Capitulo 2

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Fazem hoje seis anos que os meus pais morreram e mesmo tendo passado todo esse tempo a dor ainda é intensa

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Fazem hoje seis anos que os meus pais morreram e mesmo tendo passado todo esse tempo a dor ainda é intensa. Sempre que chega essa data, meus irmãos e eu preparamos a última refeição que fizemos com eles, depois sentamo-nos e com gargalhadas recordamo-nos dos momentos hilariantes compartilhados. E, por fim, vem a última fase, a que choramos pela perda precoce que sofremos.

Ainda me lembro com detalhes de quando e como recebemos a notícia. Foi num domingo no fim da tarde, falámos por chamada de vídeo com eles de manhã um pouco antes de embarcarem no avião, estávamos todos felizes porque depois de uma semana estaríamos todos juntos novamente. 

Arrumamos a casa e para o jantar fizemos o prato preferido dos dois, íamos recebê-los com abraços, o jantar e com a casa intacta como minha mãe disse antes de viajar.

A campainha tocou, ansiosos fomos os três a correr em direção a porta competindo quem abriria primeiro, nesse dia eu coloquei o meu pé para o meu irmão mais velho tropeçar e puxei a camisa do meu irmão mais novo para que eu pudesse chegar primeiro à porta e abraçar os meus pais. Foi hilário ver a cara de indignação dos meus irmãos pelo meu ato.

Com a respiração alterada devido a corrida, abri a porta apressadamente, porém não eram os meus pais à porta, mas sim um senhor totalmente desconhecido.

Lembro de cada palavra que ele proferiu, do momento que o Joseph teve que incorporar o adulto, o irmão mais velho, e ir reconhecer os corpos. Quando ele voltou com a cara inchada de tanto chorar, sentou-se no sofá e pediu que fizéssemos o mesmo. Do abraço que os três demos, do choro coletivo que nos levou à exaustão fazendo-nos dormir na cama que pertencia à eles. Da manhã seguinte quando acordamos e nos olhamos desencadeando mais lágrimas.

Joe teve de abdicar de certas coisas para poder cuidar de mim e do Craig, ele tinha vinte e três anos na época, acabava de conseguir um emprego e queria contar para os nossos pais quando chegassem, mas ele nunca teve a oportunidade.

Soube pouco tempo depois que eles fizeram um testamento, com o dinheiro que deixaram para nós e com o salário do Joe conseguimos nos manter.

Sete anos depois ainda me lembro de cada detalhe.

Hoje em dia eu também trabalho e consigo ajudar o Joe com as despesas, tanto da casa quanto dos estudos do Craig.

— Lembram daquela vez que corremos pelo corredor com os pés sujos enquanto ela acabava de limpar o chão e foi o ápice para ela, então nos fez esfregar o chão até que ela visse o próprio reflexo? — pergunto e nós três rimos porque passamos duas horas amuados a esfregar todo o chão da casa.

— Depois ela ia conferir se o chão estava mesmo limpo e acabava sujando obrigando-nos com um sorriso zombador no rosto a limpar de novo — Craig diz nostálgico. — Eu sempre me safava por ser o mais novo.

— Daria tudo só para ter esses momentos de volta — Joe diz com um sorriso fraco no rosto e eu concordo abanando a cabeça.

Como nos anos anteriores vamos os três para o quarto que era deles, esprememo-nos na cama de casal, olhamos para o teto e quando o choro de um vem os outros dois desabam também.

Diferente dos primeiros anos que era ainda muito recente, quando acordamos na manhã seguinte, ao nos olharmos não choramos, apenas nos abraçamos por um tempo em meio a claridade do sol que invade o quarto trazendo-nos a confirmação de que mais um dia começou e retomamos as atividades que ficaram pendentes por um dia.

— Vou a uma festa amanhã, você pode por favor ir me levar na volta, Joe? — Craig pede juntando-se à nós a mesa.

— Que horas?

— Meia noite, não quero ficar por muito tempo.

— Está bem.

Tomamos o café da manhã e cada um vai para o seu destino. Antes de ir ao trabalho, deixo Craig na universidade. Joe e eu nos revisamos para levá-lo e ele volta normalmente com um dos amigos.

Craig é maior de idade e não tem um carro ainda por escolha, devido ao que aconteceu com os nossos pais ele prefere não dirigir, pelo menos não por enquanto. O acidente foi aéreo, mas ainda assim prefere não arriscar. Eu não o censuro, pois o entendo.

— Boas aulas — digo quando ele desce do carro.

— Bom trabalho. — Ele debruça-se sob a janela e com os nossos punhos fechados tocamos as mãos.

Vejo-o caminhar em direção ao portão até adentrar a universidade. Ligo o carro e pelas ruas de Los Angeles faço o mesmo caminho para o trabalho que nem nos outros dias.
O ar fresco permeia batendo no meu rosto e eu inspiro-o com os olhos fechados por breves segundos parado no semáforo.

Será mais um longo dia de trabalho.

Te Amar Como NinguémOnde histórias criam vida. Descubra agora