uma cena de ação sem roteiros

348 35 6
                                    

A imensidão me abraça, não tem olhos, expressão ou semblante. A sua mão me amassa, não tem lábios, sorriso ou dentes. Sua forma devassa sem face, rosto e cara. Súbita epopeia e loucura escassa. Com seus braços envolve meu corpo e desfaleço. Minha percepção vagueia cala, meu olhar devaneia e não há mais cotidiano, rotina e tumulto. E questiono por fim: Será meu fim? Nos braços da imensidão meu corpo fica mole que nem pedra e duro que nem água. Tenho bebido água de alecrim, pois preciso rejuvenescer.

Poderosa, bruxa e controlada. Sol passou pela porta daquela taverna com um olhar sanguinário e um sorrisinho cínico.

— Em que podemos ajudar? —, Genevieve, perguntou rapidamente ao sentir a poderosa presença. Ela sabia que algo não estava certo.

— Sol?? —, Pipin se assustou ao ver aqueles olhos derramando o sangue da fornicação. — O que tá rolando contigo, menina?

— Suas cabeças vão me ajudar bastante. —, em mil vozes sedentas gritou a romper barricadas.

Com apenas um olhar Sol arrancou a cabeça de Genevieve e de quebra ainda esmagou os miolos de um lenhador qualquer que estava tomando café na bancada. Pipin alumbrado tentou fugir, mas a impiedosa o paralisou apenas com o simples movimento dos dedos. Em muito agonia o menino não conseguia dar um passo se quer e por mais força que fizesse tudo que ele conseguiria era colocar o intestino todo para fora. Não somente ele estava paralisado, mas também todas as pessoas dentro daquele recinto. Enquanto Sol, ávida devorava o corpo de Genevive todos horrorizados assistiam a cena em pavor e degradação. O suor que na testa escorre, a palpitação do coração, a lágrima involuntária. E assim como ela entrou saiu: em toda a glória, agora porém mais saciada.

A Vila do El Dorado, terra de muito sol e luz agora afogada em um cenário pós apocalíptico estava. O céu era vermelho e demônios caiam em conjunto como as gotas de chuva serôdia; uma chuva de dor e prazer, masoquismo; a enxurrada era do sangue de muitas vítimas: mães, filhas e avós que tiveram de ter suas vidas ceifadas pra que as próximas mães, filhas e avós tivessem o mínimo pra sobreviver em decência. Ashânti estava vivo como nunca, borbulhando sangue em suas veias imundas e tudo tem e deseja mais, muito mais. Aquela sensação de viver era tão inexplicável. Não dá pra pra explicar o que é morrer, mas se tem uma ideia disso, já viver é algo tão naturalmente grandioso que não poderia haver palavras pra descrever o que é estar viva.

Caminhando em sua impunidade, irredutível a entidade e corpo incubador por onde é que passavam era a infelicidade que brotava. Casas se desmoronavam, terremotos equatoriais e os poucos sobreviventes em lepra e peste bubônica pereciam se enrolando em cercas de arames farpados. Os gritos de dor e deformação. Uma nuvem gigantesca de gafanhotos foi enviada por Pazuzo, a pedido de Eclipsia, pra conter a fera munida até que pudesse chegar quem se esperado chegar, mas de cada um dos insetos eles se alimentaram. Seu estômago não tinha fundo, era um buraco para a imensidão e tudo que visse iria comer, era exatamente como Otesánek. No caminho encontrou uma fazendo de cabras e ovelhas e cada uma delas devorou, deixou por último para se alimentar do chefe da casa, um majestoso Bode de vários cornos. Sangue na cara, língua, rosto lambuzado, tripas, fluídos, o líquido coagulado e a carne crua cheia de vermes a engolir. Garganta, traqueia e esôfago.

— Fique aí mesmo onde está! —, Ryoko disse chamando atenção da esfomeada criatura que estava quase terminando de se alimentar dos chifres do bode.

— Seus deuses e demônios não poderão me parar. Eles não poderão. Venha e coma da carne do diabo comigo e também beba do seu sangue, devore o colágeno de seu corno e do tutano dos seus ossos. —, a boca de Sol disse o que a boca de Ashânti queria dizer. Seu rosto estava mergulhado em tripas e sua face era corrompida pelo púrpura do sangue, sanguessuga social.

Witchcraft: A Saga De AshântiOnde histórias criam vida. Descubra agora