🔅Paisagens🔅

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Permaneço no meio do rugido
De uma onda agitada a "quebrar",
E seguro dentro de minha mão
Grãos da areia dourada -
Quão poucos!! Ainda, enquanto eles escorrem
Por entre meus dedos, lá para o fundo [da água],
Como eu lamento, como eu lamento!!
Ó, Deus! Não posso agarrá-los
Com um cinto apertado?
Ó, Deus! Não posso guardar nenhum deles
Da onda impiedosa do Tempo?
Tudo que vemos ou transparecemos,
Não é mais que um sonho dentro de um sonho?

- E. A. Poe (Sonho dentro de um sonho)

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Juliana estava remoendo por horas por quê diabos ela tinha aceitado pegar um metrô com Sol e Adessa rumo não sei para onde. Nesta altura do campeonato ela já estava querendo fugir, mas não sabia como. Talvez pular da janela, mas poderia morrer; na certa morreria. Torcia por uma parada. Sairia correndo, sem dúvidas. Ainda estava assimilando os últimos acontecimentos. Matou um cara, foi reprovada na escola, sua mãe surtou, e agora estava indo pra uma escola nova em sei lá onde. Juliana ainda relutante evitava pensar em cada coisa que havia acontecido, sua mente bagunçada não conseguia sequer encaixar a ordem dos últimos acontecimentos, tudo era um blur. As coisas ao seu redor pareciam meio desconexas e elas realmente estavam totalmente desconexas. Passado e futuro poderiam ser os mesmos se já realmente não fossem.

O metrô passou por uma espécie de túnel feito de madeira escura, Juliana jurava que se tratava de Ébano, não que isso importasse muito, mas talvez fosse muito importante. Tudo escureceu rapidamente. Seus olhos se apagaram e por milésimos de segundos viu todas as ciências existentes no mundo, um zunido ensurdecedor penetrou seus ouvidos e como num piscar de olhos o metrô saiu daquele túnel quebrando o breu que outrora invadiu seu olhar. Um sol delicado penetrou pelas janelas que antes eram tão limpas, agora estavam embaçadas pela fumaça do metrô que havia se transformado numa Maria Fumaça das antigas. —Acho que estou ficando louca... Ou deve ter sido a quebra de luz repentina. —, pensou esfregando os olhos pra ter certeza que não estava tendo uma alucinação. Na verdade há muito tempo ela já não sabia o que era real e o que não era. — Se ao menos eu tivesse trago um livro pra ler. Ah, mas eu poderia perder a paisagem lá fora. —, disse ela pensando alto. — Engraçado —, deu um risinho saudoso. — Isso parece uma paisagem saída de algum livro do Tolkien.

— Qual sua paisagem favorita? —, Adessa perguntou. Houve um silêncio. Juliana não sabia exatamente qual poderia ser sua paisagem favorita. — Não consegue imaginar uma?

— Talvez... Talvez a estrada indo pra casa da vovó no campo. Tinha um belo arco de árvores e uma cerca dominada por uma planta rasteira que pela manhã desabrochava em lindas flores de cor lilás. Sempre que ia pra casa dela ficava ansiosa por este pedaço em questão. O mais curioso é que na verdade se tratava de um curto espaço, nada que se estendesse, então eu tinha que ficar bem atenta pra não perder. Observava cada detalhe e cada vez que eu ia observava coisas diferentes. Aquela paisagem se transformava com o tempo e a cada milésimo de segundo se tornava ainda mais bela. Teve uma vez, a última vez que fomos antes se vovó falecer, eu acabei dormindo pois estava muito cansada e consequentemente eu não pude ver aquele lugar pela última vez. Quando voltamos era noite e eu apenas enxergava o breu. Isso me deixou chateada por anos.

— Nossa! —, Adessa disse olhando bem pra expressão saudosa que brotou na cara de Juliana. — Que lindo. E você Sol? Qual sua paisagem favorita?

— Uma que não existe. —, Sol respondeu enquanto amarrava os cabelos ruivos.

— Como assim? —, Adessa questionou risonha.

Witchcraft: A Saga De AshântiOnde histórias criam vida. Descubra agora