uma pausa para uma fábula

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Era uma vez em uma terra longínqua um belo jardim repleto de todas as flores mais belas da terra e dos mais perfeitos arbustos já visto pelo olho humano. Habitava neste jardim duas das mais belas criaturas do mundo, o Cisne e o Pavão.

Eis que um dia o Pavão estava a olhar seu reflexo em um cristalino olho d'água. Cheio de orgulho do que viu resolveu se gabar importunando um flamingo que estava próximo dizendo: — Olhe só para mim criatura desengonçada. Não sou a coisa mais esplendorosa que você já viu? —, o flamingo nada respondeu permanecendo em silêncio a admirar a beleza extravagante do Pavão. Certamente ficava chateado por ser apenas rosado enquanto o Pavão se desfrutava de todas àquelas radiantes cores. Não satisfeito o impetuoso Pavão seguiu com toda a sua pompa a perturbar o pobre Flamingo. — Veja só minha cauda. —, falou a audaciosa ave exibindo sua majestosa cauda. — O que você tem a me amostrar além deste bico encurvado e pernas finas.

O Flamingo já completamente sem paciência resolveu criar uma retórica em cima do discurso extrapolado do Pavão. — Quem você pensa que é? —, perguntou pausadamente. — Como é que podes se achar a mais bela criatura deste jardim se aqui também vive o Cisne?

O Pavão completamente ofendido resolveu rebater em muitas fúrias: — No que achas que o Cisne é superior a mim?

Levando os olhos ao centro do laguinho onde o cisne pairava em toda graça disse em meiga voz: — Veja só quanta elegância tem o Cisne. Ele desliza como uma pluma pelo lago a refletir o céu e o seu nadar é como o seu voar, ambos se confundem numa estonteante peça de ballet. Repare seu pescoço longilíneo que quando encontra um companheiro juntos formam uma romântica alusão a um coração. Que postura invejável! Nada é desproporcional, tudo está devidamente colocado sem nenhum exagero, mas sim contido em uma esbelta silhueta. Sua existência já é a própria demonstração de requinte, do bom gosto, do garbo. Suas asas uniformes são puras expressões de fineza. Agora veja como o Cisne ergue seu corpo leve para estirar seu voo. Tão elegante ele cruza os céus do Norte ao Sul levado e trazido por Afer Ventus.

O Pavão levou seu olhar altivo ao Cisne que foi de um mergulho para o voo e se encheu de inveja dizendo: — O cisne não pode ser mais belo que eu! Veja todas as minhas cores. —, rabujos e esbravejos constrangedores.

— Às vezes o excesso de detalhes leva a cafonice. O Cisne com toda a sua sutileza no portar, delicadeza no andar e tenuidade ao dominar os céus não é só mais belo, mas também mais competente que você, caro amigo. Você com este corpo cheio de adornos não consegue se quer pairar pelo azul quão dirá levitar de maneira tão singela sobre a superfície fina da água. —, concluiu com muito gosto. Cansado e vendo que o poente já era uma realidade o Flamingo se retirou de cena deixando o desaforado Pavão sozinho a se observar. Insatisfeito com a dedução do petulante Flamingo, o pomposo decidiu provar para si mesmo o quanto era capaz. Depois de algumas tentativas fracassadas de voo ele resolveu tentar boiar sobre o lago. Que desastre! Tragédia anunciada. O atrevido deu um voo pesado até o centro do lago pousando em poses sobre o espelho d'agua, todavia, sua glória durou por menos de milésimos de segundo, seu corpo pesado afundou como pedra e antes mesmo que pudesse resistir ou entrar em luta, se desesperou enchendo os pulmões de água. Subitamente adveio outro assomo daquele medo agudo da inferioridade. Se afobou assim padecendo para sempre nas profundezas tumulares e na miséria da cobiça.

Moral da história I: Jamais seja levado pelos seus impulsos narcisistas.

Moral da história II: Nunca caia na lábia tentadora de um desafio se este não te cabe.

Moral da história III: Não pule em lagos que você não tem conhecimento da profundidade, você pode morrer afogado(a).

Witchcraft: A Saga De AshântiOnde histórias criam vida. Descubra agora