A FUGA
KEYLA
O telefone de Samuel não parava de tocar pelo curto trajeto que fizemos até o aeroporto. Me senti tentada a atendê-lo mais de uma vez. Uma por que o toque banal do aparelho irritava meus ouvidos e outra por que estou sem o meu. E precisava, urgente de tecnologia em minhas mãos. Não saber o que anda rolando pelas principais manchetes da internet sobre o acidente com Roger, estava me deixando como se estivesse trancada de novo naquele quarto escuro e imundo de tempos atrás.
Precisava saber se a morte resolveu levar de vez aquele demônio daqui da face da terra. Conferir o que diziam sobre mim. Afinal, mais de uma pessoa me reconheceu assim que dei entrada no hospital. Não era fácil esconder meu rostinho bonito de flashes. O Ego de Roger precisava me exibir. Toda e qualquer coluna social já teve a oportunidade de ter meu rosto estampado em manchetes sensacionalista que exibiam sem pudor. O meu noivo, precisava sempre mostrar para o mundo que ele tinha em sua cama a Gata Parda. A piloto de corrida mais desejada do país. Uma mulher extremamente linda que servia de cabide para as jóias que adquiria lavando dinheiro de propina que extorquia dos mais pobres.
Depois, havia também a curiosidade que estava me matando para quem sabe, descobrir como era a vida do ruivo nas redes sociais. se é que ele tinha uma rede social, pois jamais esqueceria de um rosto como o dele se o tivesse visto num Instagram, Facebook ou mesmo numa rede de namoro, pois não estava cavando uma noiva a qualquer custo? Aqueles olhos azuis tão marcantes que tinha não passariam, tinha certeza, despercebido do seu gosto apurado por homens exóticos. E o ruivo ao seu lado, era um belo exemplar de exoticidade.
Percebi que a tela principal não tinha senha. Por isso, roía o que sobrou das unhas olhando o Iphone tocar no console da caminhonete louca para surrupiá-lo. precisava urgentemente saber quem era o Samuel ao meu lado. Seus gostos, suas paixões seus seguidores e por um momento, senti-me enciumada com as curtidas e elogios femininos que pudesse ter. Mesmo assim, precisava, a meu pai! Como precisava, devendar esse mistério chamado "vida privada daquele ruivo".
Mas, tocar nele. Era reiniciar uma guerra que por enquanto estava apaziguada. O silêncio dele ao meu lado era assustador. Percebia um sério conflito interno entre me perdoar ou me jogar porta a fora a qualquer instante. Não dava pra saber se tinha me perdoado por tudo que lhe falei lá atrás no elevador ou se só estava esperando o momento certo de usar tudo aquilo como uma vingança particular. Vomitar palavras parecidas ou até mesmo ainda mais cruéis. Era dúvida extremamente cruel me corroendo por dentro.
Sobre o meu telefone...
Tive a brilhante ideia de colocar o meu aparelho na bolsa de uma senhora com o GPS ligado. Então, enquanto os capangas de Roger rastreariam em tese aquele sinal, estaria segura. Sabia que a bondosa senhora estava de alta e rumava para o Rio de Janeiro de ônibus. Acreditava que a bateria iria morrer umas dez ou doze horas depois. E isso os deixariam com uma grande área de busca por um bom tempo e bem longe dali. A essa altura do campeonato, já era pra estar quase em Santa Catarina. Mas, uma boca carnuda, um beijo quente e um corpo sensual e delicioso tinha atrasado em algumas horas o meu plano. Me arrependo? Óbvio que não! O que me dói é separação daqui umas horas. Quase penso em pedir que dê meia volta e me leve pras montanhas. Que me esconda. Que me defenda. Que me ame até não ter mais forças...
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No Limite Da Adrenalina
RomanceKeyla era uma garota que vivia no limite da adrenalina. Correr com seu Mustang clandestinamente pelas ruas da cidade, mesmo pondo em risco sua vida e de outros, era seu maior prazer. Até em uma bela noite perder uma corrida e se tornar prêmio de um...