🏵️ A N T A L O G I A 🏵️

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Dim Dom 

— Quem poderá ser? —, Cíntia que estava costurando uma calça rasgada de Jake perguntou a Juliana que estava de pé lavando as louças com uma cara de quem não queria estar ali.

— Não sei mãe... Vou atender. —, respondeu.

Na pressa Juliana deixou a torneira aberta; a água que dela jorrava ia de encontro com a xícara suja de pudim que estava aos avessos pela pia de metal, gotículas implicantes começaram a perturbar a mulher que tentava acertar o ponto com a agulha torta. Lastimante. A menina voltou com a cara mais amarela que o sol e com as pernas tão frágeis como vara fina da bambu.

— Que foi garota? Parece que perdeu todo o sangue do corpo. —, a mãe disse levantando-se assustada sem perceber que deixou a calça e a agulha caírem pelo chão. A agulha rolou assoalho a fora até entrar numa fresta por entre os tacos de madeira que cobriam todo piso da cozinha.

— É a polícia. —, Juliana disse tentando não gaguejar, o que parecia algo bem difícil.

— Juliana?! O que você fez dessa vez. —, Cíntia quase rosnava como um cão raivoso. Juliana só fez ficar quieta.

...

— Vocês não podem estar falando sério? Minha filha não tem nada haver com isso. —, a mulher esbravejava incrédula. — Em nada configura que a menina tenha relação com isso só porque esteve na pista da skate naquela tarde. Trata-se de um equívoco.

— Senhora, mantenha a compostura ou será necessário prendê-la por desacato. — O homem mais calvo disse.

— Acha que vocês podem vir na minha casa querendo tirar pergintras de uma maneira abusiva, me coagindo a falar sobre algo que eu não sei, já quase constatando uma acusação sobre uma adolescente, isso sem a presença de um advogado, só porque sou uma mulher, mãe solteira, preta e pobre? Está enganado se pensa que eu não conheço meus direitos. Tomem vocês compostura ou eu irei acionar o órgão de defesa pública por abuso de autoridade. Não estamos mais nos velhos tempos meninos.

Juliana observava tudo através da fresta da porta entre a sala de costura e a sala de estar onde sua mãe enfrentava bravamente aqueles policiais. Desejava tanto ter toda a coragem de sua mãe, mas não tinha, ainda. Ela peitava aqueles homens com tanta autoridade como eles e não temia por represálias. Juliana a admirava muito. Depois de quase uma hora aqueles homens fardados foram embora e elas se sentaram pra conversar.

— Estão achando que você estava com Robson quando ele morreu e abandonou o local ignorando os eventos. O que você tem pra me falar sobre isso? —, Cíntia questionou com muita seriedade na voz olhando fixamente para a cara amarelada da filha sentada bem a sua frente.

Juliana tomou coragem e num suspiro impetuoso respondeu: — Matei o Robson mãe. Essa é a verdade. Fui que matei ele. —, e logo depois tapou a boca com as mãos. Sabia da besteira que havia acabado se cometer, novamente por ser tão impulsiva. De toda ela precisava mesmo dizer aquilo, e não apenas precisava como queria. Mas se havia outra coisa que Juliana precisava aprender, essa coisa era controlar seus ânimos.

Cíntia gargalhou arqueando a sobrancelha, porém Juliana a encarava com olhos sérios e temerosos. Um clima de estranheza se instalou naquela sala, mesmo o vento agora era nulo e só se ouvia a buzina dos carros.

— Cai fora garota. Sei que você está assustada com tudo isso, mas eles não vão te obrigar a falar nada que queiram que você fale. Não precisa se sentir se pressionada. Sei que eles estão dizendo que você estava usando drogas com eles mas...

Witchcraft: A Saga De AshântiOnde histórias criam vida. Descubra agora