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O dia estava frio. Talvez fosse uma súbita mudança de clima. Como um aviso para voltarmos. Só que.... já era tarde demais para voltar para a paróquia. Estava claramente nervosa com tudo o que estava a acontecer e os meus batimentos cardíacos eram a prova disso. Estávamos a cerca de 400 metros do hipermercado. Faltava 2 ou 3 ruas para conseguir chegar. O nosso ritmo era lento pelo facto de não pudermos fazer barulho. Tudo estava tão estranho agora.

As ruas estavam completamente vazias. Talvez isso parecesse uma ilusão da antiga vida que nunca voltaríamos a ter. Talvez isso fosse uma memória distante dos antigos tempos de alegria e descontração. Isso se não houvesse sangue e cadáveres espalhados por todos os lados. Os vidros e carros e prédios abandonados, estavam quebrados e chegava-se a notar corpos imóveis, como se tivessem sido deixados ao abandono, numa tentativa de aguentar os seus últimos suspiros. Essa realidade, era a que indicava que era esta a nossa vida. Destinados a morrer por o que um dia foram pessoas como nós. Destinados a ver todos os que amamos desaparecer a nossa frente. Destinados a ver essa tortura contínua até a nossa sanidade morrer, como os corpos jogados no chão. E destinados a extinção, como a vingança do destino pelos pecados que os humanos cometeram contra o mundo. Ou isto era uma prova? Um teste para saber quem merece ir para o Inferno? Quem é capaz de se manter firme perante todas as situações que vierem de frente, contra você? Um teste para ver o quão psicopatas somos e testar todos os limites possíveis. Às vezes relembrava o quanto que o destino era um maldito desgraçado ao ponto de não nos deixar sermos felizes por um tempo.

Suspirei discretamente, mantendo-me ligeiramente curvada, por entre o círculo de pessoas que teimava em proteger-me. Passávamos por alguns errantes, mas nada demais. Não foi preciso mover-nos demais e sempre acabávamos por deixar os errantes ir, para não chamar a atenção dos restantes. Eu conseguia ouvir as respirações do Leonardo e do Johnny. Também conseguia ouvir o Jakob e a Addison. Todos eles estavam nervosos e notava-se facilmente.

Viramos a uma esquina e o Toni avisou que faltavam 200 metros para chegarmos. Essa rua era mais pequena, mas tinha mais errantes pelo caminho, obrigando-nos a mata-los furtivamente. Todo o caminho era em puro silêncio, além dos grunhidos que os infectados davam. Aqueles grunhidos eram apavorantes, e só o facto de ter de ouvi-los novamente, já me deixa assustada. Eu já me tinha habituado aquela sensação, aquele medo, por isso que já não me afetava tanto. Isso tornava-me mais forte que os outros? Claramente que não.

Vi que um deles se aproximava da Addison e puxei com cuidado a camisola dela. Ela olhou para mim e eu fiz um sinal com a cabeça para o infetado que estava a apenas 3 passos dela e já grunhia mais alto. Ela olhou e acentiu com a cabeça, enquanto sorria, numa espécie de agradecimento silencioso. Então, ela pegou o seu facão e enfiou no olho do infetado, quando este estava prestes a agarra-la. A Addison segurou o corpo do infetado, para não fazer barulho, deitando-o no chão com o máximo cuidado para não fazer barulho. Ela logo voltou para a posição.

Olhei por cima das casas do nosso lado direito. Ao longe, consegui ver um edifício alto que parecia ter 3 a 4 andares de altura, sem falar da sua grande área, de mais ou menos 2 a 3 campos de futebol. Suspeitei que fosse ali. Era mesmo grande. Vai ser bastante trabalhoso entrarmos ali e conseguirmos derrotar todos os infectados que lá estiverem.

Comecei a sentir-me insegura em relação ao meu plano. Por aquela área, só de imaginar a quantidade de infetados que estiverem lá. Isso assustava-me bastante. Tá bom que eu consegui matar 50 daquelas coisas, mas a possibilidade de mais de 500 daquelas coisas ainda estarem lá, isso seria impossível eu derrotar. E aliás, a partir do momento que eu formos cercadas por aquelas coisas, será o nosso fim. Teremos de ter muito cuidado e seguir o plano a risca e ver até onde conseguimos chegar. A maioria de nós, usava armas de fogo que o grupo do Toni tinha achado quando eles saíam. Mesmo quando as munições terminassem, teríamos armas de mão. Nós apenas iríamos usar as armas de fogo no caso de sermos cercados, também pelo facto de corrermos o risco de chamar a atenção dos outros.

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