SOUZA...
Ver as duas garotas se encarando uma diante a outra deixava me deixava aflito. Os olhares que trocavam, tão profundamente, que deveria dar até para ver a alma uma da outra simultaneamente me instigava. Faziam mais de três horas que elas nem sequer piscavam. Imaginava aquelas belas íris delas tão secas como o deserto do Saara por falta da lubrificação lacrimal. Eram duas belas esculturas em formas femininas fixadas ao assento das cadeiras sem demonstrar nenhum sentimento. Eram duas incógnitas indecifráveis.
"É só a porra de um jogo!"
Dizia para mim mesmo. Mas, para elas, parece uma batalha mortal. Eu até tentei entender a lógica de toda aquela morbilidade entre as duas, porém desisti nos primeiros quarenta minutos de observação. Era extremamente cansativo ver aquelas sombras diante do tabuleiro de xadrez.
Li, reli, marquei todos os pontos necessários no mapa e continuava ainda sem ter uma solução para nossa rota de fuga. Pontos em vermelho marcavam que éramos muito bem vigiados por todos os olhares mais astutos e cruéis que poderíamos ter provocado. Os azuis, quase inexistentes eram rotas vigiadas pela polícia. Ou seja, estávamos encurralados. Por terra, as fronteiras era inalcançáveis. Era uma sinuca de bico. Alguém tinha um taco mirando em nossas cabeças e não sabia como defender elas dele. Baixei com força o mapa sobre o meu colo já irritado com aquilo. Com a caneta presa aos lábios, dispensava mais uns minutos à observar aquelas duas.
"Chega! Basta!"
Declarei em pensamentos levantando da poltrona em silêncio e contornando a pequena mesa que elas dividiam. Uma fixada no olhar da outra. Elas pareciam nem respirar. A tensão entre as duas era palpável e sentia-me tentado a interromper isso. Só que, não era um homem corajoso para tanto. Já escapei da morte muitas vezes nessa semana. Agora poderia não escapar das garras daquelas felinas.
Mirei o tabuleiro entre elas. Cada uma com um peão em mãos. Imóveis. Elas definiam a melhor estratégia de jogada. Um peão de cada e já estava nesse nível de tensão? Olhei do alto a visão delas sobre o jogo. Primeiro os possíveis movimentos da morena. Depois os da loura. Que parecia a princípio, ser a próxima à jogar. Não entendi bolufas. Tentei mexer uma peça, mas antes sequer que a tocasse...
- Se presa pela sua vida, nem ouse! - Keyla deixou as palavras fluírem como se estivem vindo do além.
- E só xadrez! - Dei de ombros aproximando os dedos de um cavalo. - Além do que, sou muito bom em xadrez!
- Encoste a mão no meu cavalo e vou enfiar o meu punho na sua cara! - Ela me segurou a milímetros de alcançar a peça. Engoli em seco a ameaça lembrando do punho dela na cara de Irina. Senti até uma dor imaginária na minha pele.
Lince, apenas sorriu mostrando os dentes braquissimos dela. Estaria pronto a fazer uma jogada errada? Olhei com mais atenção novamente a peça. Calculei a trajetória. As possíveis revanches. Não aguentava mais ver elas ali como duas idiotas petrificadas. Foi então que uma dúvida me surgiu.
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No Limite Da Adrenalina
RomanceKeyla era uma garota que vivia no limite da adrenalina. Correr com seu Mustang clandestinamente pelas ruas da cidade, mesmo pondo em risco sua vida e de outros, era seu maior prazer. Até em uma bela noite perder uma corrida e se tornar prêmio de um...