Capítulo vinte e três: História de dormir

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Hugo



Uma família.

De repente meu maior medo se tornou meu maior sonho.

Mas, chegar até ali, até aquele momento em que decidi em meu coração que faria de Lyandra e Louis minha família não foi fácil. E o mais difícil nessa história toda é você ter que se superar. Sim, eu tive que me superar, abrir mão do meu orgulho e escolher o caminho da felicidade.

Por muitos anos, vivi guardando mágoa da minha mãe, não que ela não meressece pois ela fez por merecer. Abandonar o único filho após a morte do pai apenas por dinheiro, pra ir morar com um homem rico, a fez aos meus olhos se tornar a pior mãe do mundo. E o pior de tudo foi quando meses depois ela voltou, apenas pra conseguir mais dinheiro, e desde então não a vi mais.

Cresci, me tornei um homem, trabalhei duro e conquistei meu espaço, mas, dentro de mim sempre ficou aquele resquício de que minha mãe havia passado ali.

Na tentativa de amenizar a dor, foquei em me divertir, beber, sair com mulheres, viver a vida como eu julgava ser o certo. Mas lá fundo, eu sabia que algo faltava. Na tentativa de aplacar essa ausência, me apeguei ao vício do cigarro, mas, também me apeguei a praticar exercícios, contraditório até, mas esse era eu.

E foi quando decidi que iria me casar finalmente, mas, com um grande esquema por trás, foi aí que conheci a mulher que iria me dar tudo o que queria e tanto rejeitei.

Minha família veio completa, com filho até. Sim, eu amava aquele menino desde o primeiro momento que o vi, ele se chamava Louis, igual meu avô paterno, conhecidências da vida...

E cá estou eu, jantando com meu enteado e ouvindo suas histórias de escola. Histórias essas que eu nunca me cansava de ouvir. E isso era maravilhoso. Era tudo o que pedi a Deus.

- Vamos colocar esse braço aqui, e, pronto! Terminamos. - digo depois de vestir o pijama no menino. - Tudo certo? Vamos dormir? - pergunto. Louis faz que sim.

Deito Louis sob a cama e o cubro, e aquela sensação de colocá-lo para dormir, começou a mexer comigo. De uma maneira linda e deliciosa.

- Tio Hugo?
- Sim? - digo o olhando sentado a sua frente na cama.
- Você pode contar uma história pra eu dormir? - a pergunta do menino me pegou de surpresa.
- Bom Louis, eu até posso, mas, não sei se sou muito bom. - digo. A verdade era que nunca fiz aquilo antes.
- Não tem problema, a mamãe falou que, nem sempre seremos bom em alguma coisa, mas que precisamos tentar. - diz ele de forma carinhosa.
- Sabe Louis, sua mãe sabe o que diz! - digo com um leve sorriso. Ele sorri. - Então vamos lá...
- Tio Hugo, deita aqui do meu lado! - diz ele se afastando para eu me deita.
- Ok. - digo me aproximando.

Me acomodo ao lado do menino e ele espera que eu comece a história.

- Bom, vamos lá! - digo nervoso. - Existia um rei, que morava sozinho num imenso castelo. Esse rei, vivia sempre triste porque estava só.
- O rei não tinha mãe? - pergunta ele curioso.
- Não, a mãe dele o deixou! - respondo.
- Entendi. - diz ele.
- Bom, o que mais o rei queria era ter uma família, amigos, e não viver mais só. Mas, ele nunca conseguia fazer amizades porque ninguém queria ser amigo dele, e muito menos ser família dele... Até que um dia, um jovem príncipe de uma terra muito distante ficou doente, e sua mãe, a rainha mais linda de todas as terras, ficou sabendo que o rei poderia ajudar ela a salvar seu filho. E com isso, os dois partiram para o castelo do rei... Chegando lá, a rainha contou ao rei sobre a doença do seu filho, e disse que precisava do poder do rei para o salvar.
- E qual era o poder do rei? - pergunta ele curioso.
- O rei curava as pessoas com o poder do abraço! - respondo. - Ao abraçar o príncipe, o rei o curou, e a mãe do príncipe e ele ficaram gratos ao rei por isso. Com isso, os dois resolveram ficar no castelo com o rei, para ele não ficar mais sozinho, e assim, o rei ganhou uma família, e amigos, e todos viveram felizes no castelo.
- E viveram felizes para sempre? - perguntou Louis.
- Sim, viveram felizes para sempre! - digo sentindo meu coração se aquecer.
- Muito bonita sua história tio Hugo. - diz Louis.
- Obrigado. Mas, você não dormiu. - digo.
- É que, eu quero te contar uma história também. - responde ele.
- Tá bom, acho que temos tempo. - respondo.
- Era uma vez... - começou o menino. - Uma linda princesa que tinha um grande cabelo preto, ela era linda, parecia com a mamãe! - diz ele enquanto bocejava.

Enquanto Louis continua sua história que não sei bem como continuou, sinto meus olhos pesarem, o cansaço finalmente me domina, e cada vez mais sua voz fica mais e mais longe...

Uma Família Para O CeoOnde histórias criam vida. Descubra agora