Capitulo 7

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Tenho saudades do meu pai, mesmo que eu o visite nas férias, em alguns feriados e até mesmo que nos falemos pelo celular todos os dias a saudade não diminui, muito pelo contrário, apenas aumenta gradativamente

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Tenho saudades do meu pai, mesmo que eu o visite nas férias, em alguns feriados e até mesmo que nos falemos pelo celular todos os dias a saudade não diminui, muito pelo contrário, apenas aumenta gradativamente.

Eu cresci com o meu pai – tenho vagas lembranças da minha mãe – e ele foi praticamente pai e mãe para mim. Todas as fases da vida na qual passei compartilhei com ele, a puberdade, a paixoneta de adolescente, a entrada na faculdade, cada conquista e cada derrota ele esteve sempre presente para mim e comigo.

Lembro-me de como foi quando tive a minha menarca: constrangedor e engraçado. Aconteceu num sábado a tarde, eu tinha por volta de treze anos de idade, nesse dia meu pai não foi trabalhar porque queria passar o dia comigo. Comecei a sentir um incomodo no baixo ventre, nada grave, senti também minha calcinha úmida, então fui até ao banheiro.

Em meio aquela descoberta tomei banho e enfiei um monte de papel higiénico por não ter um absorvente, na minha cabeça de adolescente era uma solução viável. Eu não queria falar com meu pai sobre aquilo, não me sentia confortável apesar de eu ter abertura para falar sobre qualquer coisa com ele.

A certa altura daquele mesmo dia o papel higiénico não foi a melhor das opções, tinha que arranjar de alguma forma o absorvente, foi da maneira mais constrangedora que consegui.

Tinha uma pequena nódoa de sangue nas minhas calças de moletom, meu pai e eu nos olhamos por breves segundos e até hoje não sei quem ficou mais constrangido, eu ou ele.

Meu pai queria ter uma conversa comigo, desde me explicar o que estava acontecer comigo até como colocar o absorvente. Dispensei imediatamente aquela conversa alegando já ter aprendido na escola sobre as mudanças que ocorrerem nas mulheres na fase da puberdade.

Tentei imaginar o cenário: meu pai ensinando-me a colocar um absorvente na calcinha. Meu Deus!

Ele insistiu que eu tivesse alguém com quem conversar sobre essas coisas, então pediu ajuda para a senhora Winfrey, a nossa vizinha.

Ele saiu tão apressado de casa para chamá-la que quase perdeu o equilíbrio, alguns minutos depois ela apareceu com uma embalagem de absorventes e me explicou tudo o que devia saber.

Tempos depois papai voltou, bateu na porta do meu quarto e enfiou somente a cabeça.

— Tudo bem por aqui? — perguntou.

— Sim — a Senhora Winfrey respondeu levantando-se da cama e esfregou as mãos nos seus jeans. — O meu trabalho por aqui terminou.

Ela sorriu para mim e de seguida pediu licença deixando meu pai e eu a sós.

— Eu pod...

— Pai, não vamos falar sobre isso — eu disse constrangida.

— Nem pretendia.— Ele ergueu as mãos em rendição.

Hoje em dia falo sobre qualquer coisa com meu pai sem nenhum constrangimento. No dia que eu me mudei por conta da faculdade ele deu-me camisinhas, pois segundo ele eu ia precisar, mas mal sabe ele que as mesmas permanecem intactas numa caixa no fundo do meu guarda-roupa.

— Reese! — Pulo assustada com a voz da minha amiga e colega de apartamento.

— Lory! — Respiro ofegante.

— Desculpa, mas você estava tão aérea que não escutou quando chamei da primeira vez — ela se justifica. — Só queria avisar que vou sair com o Craig, então aqui está a chave do carro.

— Tudo bem. — Levo as chaves que ela estende para mim.

— Beijos e não me espere acordada. — Ela pisca para mim e vai deixando-me com um sorriso nos lábios.

A chave é um lembrete de que ela não vai passar a noite em casa, então caso eu precise do carro logo cedo o terei à minha disposição.

Agora são um quarto para às nove da noite, minhas aulas terminaram um pouco cedo, então voltei para casa para continuar a fazer um trabalho da universidade que deve ser entregue em três dias. Já fiz a maior parte e faltam apenas alguns detalhes para terminar.

Levanto para preparar alguma coisa para eu comer, pois meu estômago já começa a reclamar. Pego na geladeira a lasanha que Lory trouxe ontem do jantar na casa do Craig – o que parece estar se tornando frequente – aqueço no microondas por poucos segundos.

Volto a sentar no sofá após ter o prato de lasanha em mãos, cruzo os pés no sofá e levo a primeira garfada a boca. Uma explosão de arco-íris gastronómico acontece em minha boca, meus olhos automaticamente se fecham em deleitamento. Não lembro qual foi a última vez que comi uma lasanha, mas garanto que esta é a melhor de todas.

Se meu pai escuta uma coisa dessas é capaz de me deserdar porque ele denomina-se o melhor cozinheiro.

A visão de Sat com um avental torna-se presente em minha mente e pergunto a mim mesma se foi ele quem fez a lasanha.

Lory foi jantar na casa do Craig ontem, ela até me convidou, mas eu tinha muitas tarefas para fazer e acabei rejeitando o convite. Além do mais, acredito que atrapalharia a eles e não me sentiria confortável participando de um jantar possivelmente à dois.

Passa-se uma hora desde que Lory saiu, pergunto-me se ela já chegou. Provavelmente. Se ela viu o Sat? Se ele está em casa? O que estaria fazendo neste momento?

Sacudo a cabeça espantando esses pensamentos tolos.

A campainha toca obrigando-me a levantar, levo o prato com a lasanha, servida pela segunda vez, na mão comigo e caminho até a porta.

— Quem será a uma hora dessas? — murmuro.

Se a pessoa chegou até aqui sem ser anunciado provavelmente tem acesso livre para subir, por isso não me preocupo em perguntar quem é. Com o garfo na boca abro a porta para receber a pessoa que está do outro lado.

Meu coração palpita com o sorriso que recebo após a pessoa olhar para minha mão com o prato de lasanha.

Ele está aqui!

Te Amar Como NinguémOnde histórias criam vida. Descubra agora