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Eu entro no gabinete e chuto os corpos para um canto, frustrada. Eu só queria me sentar e pensar em tudo o que se passou comigo para não dar em doida. Eu sento-me na cadeira a frente da secretária, estavam lá alguns documentos numa pasta a dizer "Aviso", só que neste momento não sentia a mínima vontade de analisar documentos de casos criminais ou algo do gênero. Encosto o meu corpo para trás, assim como a minha cabeça, observando o teto com o peito pesado. A medida que o silêncio aumentava seu som, as memórias começaram a vir  impiedosamente, mas veio não só da minha mãe e da Judy, como também da Scarlett, o Jakob, a Nelly e o Toni. Suspirei pesadamente, jogo o meu cabelo para trás, voltando a sentir aquele aperto sufocante no meu peito, enquanto as memórias passavam lentamente como imagens da pura morte que me atormentavam e fazia-me perder a cabeça. E depois os pensamentos com insegurança vieram, para me atormentar, aquela voz na minha cabeça que serve para me rebaixar e deixar ainda mais afetada do que já estava.

Massageio as minhas têmporas, recompondo a minha postura, a espera de que os pensamentos se afastassem finalmente só que eles permaneceram para me atormentar. Eu conhecia-me, eu não sairia daqui enquanto os meus pensamentos estivessem em ordem, nem que fique aqui por 2 dias. Eu tinha de enfrentar o problema, vendo-o de frente e relembrando, para que ele não se torne um trauma mas uma forma de me fortalecer emocionalmente. Começo a imaginar como teria sido, quando a minha mãe estava sozinha, para ter terminado daquela forma. Ela teria saído de casa para arranjar comida mas foi apanhada no caminho? Ela tinha ido a minha procura? Ou tentava fugir? A minha cabeça lantejava com dúvidas e quanto mais eu tentava pensar, mais a minha cabeça doía e o meu coração apertava. Eu queria respostas, assim como queria uma forma de terminar com os infetados e voltar a minha vida anterior, por mais que seja sem a Judy e sem a minha mãe.

Penso se o Kazuha estará morto também...se voltarei a ver aquele belo rosto, o seu cabelo negro e seus olhos dourados e brilhantes tão claros que os tornava ainda mais único, assim como sentir seus abraços calorosos nos momentos mais pesados. Neste momento, eu queria-o comigo tanto mas tanto, que levei a mão para tapar levemente a minha boca enquanto uma lágrima deslizava pela minha bochecha. Eu sabia que ele me iria apoiar e iria ficar comigo aqui sempre, fazendo-me libertar toda a minha dor e frustração que tenho acumulado. Começo a perceber a falta que ele me tem feito, nascendo um desejo de o encontrar vivo.

Deito lentamente a minha cabeça na mesa, com a minha respiração tremida enquanto a única lágrima que era capaz de soltar, deslizava para o meu queixo antes de cair sobre a mesa. Eu pressiono os meus olhos com força, esperando acordar do pior pesadelo de toda a minha vida, mas quando voltei a abrir os olhos, voltei a dar de cara com o mesmo cenário de antes. O meu coração estava dolorido e eu apenas implorava que pudesse ter a Judy, a minha mãe ou o Kazuha, do meu lado. Lembro do sotaque japonês de Kazuha mesmo quando ele aprendeu a falar a mesma língua que eu, aquele sotaque que lhe ficava adorável. Lembro de quando a minha mãe fazia os biscoitos de banana que eu tanto amava, e de todas as vezes que ela me contava histórias para adormecer - nos dias em que o meu pai chegava a casa bêbado e agressivo - antes de uma discussão entre ambos. Também lembro quando a Judy me dava conselhos amorosos, apesar de todas as vezes que ela bateu no Félix pelas coisas que ele fazia no passado e que me abalavam. A saudade apertou ainda mais o meu peito e eu senti vontade de voltar atrás no tempo e abraça-los com toda a minha força.

Quis bater com a minha cabeça na mesa quando percebi que os meus pensamentos apenas me estavam a deixar mais depressiva do que já estava, inspirando fundo para puder me acalmar. Eu precisava de sair desta sala e fazer algo para me distrair, antes que desse em doida. Eu tinha de tirar a cabeça disto antes que isto me fizesse endoidecer e perder o controle, sem falar que tinha que abordar o Faustine e anunciar que sairei do cargo de líder, já que eu já não aguentava tanta pressão na minha cabeça. Tomei coragem e saí do gabinete, baixando rapidamente a cabeça para evitar os olhares que se focaram em mim, indo procurar a tal sala com as armas.

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