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Era um novo dia, apesar da dor do dia anterior. Esse dia seria tão cheio como ontem, mas claramente não seria mais fácil de abordar os assuntos. Eu já percebi o clima pesado na sala de jantar, por isso que dividi toda a minha comida com o Thomas e a Judy. Por falar neles, eles acabaram por dormir numa sala a parte, só por precaução (apesar de eu ser contra essa ideia) e fiquei com ambos até eles adormecerem. Dormi no quarto das garotas, dessa vez e não foram poucas as vezes que acordei depois de pesadelos contínuos. Acabei por também ter de lidar com a Emília, que me acordou às 4 da madrugada a dizer que queria pudim de terra. Eu acabei por me habituar com os pedidos estranhos que ela começava a fazer e simplesmente fazia o máximo que fosse possível fazer, em que aparentasse ser os seus pedidos, mas mais.... comestíveis. Então acabei por fazer uma espécie de bolo de chocolate gelatinoso, que a Emília comeu tranquilidade sem dar conta que aquilo não era terra. Acabei por ficar a maioria da noite acordada e as últimas tentativas de ter um sonho agradável foram completamente arruinadas pelo facto de esses últimos "sonhos" tivessem sido os mais pesados e difíceis de lidar, o que me fez desistir de tentar dormir e acabei por ficar o resto da noite acordada, a pensar na conversa que iríamos ter hoje. Estava tão cansada que nem notei quando o Johnny entrou no quarto para acordar as garotas.

- S/n? O que está a fazer acordada? - ele me olhou em confusão e apenas consegui perceber a sua presença quando escutei a sua voz doce, percorrer os meus ouvidos.

- An.... - olhei ele, rindo sem jeito enquanto coçava a nuca - Não consegui dormir hoje.

- Você está muito mal? - ele olhou no fundo dos meus olhos, como se quisesse abrir o caminho para a minha alma. Eu suspirei e levantei-me para sairmos dali, para deixar as garotas dormir mais um pouco. Elas mereciam depois do que passaram ontem.

- Um bocado - olhei-o com sinceridade, mordendo o lábio inferior. Acabei por grunhir de dor quando senti a ardência invadir os meus lábios, levando a minha mão aos lábios e vendo uma pequena mancha de sangue. Só então lembrei do corte que fiz ontem no lábio e em como fui capaz de abri-lo novamente.

- O que é isso? - o Johnny aproximou-se de mim. Ele parecia preocupado com o meu estado e eu agradecia por isso, mas eu sentia que era egoísmo puxar os outros para a mesma bosta em que eu estava. Ele retirou a minha mão e encarou o corte no meu lábio, arregalando os olhos - S/n, como você fez isso!?

- .... Só vamos....sair daqui. Não quero acordar as garotas. Elas merecem descanso depois do que passaram ontem - eu olhei elas, para verificar que as mesmas ainda estavam a dormir. Vi que o Johnny fez o mesmo, então ele suspirou e concordou. Ambos saímos e fomos para o jardim da paróquia, onde costumávamos fazer os nossos treinos. Eu sentei-me e ele fez o mesmo. Como ainda estava bem cedo, o sol ainda estava a nascer, fazendo o céu atingir cores lindas desde um azul bem suave e claro, até um vermelho quente chamativo, no horizonte. A luz que nos iluminava era suave e confortável, o que me pode tranquilizar um pouco em relação a ideia de ter de voltar a falar acerca do meu problema. Não é como se eu tivesse dificuldades em falar o que sinto, apenas acho que as pessoas não têm de lidar com os meus problemas, ainda mais quando elas estão do mesmo jeito que eu.

- Ok, agora me diga...como isso aconteceu com seu lábio - o Johnny sentou do meu lado, olhando para mim com seriedade. Aquela seriedade que ele sempre tinha quando se tratava de falar acerca de assuntos importantes. Inspirei fundo e novamente senti como era ser pressionada para falar. Por mais que eles estejam preocupados comigo, eu também estou com eles e eu não quero que fiquem a cuidar de mim como se eu fosse uma boneca de porcelana, que a cada coisinha que acontece, corre o risco de quebrar. Suspirei e decidi contar a verdade, sentindo o meu peito arder novamente com as lembranças.

- Eu ontem fui tratar do meu machucado no braço e eu acabei por cortar o lábio quando o mordi para segurar a dor, melhor - ele arregalou os olhos e só então percebi que referi o outro machucado, ou seja, mais um motivo para a preocupação dele aumentar....nem quero imaginar como será quando ele vir o estado disso. Já estou a imaginar ele surtar e insistir para eu ir ter com o Augustus, que iria surtar também e me proibir de fazer missões arriscadas novamente. Por mais que isso seja verdade, eu quero ajudar todos aqui, ainda mais, depois do que aconteceu.

ཻུ♡ 𝕰𝖘𝖈𝖔𝖑𝖍𝖆  ཻུ♡Onde histórias criam vida. Descubra agora