. Estamos todos na Berlinda e o panorama que nos encontramos é o de desesperança. Não há tempo para refutar, Nequaat. Não há tempo pra contradições.
— Meu temor é que tudo venha se repetir como no passado e nossos esforços venham a ser falhos. Toda a melancolia desta situação me tira a noção de espaço e tempo. Eu não sei mais que dia foi ontem e que dia eu hoje. Eu já senti este desconforto antes, muitas vezes quando eu estava no circo. Você sente como se os dias e as noites não existissem mais e de uma maneira surpreendente e estranha as horas parecem todas as mesmas. Não há um limite. Estamos em cerco, enclausuradas e isso me faz pensar que toda a nossa força é insignificante. Isso é um ensaio para o fracasso, um amortecimento para a queda, nosso atestado de óbito. Não quero imaginar no que nossa derrota pode desencadear.
— É um momentos de poda e renovação. Sendo bem franca, eu acho que podemos sim vencer está batalha. Pelo menos esta.
— Se tivermos sorte, sim. —, respondeu.
— Não quero esnobar a sorte, pois sei que precisaremos dela, mas dessa vez vamos contar com as nossas capacidades e propriedades mágicas. Elas é quem mostrarão que nós podemos. —, reafirmou sua postura sólida perante a esta fatídica situação.
— Por temos que fazer círculos? —, Mia perguntou querendo saber o motivo de tantos círculos no chão?
— Muita gente pensa que os círculos existem para afastar entidades inimigas, mas este pensamento está totalmente errado. —, Eclipsia falou se aproximando. — O círculo também não está ligado com invocação, mas sim com manter o poder do lado de dentro. O círculo está entre os mundos, ou seja, neste plano astral que habitamos e no domínio dos seres do outro plano, inclusive nossos deuses. Ele deve ser feito através da nossa Athame. —, disse ela mostrando a faca presa à sua bota. — Você ainda vai aprender isso no ano que vem quando se engajar verdadeiramente no ano letivo.
Por todo o lado voavam faíscas em calorosas lágrimas de fogaréu a cintilar. O incêndio contido, fogo do conselho, flamejava um painel de sonhos e pinturas, esfumaçando a noite. Fumaça frenética deitando em cansaço nas fronteiras do horizonte, doloroso presságio de luto. Um inferno orgíaco tomado pela inflamação das labaredas fantásticas. Coração em baticum, o bramido do vento a dançar, árvores ígneas, paisagem rubro-negra. Enxofre. Leque chamas esplêndidas que condiziam a luz que lumiava a inexpressiva e bárbara noite de batalha em Lua Clara.
Reza, reza, reza e ora
É o samba, é o samba, é samba
É um canto, um conto, um canto de parede calada
É um conto, uma fabula, um conto que eu te conto
Sostras multíparas, de tristes labutas, tão ludibriadas cirandavam de mãos dadas enquanto as mais importantes ficavam o centro absorvendo a energia incandescente que vinham do fogo que queimava a lenha. Lenha esta que virava palha, paía de fogo, fofo de palha, palha essa que era esperança, esperança de ter fé, fé de acreditar, acreditar por acreditar, por que já não vos creio em mais nada. Saracoteios de quadris alvoroçados totalmente entregues ao fogo, servilismo remanescente, risadas selvagens de seriemas e saracuras. Gritos vibratórios, animação barulhenta, corpos a requebrar em frenesi, subordinação ao calor.
— Tolice! Vocês não podem nunca me derrotar. —, despertou o ser imundo e capenga. Lavarinto, jungido aos canzis, ruminava, filosoficamente, com sua boca ungida pelo escatio, a filosofia estoica. — Serão todas esquartejadas pela minha ira. Serão decepadas pelas minhas mãos. Serão decapitadas pelos meus pés. Eu vou estrebuchar vocês e dilacerar seus miolos e dos seus corações dilacerados eu me alimentarei. —, ruiu em asco palavras chochas.
Elas dançavam se despejando de corpo em alma enquanto Mãe Suspiriorum a elas fortalecia. O clamor assim como um trovão enfurnado. Estavam fatigadas mas não poderia haver desistência jamais, está não era uma opção. A alimária continuava a bostejar, mas elas ignoravam qualquer tentativa de investida.
— Deixem de lamproa, suas putas! Vocês serão queimadas na fogueira que prepararam pra me queimar, suas bruxas! Vão comer a terra que me fizeram engolir, suas mulheres! —, alardeava corrompendo absolutamente toda a fonética para requintar o insulto. — BASTARDAS INGLÓRIAS! —, falou com boca rebocada de imundícias viscerais e cheia de chorume. Sol estava irreconhecível, naquela aparência, um teratoma, dermóide e horrível.
Pés em brasa queimando, pressentimentos mofinos
Mãos em ardência de fogo a despelar, planos não elaborados
Faces a chamejar, tristeza inveterada e corpos em fulgor
Soledade abominável a flamear, pingo de sangue e gota de suor
— Vocês são a causa do pecado, armas do diabo. De feiras e meretrizes são todas baixas e sujas! —, retumbava a gritaria uníssona e não unânime. Os olhos glaucos riam, na verdade sorriam, cantando vitória antes da hora; tonta criatura armando uma esparrela para si mesma.
A cena era extraordinária e Sol parecia, influída, pávida e pútrida e certamente estava infestada de vermes e de toda a imundície viscosa. A menina arquejava corrompida por furúnculos em toda a sua pele e ela esmaecia em um estado de alma furulento. O ambiente era putrefato tomado pelo lodo constante da melancolia. Toda a puridade havia se extirpado e só restava a maligna sensação do desamparo. Tudo era tão hostil. Rugas sublinhavam o rosto desolado de Sol, que era de um arcaísmo ancestral assustador. É intrigante e purulento.
Existe uma luz tão intensa! Ofuscada pela triste tristeza de não poder brilhar. Derrama prata derretida sobre o mar o purifica. Uma árvore amiga a me abraçar. E nuvens como dossel pelo céu a bailar. Com tanto afeto assim. Estou definitivamente de braços abertos para o céu enquanto a lua a mim consola. A árvore estrondosa passou todo o verão injetando sol nas veias e à noitinha, a seiva branca escorria em relances uma lua de mel escandalosa.
Diante do imbróglio, a possuída a arcar, Eclipsia se posicionou no centro do círculo menor; que era formado pelas filhas de todas as grandezas; que estava dentro da ciranda, e ficou de cócoras como se estivesse à espera de um parto. —Ninguém solta a mão de ninguém —, disse ela sentindo as contratações.
Reza, reza, reza e ora
É o samba, é o samba, é samba
É um canto, um conto, um canto de parede calada
É um conto, uma fabula, um conto que eu te conto
Os homens vertem em sangue pela sangria ou pelo corte de um punhal, rubra urgência a estancar no obscuro emaranhados das artérias. Pernas abertas, entranhas. O sangue aflora, como fonte no côncavo do corpo, encharcando o cetim num exorbitante festival vermelho. Olho d'agua escarlate escorrendo como como um rio das pernas de Eclipsia que com toda a sua força gritou: — Morte e Vida Uterina! — Escorrendo sobre as coxas, benzendo o leito, manso o sangue a sangrar sem grito que anuncia a ciranda de vitória da fêmea. — O sangue dos homens corre para a morte, mas o nosso corre para a vida inteligível. —, todas as vértebras da sua coluna, a sua costela e o quadril se deformavam para parir a terra virgem. Um novo rio se formava, da vulva da noite estrelada, o Rio Vulvar. — Em meio à faina, meio lancetada da batalha. Espada em riste, sem traço de clemência. Estou lubrificada pela tuas lágrimas de amor e vida. Afasto as portas de tua residência e cravo tudo rompendo a tua malha. Mas num momento em que tudo é mais tudo; como se fizesse a morte inquilina, nesse instante supremo eu fico muda e me rendo, inteira, em tua essência, oh terra que vivo.
De mãos dadas em muito concentração Adessa, Mia, Luna, Juliana, Vick, Ryoko e Megumi exclamavam um coro antigo como se o já conhecesse, mas jamais haviam o ouvido antes.
Cursum perficio
Cursum perficio
Cursum perficio
Cursum perficio
Cursum perficio
Post nubila, Phoebus
Post nubila, Phoebus
Post nubila, Phoebus
Post nubila, Phoebus
Post nubila, Phoebus
Post nubila, Phoebus
Iternum
Iternum
Iternum
A água do chão brotou para o céu e choveu trovões, mas estes relâmpagos de ácido não eram capazes do fogo apagar, muito pelo contrário, eram combustível revigorante. Todas as árvores do mundo a poesia pagã recitavam em todo a beleza da natureza. Lua, Terra e Sol alinhados perpendiculares como se fossem apenas um espreitando o tango divinal que todos agora dançavam. O luar caiu exatamente onde ele deveria cair e emitiu com toda força a luz que deveria ser emitida.
— Lua distante às vezes é assim, como se triste estivesse. Deixa no pensamento um deserto inóspito por onde a serpente escaldante se rasteja. É tudo ímpio e impuro durante a queda do sol e uma saudade nos escurece, mas eu sempre fui mais apaixonada pela premissa da escuridão do que pela intenção da claridade que nos ilumina.
Ashânti finalmente se libertou da cápsula de pedras que o prendia e pelo ar se ergue tangendo ataque desferido contra suas inimigas, mas no momento exato da apunhalada os olhos de Juliana se abriram e uma forte vontade dominou sua essência. Eles eram completamente brancos e brandos, ausentes de pupilas. A menina sobre as costas de Quíron batalhou contra a criatura. O corpo de Sol foi parar a metros de distância acertando os cascalhos da derrota. Persistente se ergueu como se não tivesse acabado de levar um golpe fatal e rapidamente se recuperou atacando a filha das estrelas. Mil cóleras pelos céus. Órion sobre o dorso do touro feriu a profana entidade que novamente cedeu caindo como uma coisa gelatinosa pelo chão. Nequaat sentia tanta pena do corpo de Sol, mas ela não podia fazer nada além de concentrar energia.
— Desista assassina fracassada! Você não vai conseguir me matar como matou aquele monte de merda do seu namoradinho. —, a coisa dissimulada e cheia de perebas, descamações, marcas de sutura e pelos, latia com a boca cheia de babas e espuma; fala desqualificada.
Ryoko se mover subitamente atrás da criatura nojenta que Sol estava se tornando a arremessando para a fogueira onde uma centelha mais brilhante jogou faíscas para todo lado.
— Você de novo? Tolete de merda! Acha que pode me matar assim como o Gabriel? Está enganada. —, o ser horrendo cuspiu uma nojeira gosmenta que parecia um tumor sobre o corpo de Ryoko o imobilizando. Flores blindadas, cromadas e alvejadas se despetalavam numa cena antipática. O céu escoando como um esgoto, bueiro de possibilidades.
Horror! Credo, um câncer terrível começou a florescer no corpo da filha da noite que inutilmente tentava se teletransportar, mas o poder era nulo agora. Nos seus ouvidos ressoavam o guinchar e um farfalhar oriundos de um pesadelo do passado. Imagens em cortes mutilados, múltiplas cenas em vívidas cores vermelhas que te alienas. Folhas raspando a pele em dezenas de penas suaves, amenas e pequenas. Sobre as dunas dos pesadelos anteriores o medo te ordenas e tu foges em lotes e vagas terrenas, tentando escapar, esconder, se safar do horror que é viver todo dia a mesma coisa! Céus!! Por que a rotina? Porque há rotina.
— Estou sem energias! —, Ryoko gritou em desespero ao sentir a cancerígena a lhe comer a carne. —, Não consigo absorver a matéria escura?! — A banha gordurosa a sobre a pele afável se desmanchava. O que era aquilo que falava, xingava e gritava em dialetos misteriosos? Dos buracos do corpo saiu uma tinta retinta e pinga que contaminou a menina com a mais suja virose. — Não consigo me mover de maneira nenhuma. —, imóvel também a língua ficou e sendo assim a boca calou, os lábios colou (ou colaram?) e tudo em meio a gorfos, agouros e vômitos girou, girou e girou. Olhos, gritos, putarias e pocilgas. Chiqueiro cheio de corpos gordos a varejar, a berne brotando da pele podre, fluídos e escarros. Ah! Que sensação pavorosa! Não tenho palavras pra descrever. Um rosto terrível brotou da cara de Ryoko e em falas vulgares começou a lhe caluniar em promiscuidade e carniça. No interior daquele cisto ela estava tendo que passar ao ver sua imagem em curiosas estrias a se encaracolar.
Mia correu para ajudar a amiga, mas seus pés foram amarrados pela linha invisível que Ashânti criava para amarrar suas vítimas. Sem chances de vitória, a menina não mais relutou, caindo de maxilar e tudo contra o chão. De maneira cretina toda a sua vitalidade estava sendo sugada e sua aparência se igualava a da mulher mais megera do mundo.
— Mia! —, Juliana entra em desespero se desconcentrando. Dores de relutância.
— Não perca o equilíbrio Juliana! —, Batheeva lhe repreendeu enquanto tentava livrar Ryoko daquela coisa viçosa que a estava a devorar. — Você é a nossa ligação com o cósmico que nos cerca, com a luz que vem do nada, se do nada tu cederes, nossa única oportunidade de Sol salvar, também cederá.
Juliana tentou se recompor, mas suas amigas pareciam estar terrivelmente afetadas. Ela parecia estar segurando a lua nas suas mãos, assim como Atlas estava a terra sustentando.
Adessa levou suas crenças para o céu segurando fortemente as missangas em sua mão. Do céu caíram os trovões da fúria de Sangô diretamente na cabeça daquela putrefação, mas Ashânti para longe empurrou a filha de Iemanjá, que foi amparada por Vick.
— Adessa? —, Juliana disse fraquejando em blefes de preocupação. Terrível perseguição.
A coisa monstruosa, que agora era parecida com todos os monstros do mundo, pisou com força no chão derrubando tudo e todos. Estava minando uma substância verde e fedida.
— Vocês fedem a mentira, depressão e solidão. Vou comer cada uma de vocês suas vacas profanas. —, falou, mas sem ser pela boca, porque a deformação já havia tomado toda a aparência normalizada que um ser poderia possuir, assumindo uma forma tão inescrepulenta que nada poderia a definir. Faces enfadonhas, gelatinosas e construídas sobre as rachaduras.
Com sua mão minando uma baba fedida segurou Juliana, mas ao se deparar com tanta inferioridade a jogou pelo chão. A menina ficou toda melecada e grudenta. Sua concentração, apesar do medo, não havia sido perdida e tudo parecia estar indo bem, até que como um arroto, a coisa palavras imundos berrou eliminando toda a conexão de Juliana com o cosmo. Fraca hesitou em desmaios e espasmos, síncope. Parecia totalmente inviável resistir ao seu furor.
— Vou aniquilar todas vocês! — disse a coisa agora maior do que era antes, mas não tão grande, babando uma secreção grudenta. Que furdunço tendencioso, pedante, chocante.
E esperança estava mesmo acabada? Todo o sangue do corpo de Eclipsia pela sua vagina ainda saía e as meninas insistiam em clamar, suplicar e chorar em todas as preces. Foi quando então a lua atingiu o ápice da lunação. Não havia mais tempo pra costurar ideias, era agir ou não agir.
— Ch'ang-O, mulher da lua, sobre mim derrama o teu poder. —, Megumi sussurrou clamando pelo seu imensurável poder ao colocar a máscara que trazia em seu Quimono.
A carne se muta no cerne da sua alma e o corpo se transforma na mais sagaz das criaturas. Que poderosa manifestação de poder que a todas expectativas extrapolava. Isobella jamais viu coisa parecida em toda a sua vida, que considerava medíocre, mas não era. Nove, nove caudas brotaram, Kurama. No interior de suas mãos Hoshi-no-tama brilhava tão forte, mas tão forte, que olhos cegava. O fogo das suas caudas brotou e tudo ela viu: a sacerdotisa, os pássaros, a kisune lutando para ser liberta da lacração da máscara, a aldeia, os pássaros, carpas vermelhas, abelhas a zunir, loucura a disputar, desapontados, apontados e encontrados. Avançou em muitos passos complexos de Kagura. Moves e morres e então nos declives da noite e nas encostas do mar as vozes prostradas em santificação rogavam beligerantes em benevolente beligerância.
Nossas palavras vão além da lua
Nossas palavras entram na sombra
O rio canta incessantemente
Escrevemos nossa viagem através da noite
Escrevemos em nossa solidão
Manuscritos de uma guerra na Lua
— Como chegou até aqui. —, ordenou em autoridade. Fogo transpassado, inflamado, transladado. A mulher selvagem dentro de Megumi estava brilhando tão forte.
— Eu estava viajando sobre a lua, por um vale ressecado e iludido, e ao longe a vi assomando de uma forma estranha sobre as areias e pedras diversas. Cadáveres antepassados emergiam da cova malfeita da última grande extinção em massa. O cheiro da vida chamou minha atenção de uma forma diferente, nada antes nunca havia demonstrado tanta vida assim para mim. Eu tentei em diversos mundos cair, mas todos estavam cheios daquela aura invisível aos meus olhos, que me repelia. Mas aqui eu senti a depressão futura dos muitos rostos tristes e solitários. Bem aqui eu senti a vulnerabilidade e então decidi aqui me estabelecer, aliás, restabelecer. A medida que eu me aproximava o medo falava através das pedras recém nascidas, mas já desgastadas pelo tratamento brutal que este planeta recebeu em seu primórdio, vetusta sobreviventes de tantos extremos. Assim que pousei sobre a base do torso rude de cascalhos e valas senti o prazer que seria viver. —, a coisa de aparência rugosa, deformado e hedionda ia dizendo com vislumbre apaixonado, enquanto a saliva ácida de sua boca era lançada pelo chão. Sua abordagem era distante de qualquer primazia e muito embora fosse uma entidade milenar sua inteligência era quase nula e totalmente disfuncional. Embora tivesse muitos poderes e fosse capaz de simular imagens cândidas nada realmente podia ser levado em consideração, pois era uma forma de vida primária, molenga, em mutação e polengosa. Era totalmente desconcertante ter de encarar a sua aparência horrível e ouvir seu discurso raso e totalmente íngreme, que era apenas uma imitação barata do desprezível.
— Terá que arcar com seus atos. —, a antiga Kyuubi bradou em uivos poéticos. — Todos os seus vitupérios são inaceitáveis e terá de pagar por cada um deles. —, deduziu a prudente voz em impaciências vagas, munida de razão. vísceras transferidas pelo ar, transmitidas pelo mar, embutidas no céu. A coisa, cada vez mais pústula, estremeceu completamente.
A luz que saia da sua esfera de energia atingiu a besta masculina com toda a claridade necessária e com as suas novas causas fez um círculo de fogo envolta dela a impedindo de se mover. Luz preenchendo toda a tela analógica da sua mente. Tudo é branco como a folha deste livro e não há palavras para serem lidas e interpretadas como aqui há. Aqui só há a ausência de som, vivacidade e imagens. Tudo o que nos restou de nós mesmo são imagens residuais urbanas, domésticas e não civilizadas. Caímos no esquecimento? Seremos então esquecidos pelos nossos sucessores? Às vezes fico pensando na calada da noite se depois de sessenta anos da minha morte eu serei apenas esquecido. Quantas pessoas estiveram nesta terra e que hoje em dia ninguém, além de seus túmulos e mausoléus sabem que elas existem. É de se lamentar a verdade que seremos esquecidos, mas é humilhante a necessidade que temos de sermos lembrados. Recordações de um tempo que não volta mais, saudades de uma época em que tudo parecia menos pior, nostalgia de um futuro que nunca existiu, e nem existirá, e mesmo assim planejamos existir. A vida é uma curta fagulha que na maioria das vezes passa tão rapidamente em branco que nem nós mesmos lembramos de nós mesmos.
Incêndio no canavial, inspiração convertida em fracasso, um disparate em carnaval. Que desejo repulsivo é este que está queimando no coração da filha de Hélios? Arfando, ela envolve suas mãos aos seios, medo da morte. Uma fumarada que se estalava cada vez mais alto no foguetório de desespero pela vida. Quadros lastimosos da seca do sertão, lares desmantelados e a mesma debanda patética de euforias. A felicidade de ter sido libertada, suprimira a tristeza de estar se dissipando no calor do Sol. Olhos ardentes que se arrojaram à angustiante sensação de desaparecer completamente dentro de si mesma, o horror da terra impura. Desarraigada do próprio corpo empalideceu estarrecendo sobre algo sólido. O canto incessante das baleias, o som do rouxinol e o coro que suas irmãs em roda entoavam. Dessorada, oca de fome, recolhendo passos ela cedeu como uma esmola sem valor, molambos entrouxados, beijos derretidos. — Eu criei o meu mundo; mas nem deus pôde fazer o homem à sua imagem e semelhança. —, recolheu-se como um travo de criador desiludido coletando suas rédeas com as mãos em aço.
O gozo ganindo, grunhindo, rugindo/fugindo. Pungia-se o remorso. Inatingível o infligido por flagelos foi atingido. Ao clarão instantâneo, Ashânti embarafustou pelas chamas, num soberbo arremesso de negação. A entidade fumegava, rugia e perdia totalmente o senso da direção espinoteando ao ouvir o idílio da sua condenação. Sobressaltou por todo o círculo como um gafanhoto prestes a perder a sanidade que jamais possuiu. O campo tresandava a aguardente e decomposição de toda maneira. Não há cabimento para a loucura da fera que agora agoniza em algazarra e pinotes pelo chão como uma larva quando está morrendo. Eclipsia quase totalmente morta se aproximou jogando vinagre de maçã por todo o corpo infecto que insistiu em continuar se debatendo e rebatendo em fuzuê. Neste contexto fortuito, o corpo se transmutava e a cada segundo tomava uma forma repugnante diferente. A ossatura era quebrada e refeita e o lábio posterior voltava a parecer, mas era suspenso novamente. Braços se estendendo, corporeidade que se alongava, lesões de violácea, um borralho na frente da cara inatingível. A coisa molenga, já derrabada, cabeceando, fleumaticamente, se desfazia descadeirada em torceduras pelo compáscuo.
Lua levita sobre a terra e se você se desequilibrar as nuvens amenizam sua queda. E abaixo delas fico eu para evitar novas crateras e seu belo rosto.
Sol gritou como um mugido e em seguida vomitou em arremessos e rajadas a mais podre de todas as substâncias já vista no mundo. Sua região pélvica e ventre se moviam como uma serpente em acrobacias ridículas, seu púbis vibrava em contágio e sua pele perdia e recuperava a aparência pústula, e então depois de tanta coisa estranha que essa menina fez com o corpo as duas vidas se separaram num impacto a todas derrubou e fez o chão tremer; gritos em agouros e afoitos emborcados.
Vida despachada, morte indomável, violência repentina do coração ingênuo. Amarguras de um tempo que já se foi. Estou aturdida e de nada me lembro. Pensando em dias passados, forcejava, debalde, tentando reconstruir minhas memórias que se foram. Estou triste porque de nada tenho concepção e a nada correspondo. Que sou agora depois de tudo? Uma fotografia desbotada? Uma guitarra desafinada? Um piano barato? Uma artéria entupida? Um garrancho de letra? Uma ameba? Sinto saudades da minha sadia consanguinidade, mas agora sou uma amalgama, um feto podre da mais suja endogamia, um fruto nojento do incesto do meu útero com meu ovário. Sou a mescla dos traços esmaecidos de quem eu fui antes de ser manchada pela humilhação e a fuligem que me tornei depois de ser invalidada de todas as formas. Estou aos poucos me materializando e me tornando eu mais uma vez.
E chamuscado, triunfal, no desfecho esplêndido, refugiu, com seu fardo suavíssimo, pela noite discreta a se despedaçar em milhões de pedaços que foram pelo fogo consumidos e consumados. Crises inéditas, cenas exclusivas, vidas limitadas, breves. A lua próxima de seu zênite brilhou sobre a cabeça de todas anunciando uma breve vitória. Chuva ácida, ribombar dos trovões. Pálida, anêmica e lívida: essa era a face de Sol, que de solar nada tinha, caída morta pela grama verdinha. Seus olhos eram túrgidos e vítreos. A pele era úmida de suor diabético, mas não apresentava caráter intumescido, bubônico e nem túmido. Semblante que oscila, enforcado, como um ramo frágil de uma videira seca. O triste balar de ovelhas, revivência estuante e o doloroso segredo traduzido das renúncias que a alma rasgava. Dor de espinhos a me recriminar, abandono trágico, resmungos mudos de linchamento e livramento.
Elas se aproximaram constatando o que já se era esperado. Estava completamente morta. Morte. Vick de coração arrombado decaiu em temerária passividade. Que açude impagável! Circunstância e colosso, a mão treme e o choro impossível de ser segurado. A menina estava com uma beleza murcha, pele seca como o deserto em que a serpente se rasteja, face encovada e as olheiras funéreas alastravam-se como uma máscara de detenção. Embora toda a falta de compensação, ainda banhada pela lua leitosa, aquele era um despedir recheado da dialética mais romântica já proferida. A rosa foi ferida pelos próprios espinhos. Vick passou a mão sobre aquele tristonho rosto em solidariedade consolativa.
— Não é justo que tenha de ser desta forma. —, Mia em lágrimas se derramava numa sensibilidade construtiva.
Vick relançou a vista para a paisagem desolada à sua volta e percebeu que a vida era um dilema complexo demais para ser debatido em apenas um livro de trezentas, ou quem sabe bem mais, páginas. Levou as mãos intangíveis às mãos tangíveis de sua amiga num ato afetuoso. — As lágrimas que agora choro tem gosto de culpa. Não sentirei mais esse sabor doloroso de deixar mais uma pessoa morrer em meus braços. Eu estava corrompida na miséria e me prepararam um pão duro se esmigalhava quando eu tentava com muito esforço com aquela faca sem fio o partir. Não nasci para padecer sempre na miséria se sobre minhas mãos está uma nova oportunidade de vida. É o meu dom inato. —, o fôlego da vida soprado nas narinas dos primeiros para muitos. Uma energia régua que começou por miúdos começou a se alastrar por todo o campo requerendo vida. Movimentos tesos, sincrônicos e silábicos. Uma túnica verde, turva de luvas e pontilhada de mel em manto sobre todas caiu. Vick não se sentia extremamente fraca, como na vez em que teve de tentar curar as feridas de Juliana, mas agora sentia seu poder intravenoso percorrer por seus vasos sanguíneos, artérias e bombar no coração. Bombardeio de ressurreição. — Vitalum Vitalis. —, disseram os lábios de seda antes do milagre da vida acontecer.
Ressurreta.
A morte espairecendo, horas a fio, forrando-se aos atritos amiudados, comprazendo com o recesso acolhedor da vida decidiu se retirar e toda a vida foi então esclarecida. Não havia nada pra ver ou entender além da vastidão vazia; ademais, a perfeita completude da calmaria e homogeneidade da paisagem repleta de medos nauseantes. Vitórias encalhadas nas insondáveis profundezas do meu fracasso. Esta é a minha cisma e nem mesmo o mais débil ruído de esperança reside em mim. Estou a mercê de um possível resgate que possivelmente não acontecerá. O meu martírio é estar submersa neste cruel vale interposto a qualquer tipo, por mais mínimo que fosse, de dignidade. É nítida a ausência do meu otimismo, mas como não ser pessimista se o mundo gira no sentido contrário pra você? Como posso me dissuadir de este seja meu destino se a minha abrasadora derrota já foi dada como certa? O futuro incerto me é vaga fonte de horror e imensurável pico de desespero. Vivo em um eterno escrutínio na busca da autoconsciência. Que paradoxo atordoante! Da minha terra natal foi erradicada e armaram para mim uma arapuca sem qualquer respaldo e de maneira maquiavélica a minha morte desejaram, mas entorno de mim uma gosma de proteção me deu resistência e ao invés de morrer eu fui é nasci de novo. Dizem que sou um monólito mal gerado e que eu deveria permanecer num abismo adormecido chamado esquecimento, mas eu me nego a viver nos rebordos a minguar na escuridão. Nos últimos anos tenho estado repleta de fantasias cheias de entalhes fascinantes, detalhes de idades equívocas. Não sou íntegra, sou moralmente incompatível com a moral, meu jeito de ser se difere do seu jeito de ser e provavelmente a minha presença vá desvirtuar suas incontáveis qualidades, mas nem por todas estas coisas eu mereço degenerar no lago escaldante onde estão a besta, o anticristo e o Hades. Eu mereço viver e eu sei disso. Apenas espero que a minha alucinante vontade de perseverar não seja infartada só me restando um quebrantado coração nessa contemplação excitada e espiritualizada das formas mais grosseiras da natureza arbitrária, manutenções internas.
Oh Lua no céu vem iluminar
Esboça o sorriso da noite na luz de Jaci
Oh noite misteriosa venha sobre nossas cabeças se derramar. Dádiva da glória de Jaci
Yaci Yaci, tu que és a luz que embeleza as trevas guia minha alma nesta densa escuridão
Sol foi desperta sob a guarda do Sol, a folhagem esbelta, os arbustos conformados com a condição rasteira, cipós enforcando troncos vulneráveis, plantas corcundas com copas rastejando pelo chão, curvadas, árvores deitadas sobre outras muitas árvores. Espinheiros e sucupiras, o bosque nunca esteve tão lindo. Um enxame assanhado de abelhas, um borboleteio, e um sorriso arteiro. A folha leitosa dos carurus, o ninho dos passarinhos nuelos e os cipós insidiosos enrolados como um imbuá sobre o corpo nu. Cheiro de baunilha recendente no afogo da ramalheira, galhos franzinos, afilados e trêmulos, através da penumbra, alçando-se na luz alta a sensibilidade de renascer e o Sol nascendo de novo pra um novo dia. — A natureza ignorou meus malfeitos e recriou-me vivaz, reintegrada e livre, como se eu fosse sua filha unigênito. Sou uma babugem, sou um broto novo, sou uma pessoa. Estou viva de novo! —, exclamou numa voz lacrimosa.Nde rangaba aruguá pupé ...
Xe nheengara porangeté !
Ijekanhéma! Ejemoanhé !
Oroausuba !” Xakypueri a’ang’aé
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Witchcraft: A Saga De Ashânti
FantastikSete jovens intimamente conectadas pela magia, com as mesmas dores e alegrias viverão uma desventura em busca de salvar as bruxas que ainda existem na terra. Juliana a curiosa, Sol a destemida, Vick a pacificadora, Adessa a ambiciosa, Ryoko a valent...