♡ conchas e confissões ♡

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Ó Afrodite sem-morte, do manto florido ofuscante,
filha de Zeus, tecelã de ardis,
suplico-te, ó dominadora,
não me abatas de angustias e dores

mas vem a mim. Como da outra vez
em que de longe minha voz
escutastes, e do pai deixada a casa,
no áureo coche viestes.

Soberbos velozes pássaros
sobre a negra terra te trouxeram,
rápidas asas movendo
pelo ar celeste.

E eis que chegaram. E tu, Bendita,
sorridente do rosto imortal
indagas do que novamente sofro
e a que te invoco outra vez,

e o que mais desejo
que na alma inquieta se cumpra.
"A quem queres que dobre a teu amor,
ó Safo? Quem te ofende?

Aquela que ora foge, logo te seguirá,
a que favores recusa, os oferecerá,
e se não ama, em breve,
contravontade amará."

Vem pois a mim, e agora,
dissolve o duro tormento,
ocorra o que anseia minh'alma,
alia-te a mim, Afrodite!

- Ode a Afrodite, por Safos de Lebos

— O que definitivamente é belo? — a menina, sentada na cadeira de balanço, a se balançar entediada a comtemplar  mais bela boneca de porcelana, cuidadosamente posicionada no centro de sua coleção. O verdadeiro destaque a ser admirado. Quando batia-se os olhos naquela majestosa estante, logo a via, não por ser a maior, ou a porque estava no meio, pelo contrário, havia ganhado esta posição privilegiada justamente por ser a mais bonita, mais bem feita e a que possuía as vestes mais caras e bem feitas. 

— Para os gregos, — o belo homem, de barba aparada e bigode vitoriano disse sentando-se no tapete, bem próximo à cadeira inquieta. Naquela posição podia ver os sapatinhos de couro reluzindo nos pequeninos e gordinhos pés da menina, sua meia, que cheirava a amaciante e era delicadamente rendada, — a beleza era interpretada como um ativo, como se fosse uma realidade independente, intimamente ligado com divino, com o transcender, como um caráter justo. 

— Por isso os nobres gastavam seu tempo admirando os atletas? —, ríspida perguntou. — Porque seus corpos esculpidos, como se fossem estátuas de mármore, eram extremamente atrativos e por isso divinos? Aqueles peitorais sarados, panturrilhas saltadas e abdomens divididos em vários gomos...

— Sim, — ele respondeu, — um corpo considerado belo para os gregos era sinônimo de uma mente brilhante. Kaloskagathos! — Deu um grito empolgado. — Era o termo usado pra se referir ao que era bonito de se ver... Mas, para os filósofos, as coisas eram um pouco diferentes...

A menina lançou um olhar atento para o rosto daquele rapaz. Ele parecia ser mais sábio do que o tomava. — Fale-me mais... —, pediu enquanto se ajeitava na cadeira. 

— Para Sócrates, por exemplo, o belo era visto como o útil, isto é, a beleza não estava associada a aparência de um objeto ou ser, mas sim em quão proveitoso aquilo posso ser. —, mexia as mãos de maneira desesperada como um típico professor. — Veja bem, o que estou lhe dizendo é que Sócrates interpretava a beleza como uma concordância observada pelos olhos e ouvidos do ser humano, sendo permissível através dos sentidos sensoriais. Tem um caráter mais prático. —, acendeu o cigarro, que esfumaçou todo o quarto e depois de dar um trago profundo e soltar gentilmente a fumaça em círculos, encantando a garota, prosseguiu: — Já para Platão, em o "Mito da Caverna", traz uma interessante alegoria, bem clara por sinal, de como a construção da nossa percepção é afetada por um subjetivismo de um inconsciente coletivo, ou seja, é fortemente influenciada pelo meio que vivemos... aliás, pelo meio que nos aprisiona, senhorita Mia. 

Witchcraft: A Saga De AshântiOnde histórias criam vida. Descubra agora