O sol brilha forte
Minha alma anseia pela manhã
Não consigo pensar no que vem agora
Padeço contemplando as cores do entardecer
Sentindo a minha doce luz ir embora
A chuva caia imperdoável lá do lado de fora daquela sala quente. As primeiras gotas cravavam sobre o solo findando a seca de inverno. A correnteza levou consigo, todas as coisas passadas e lavou de todas as almas, corrompidas pela estiagem, os conflitos internos.Os dias passavam lentos e a lentidão chateava Sol, ela odiava manhãs tediosas de domingo, tardes vazias de sextas e as noites decepcionantes de sábado. Lentamente sua percepção de mundo era minuciosamente desconstruída e tudo tinha que ser refeito aos poucos, novamente. Desde as últimas férias faltava-lhe o dom da paciência não lhe cabia e a sabedoria de esperar ela andava dispensando.
-Você é boa nisso. Você é boa nisso. Você é boa nisso... -, pensava enquanto ia matutando. - Você consegue, vamos lá... -, forçava alguma concertação. - Por que parece que essas palavras estão embaralhadas? -, quanto mais ela se obrigava, mais complicado aquela coisa ficava. Um olhar para cima, o relógio; para os lados, livros; para a frente, a porta. - Chega! Eu não aguento mais. -, vociferou com a face toda rubra. Raivosa, pegou sua mochila e deu o fora da biblioteca quase que soltando labaredas de fogo pela boca. Simplesmente não conseguia raciocinar. Estava preocupada demais com essas coisas, não somente estas coisas, mas também muitas outras coisas, tantas coisas que não se permitia entender mais coisa nenhuma. Sabia que não ia conseguir, mas mesmo assim tentava e no fim acabava não conseguindo mesmo. Era tudo vão. O ano letivo estava acabando e com ele a chance de não ser reprovada. -Simplesmente não vou conseguir fazer isso. Acabou para mim. É isso! Não vou nem fazer um cursinho técnico. -, disse a feroz menina jogando a mochila sobre a mesa antes de cair no choro em plena sala de aula. Ainda bem que não havia ninguém ali além de suas amigas.
- Sua mãe vai ficar com raiva? -, uma de suas seguidoras perguntou.
Sol sorriu sarcasticamente dizendo: - Como se ela fosse se importar.
-Nossa! Eu acho que você consegue. Talvez você precisa de um tempo. Você é incrível. -, outra delas disse.
Por algum motivo estava farta também de ouvir suas amigas tagarelarem as mesmas frases motivacionais, da mesma maneira ensaiada e decorada de sempre. Elas estavam piorando tudo com aquela falação sintética. Silêncio era tudo que ela precisava. Queria mandar elas sumirem dali, mas tentou não ser grossa: - Garotas não tentem me convencer que sou boa, porque com toda certeza eu não sou. Sinceramente eu não vou conseguir! E há quatro dias atrás eu estava zoando aquela idiota da Juliana porque ela estava indo mal, aparentemente. E o pior é que eu não consigo me ver assim. Não consigo me olhar no espelho quando estou assim. Minha face me assusta e sinto que envelheci décadas. Não estou falando somente da aparência. Estou falando de como eu percebo as coisas. Vem de dentro pra fora. Meninas sejam sinceras. Pareço alguém de 17 anos?
Apesar de seu alto patamar na hierarquia colegial, não se sentia bem por isso, pelo contrário sentia-se incompleta e completamente vazia. Ela sabia que era assim que tinha que ser então não tentava buscar justificativa pra explicar sentimentos oprimidos. Enquanto suas amigas tagarelas rasgavam elogios em tolas consolações, Sol tentava disfarçar em seu semblante o mal estar que estava sentindo. Que desejo de explodir tudo ali.
Raios cortavam o céu, frentes frias e quentes sacudindo a atmosfera. Os sentidos de Sol gritavam como relâmpagos e assustavam como trovões. Tudo estava nublado e seu coração era envolto por uma tempestade tropical. A chuva primaveril gentilmente abençoava a terra com suas dádivas.
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Witchcraft: A Saga De Ashânti
FantasySete jovens intimamente conectadas pela magia, com as mesmas dores e alegrias viverão uma desventura em busca de salvar as bruxas que ainda existem na terra. Juliana a curiosa, Sol a destemida, Vick a pacificadora, Adessa a ambiciosa, Ryoko a valent...