∆ m e l o d i a s • i n f e r n a i s ∆

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A lua dedilha a harpa e
Cada osso do meu corpo se quebra
Sinto uma dor terrível
Porque ela insiste em me matar
Com esta melodia infernal ?


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— O ano é 8 d.c., Metamorfoses já era um Best seller nas ruas de Atenas. Do famosíssimo poeta pisciano, Ovídio. Todos queriam ler sua obra, uma espécie de enciclopédia da mitologia grega, que encantava as famílias atenienses em momentos de lazer. Em meio a tantos poemas épicos está a história de Medusa que dizia, não exatamente, assim: E era uma vez uma bela mulher de cabelos muito bonitos, sacerdotisa dos templos de Atena, a deusa justa da sabedoria. Esta era cortejada por todos os homens da cidade, ela por sua vez, não fazia questão, pois não se sentia atraída por nenhum. Ficou conhecida como esnobe. Em um belo, ensolarado e caloroso dia, em que os pássaros cantavam exaltando o lirismo da lira de Orpheu, Posseidon, deus dos mares, desejou fazer sexo com Medusa, porque ela era a mais bela jovem de Atenas. Ela porém, não sentia-se disposta, mas como deus e soberano sobre os homens e principalmente sobre as mulheres, Posseidon não respeitou a decisão de Medusa. O tirano estuprou a jovem que ferida e violada buscou abrigo com sua matriarca, Atena, a deusa justa da sabedoria. Supostamente enciumada há tempos pela beleza de sua sacerdotisa e cortejos que recebia, a deusa justa da sabedoria, decidiu que transformar a pupila em uma fera horrenda que possuía o poder de transformar qualquer homem em pedra, era mais justo, afinal assim, ela nunca mais receberia um cortejo indesejado e tão pouco seria estuprada novamente. Medusa horrorizada com sua condição, isolou-se em uma caverna próxima a ilha Santorini. Não bastasse toda dor já vivida, Perseu, um semideus que queria provar sua masculinidade perante os deuses, decidiu que queria matá-la. Com ajuda da impetuosa deusa justa da sabedoria, Atena, assim fez e exibiu sua cabeça em praça pública, fazendo justiça a todos aqueles que um dia Medusa partiu o coração. A cabeça? Foi dada a Atena, a deusa justa da sabedoria, que a colocou em seu escudo. E esta é a história do era uma vez, em um tempo não muito distante onde uma mulher foi estuprada por um patriarca sem alternativas de defesa, culpada pelo estupro, atormentada em sua desgraça por um machista em potencial, morta e por fim exposta como símbolo de um capricho infantil. Vítima do patriarcado, machismo e da rivalidade feminina. Hoje Poseidon  é admirado como deus supremo dos mares, Perseu um herói épico, Atena a deusa justa da sabedoria e Medusa? Ah sim. Medusa é a vilã desta história, um monstro. Até quando mulheres vítimas de abuso sexual serão vilãnizadas? Até quando?

Todas as bruxas presentes se levantaram para aplaudir a apresentação de Sol. A representante do conselho regional de bruxaria tradicional e moderna Hilda Netphis estava ali, ovacionando Sol em seu discurso sobre a cultura do estupro, tema escolhido para ser debatido durante a semana da consciência social no festival da história da bruxaria.

— Parabéns minha querida. —, Hilda, a bruxa representante do conselho de história regional, disse saudando Sol com um abraço caloroso. — Seremos muito bem representadas este ano. Seu discurso foi extremamente assertivo e contundente, o argumento foi muito bem desenvolvido e apresentado e a sua capacidade de dialogar com o público através da sua linguagem corporal é fascinante. Novamente, meus parabéns!

Lilly estava se mordendo de ódio. O sucesso de Sol realmente a incomodava. Fora a única pessoa que não se levantou e aplaudiu, mesmo Danilo e Safira assim fizeram.

— Relaxa um pouco Lilly. —, Danilo disse enquanto trançava-lhe o cabelo.

— Relaxar? Se toca Danilo! Desde que essa garota estúpida chegou aqui, ela está empenhada em me destruir e em fazer da minha vida um inferno: ela ficou com o meu namorado, me humilhou em um baile aonde eu sempre fui louvada e venceu por trapaça e conjuração as finais de vôlei pras olimpíadas e agora está discursando no meu lugar. O lugar que eu sempre discursei. Ela nem deve ter um curso de oratória. Se poupe, me poupe e nos poupe.

Witchcraft: A Saga De AshântiOnde histórias criam vida. Descubra agora