🏔️ Estação das Brumas 🏔️

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A neblina corrompe minha alma e perco meus versos pelo caminho. Tento alcançar o vento, a minha gênese, no entanto, o nevoeiro impede-me de ver. Medos permanecem e permeiam por minhas veias, torno-me minha maior inimiga, a minha nêmesis pessoal. Minha fúria é meu suprassumo, magnum opus, minha fraqueza o meu apocalipse. O sentidos me alienam, palavras deixadas pra trás. Olhares lascivos. Forasteira divergente, enganada e desprovida de corrupção. Cada molécula atômica anseia pelo êxodo da minha coragem. Atônita avistei o infinito, muito triste era o céu quando o sol o deixava. Em meio a um oceano de estrelas rimei alguns versos viajando com meus olhos fechados. De longe pude ver o Arco íris no céu escuro, em plenitude alguns rasguei sonhos por mim enterrados, tentei segurar um pouquinho do vento e inocente persegui estrelas. Às trevas da noite então me rendi e pude entender que a noite também era parte de mim. Depois de tentar, tentar, tentar e tentar muitas vezes, o sol do conforto novamente nasceu sobre minhas costas. As trevas não eram mais eternas pra mim, a noite e o dia tornaram-se apenas um e daquele momento em diante, vivi.

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Sol acordou meio zonza, meio tonta e totalmente frágil. Sentou-se sobre a cama massageando seu coro cabeludo numa tentativa flácida de entender aonde exatamente ela estava. O brilho da luz entrava tímido pelas frestas da janela, teias de aranha em todos os cantos, o cheiro de camomila que estava inebriando cada centímetro daquele lugar e uma atmosfera única. Seu olhar não reconhecia nada do que via e de segundos em segundos calafrios indecentes a incomodava.

Tentou se levantar, mas sua perna esquerda estava ferida demais pra que pudesse se sustentar sem apoio. Imediatamente se lembrou do bode que havia a atacado durante sua travessia pelo bosque. Tinha muita sorte de estar viva. De um jeito desengonçado conseguiu se levantar. Caminhou arrastando-se para poder observar através da janela embaçada o campo florido de lavanda mais a frente e algumas roupas dependuradas em um varal de bambu. Eram as suas roupas. O vento estava gentilmente as balançando. Olhou para si mesma e notou estar vestindo apenas uma bata branca.

Caminhou manca e precisando se agarrando pelas paredes e nas quinas dos móveis velhos e empoeirados daquela misteriosa casa para não acabar caindo. Será que estava em outra tormenta? Será que estava em outro surto causado pelo bosque? Cogitou estar presa em um looping de sonhos novamente. Desconhecia aquele lugar ou pelo menos não se lembrava. Com muito esforço, chegou finalmente a cozinha. Se escorou quase derrubando um armário entupido de caldeirões. Haviam tantos, mas tantos, tantos que não poderia contar. Velhos, novos, grandes, pequenos, de ferro, barro, bronze, cobre, inox e aço. Ficou maravilhada. Uma grande cristaleira barroca ficava mais ao fundo e estava abarrotada de pedras e potes de poções mágicas. Um bule gritava como louco sobre o fogão a lenha mais a esquerda. Rapidamente pegou o pano de prato que estava jogado na mesa, derrubando o pote de mel que por sorte estava fechado, pegou o bule e com pressa colocou-o sobre a pia. Levantou o pote, tomando o minucioso cuidado para não parecer que fora derrubado. Suspirou encostando-se à parede de tijolos de barro. Não se lembrava de muita coisa. Como havia ido parar ali? Se perguntava demasiadamente.

Permitiu que seus olhos a guiassem em direção a porta para que pudesse perceber os encantos ao redor. Ao longe havia um rio de águas pluviais e e uma ponte feita com o tronco de uma arvore outrora encantadora. O horizonte a fascinava de maneira entorpecente. Virou-se e por descuido esbarrou com mulher alta de cabelos ruivos segurando uma cesta cheia de roupas. 

— A mochila está sobre a mesa de cabeceira ao lado da cama que lhe preparei. —, disse colocando a cesta sobre a mesa.

— Quem é você? —, Sol perguntou a seguindo.

— Pode me chamar de Luna. —, respondeu transbordando em empatia.

— Como eu vim parar aqui?

Witchcraft: A Saga De AshântiOnde histórias criam vida. Descubra agora