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Engoli em seco. A sua expressão era enigmática e eu não sabia como reagir aquela expressão tão séria dela, e ela só me olhava dessa forma quando queria ter conversas sérias com alguém, o que não me agradava muito.

- Eu agora estou ocu-

- Isso pode esperar - ela segura na minha mão e levou-me para dentro do quarto, trancando a porta assim que ambas estávamos lá dentro. Eu estava muito confusa e ao mesmo tempo intimidada, pelo menos, antes de ouvir seu suspiro pesado. Eu sabia onde essa conversa iria terminar e qual o motivo dela, mas sinceramente? Acho que eu preciso dela neste momento, para me aliviar de todas as tensões que preenchem o meu corpo e que me sufocam. Ela vira-se para mim e leva-me a acompanhá-la. Sentamo-nos lado a lado e eu evito olhar para ela, apesar dela manter o seu olhar em mim - S/n, olhe para mim - o seu tom de voz fez com que eu virasse o rosto para a olhar. O seu olhar sério suavizou-se e ela tomou uma expressão terna em seu rosto, levando a sua mão a minha bochecha e acariciando a minha pele.

- Emília... - murmuro com a voz pesada, o meu peito começou a arder e um nó tomou-me a garganta, tornando difícil de respirar.

- Você sabe o que eu vim aqui fazer, certo? - a sua voz era tão tranquila e carinhosa, como se eu me tratasse da mulher mais quebrada que existe, apesar de eu me sentir assim. O seu olhar apesar de me fazer sentir que poderia perfurar a minha alma, parecia tão acolhedor. Os olhos esverdeados brilhantes e carinhosos davam-me calma a maioria das vezes, mas neste momento, apenas fazia os meus sentimentos de mágoa voltarem e tenho a certeza que é esse o seu objetivo.

- Sim...

- Você sabe que pode confiar em mim, certo? Somos amigas a algum tempo e eu te devo muita coisa, então sinto que está na hora de te recompensar ao ajudar-te a esvaziar todos esses sentimentos que você está a guardar dolorosamente dentro de si - eu baixo a cabeça, mas ela levantou-a com as duas mãos, sorrindo calmamente. Os meus olhos ardiam e era cada vez mais difícil segurar o que sentia - Pode desabafar comigo...vamos ser só nós as duas agora, sem mais ninguém para te abalar - ela puxou-me e pressionou o meu rosto contra o seu peito. Consegui ouvir os batimentos suaves e lentos dela, enquanto as suas mãos afagavam o meu cabelo.

Lembrei da vez que a minha mãe me havia feito exatamente o mesmo após eu me ter machucado enquanto brincava. Não pude segurar mais o que sentia e abracei-a com força, deixando que os sentimentos fluissem em forma de lágrimas constantes e soluços altos, mas ela não parecia importar-se com o facto de eu a estar a apertar com demasiada força ou as minhas lágrimas estarem a molhar a sua roupa, ela apenas continuava ali a abraçar-me e a acariciar-me, dando-me a sensação de proteção e conforto que eu tanto buscava. Após um tempo, eu afasto-me, tentando limpar as minhas lágrimas, só que a Emília segurou o meu pulso, impedindo que eu apagasse o rasto de lágrimas que percorria a minha bochecha.

- Não te impeças de chorar. Chorar é completamente normal e se você não chorar, como irá liberar o que sente? Chorar não é pecado e enquanto sentires dor, não és obrigada a fingir que está tudo bem e a segurar as armas. Chore e liberte a sua dor, para que ela não te consuma e enquanto isso, eu permanecerei aqui e irei te apoiar até o último segundo da minha vida - o meu peito voltou a apertar e eu volto a abraça-la, soluçando e chorando tudo até que não fosse mais capaz e ela manteve-se ali, paciente a espera que eu me sentisse confortável para falar.

- Ela era incrível - eu murmuro e Emília baixou o olhar para olhar para mim e eu afastei-me ligeiramente, ficando apoiada nos meus joelhos.

- Hm? - eu olho para ela e abri um pequeno sorriso.

- A minha mãe - suspiro, antes de continuar a falar - Ela era uma mulher forte, ela trabalhava muito já que era ela quem me sustentava depois do meu pai desaparecer com a minha irmã mais nova, quando eu tinha 8 anos. Ela sempre foi muito paciente e carinhosa comigo e sempre brincava comigo, por mais cansada que ela estivesse pelo trabalho. Ela era tudo para mim e ensinou-me os valores que eu nunca irei esquecer, foi ela quem me ensinou tudo o que eu sei e é a ela que eu devo a minha vida. Ela sofreu muito no passado também, mas mesmo com todo o mundo a desabar e as dificuldades que ela passava e que não me contava para não e preocupar, ela sempre mantinha-se alegre e adorávamos passar tempo uma com a outra. Era para nós termos ido jantar fora no dia em que tudo aconteceu e nunca consegui chegar a casa - o sorriso bobo e feliz que antes estava no meu rosto, desapareceu, refletindo a dor que eu sentia em tê-la perdido - eu podia ter impedido a morte dela se nem sequer tivesse ido a escola ou se tivesse tido mais coragem e tivesse lutado contra os infetados para puder chegar a casa. A morte dela foi porque eu não lutei para ter com ela e simplesmente desisti, rezando para que ela estivesse viva.

ཻུ♡ 𝕰𝖘𝖈𝖔𝖑𝖍𝖆  ཻུ♡Onde histórias criam vida. Descubra agora