Capítulo 30

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SAMUEL...

Respirar profundamente. Expirar longamente. Falar a porra do número 33 várias vezes seguidas e sentir meu corpo ser apalpado de todo jeito e ainda ouvir perguntar se sentia dor. Se sentia dor? Nem os tomates na feira eram tão apalpados assim! Como não poderia sentir dor com aquela mão pesada daquele doutor apertando cada hematoma que tingia a extensão da minha pele?

- Se o seu irmão prometer ficar de repouso e tomar a medicação nos horários propostos, posso liberá-lo. - o médico, um senhor de meia idade avalia meu estado um tanto preocupado. Eu precisava de mais uns dias no hospital. Isso era um fato. Estava claro no semblante dele. - Foi um trauma e tanto. Vocês deveriam procurar a polícia e...

- Não se preocupe com esses detalhes, doutor. Basta só nos liberar. Tomaremos todas as providências cabíveis aos assaltantes que roubaram o carro do meu irmão! - Davi deu uns tapinhas no ombro do médico e voltou-se em minha direção. - E é claro que ele vai se comportar, né Michel?

Concordei com a cabeça sem dizer nada. Ouvir aquele falso nome era irritante. Assaltantes? Era essa a desculpa que usaram para conseguir ajuda hospitalar sem levantar suspeitas? Revirei os olhos com desgosto. Três dias ali dentro sendo vigiado por aqueles homens já estavam acabando com meu psicológico. E sair dali, era tudo que precisava. Liberdade. Ou pelo menos, um ar que não cheirasse tanto a canalhice.

- Quando falo esforço físico, seu Michel, não estou brincando! Um simples caminhar mais longo e você pode parar num túmulo! - o médico me repreendeu esperando resposta.

- Tudo bem... Eu vou me poupar ao máximo! - a voz era arrastada. A fraqueza ainda me dominava. Devia ter perdido muito sangue. E pelo visto, pelo tamanho da cirurgia na lateral do meu corpo, algum órgão que não fosse vital também.

O médico ainda se sentia inseguro, não sou um bom ator. Mas, Davi o convenceu que eu tomaria todos os cuidados prescritos por ele à risca, dizia amar o irmão e jamais deixaria que ele fizesse uma tolice desobedecendo ordens médicas. Um tanto contragosto, o doutor prescreveu remédios. Cuidados. Uma dieta balanceada. Repouso... Repouso... Repouso...

Meu irmão, assim que despachou o médico do quarto, mandou buscar uma cadeira de rodas, os seus capangas me ajudaram a sair do quarto e entrar no carro e depois, quando finalmente cheguei em casa...

O médico tinha razão. A pequena viagem sugou mais energia do que esperava. O tão falado repouso prescrito, devia ser mesmo seguido à risca se quisesse me recuperar o mais rápido possível.

Havia um enfermeiro me esperando no quarto que ajudou num banho tortuoso porém, necessário e logo estava deitado na minha cama. Ao sentir o colchão macio sob minhas costas, relaxei uns minutos com os olhos fechados. Sentir meu cheiro ali presente nas coisas me apaziguou a alma. Estar em casa era bom. Tinha que admitir isso.

No Limite Da AdrenalinaOnde histórias criam vida. Descubra agora