9º A proposta

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   Correr sempre tinha sido um escape. Um para não pensar em nada! Não era o escape perfeito ou o que eu realmente queria fazer, mas sendo domingo e a academia estando fechada, treinar com um saco de pancada não tinha sido possível.

   Por isso já estava na minha terceira volta no quarteirão com uma música explodindo nos meus ouvidos. Meu foco era apenas fazer o meu dia ser o mais cansativo possível para que eu pudesse dormir tudo que eu não havia dormido na noite passada.

   Lembranças daquele maldito beijo haviam cortado minha mente quase todas as vezes que eu havia fechado os olhos. E as pouquíssimas horas que eu consegui dormir, sonhar com uma mistura entre meu irmão e Dante tinha sido o divisor para que eu não quisesse mais dormir pelo resto da noite. Então, uma hora depois do astro-rei ter subido no horizonte, decidi descer e enfrentar o friozinho da manhã.

   Friozinho que agora já tinha sido revertido em um calor pela terceira volta que estou prestes a completar. A música ainda alta nos meus ouvidos até faz um bom trabalho em afastar qualquer pensamento da minha cabeça. Tanto que decido testar uma nova playlist, antes de iniciar a quarta volta no quarteirão. Com o celular na mão diminuo o passo enquanto caminhava até o ponto de início, que é a entrada do meu prédio, escolhendo novos pares de músicas no aplicativo.

   Assim que chego à entrada do meu prédio já tinha a nova playlist pronta para ouvir. Colocando o celular de volta no suporte preso em meu braço direito, apenas abaixo para amarrar melhor meu tênis, quando ainda abaixada vejo um par de sapatos escuros parar a centímetros de mim. Permaneço na mesma posição e até espero meio segundo para a pessoa se tocar e dar a volta em mim, mas quando a pessoa não faz, me ergo pronta para afrontar o sujeito para fora do meu caminho!

   Porém, ao fazer isso as palavras ofensivas morrem ainda na minha boca ao me deparar com ninguém menos que Dante Gonzalez!

   —O que você está fazendo aqui? —pergunto rispidamente tirando os fones.

   Se ele tinha percebido meu tom ríspido não demonstrou e nem se abalou, já que sua resposta veio calma logo em seguida:

   —Eu quero conversar com você.

   Ele queria falar comigo? Logo hoje?!

   Olho ao redor meio que esperando, sei lá, que alguém me salvasse? Isso obviamente não aconteceria, já que a rua estava praticamente vazia por ser ainda tão cedo em um domingo. Meus olhos passam pelo Jeep Compass estacionado do outro lado da rua e eu me pergunto se Martin está dentro dele ou se Dante veio dirigindo até aqui. O escurecimento dos vidros impedem que eu tenha certeza de qualquer uma das indagações.

   Entretanto, não era aquilo que eu tinha que me preocupar no momento e sim com um Dante à minha frente. Um Dante que eu havia beijado e corrido logo depois.

   —Tudo bem.

   Minhas palavras soam secas, mas não olho para o seu rosto para ver o efeito delas. Somente indico para que ele me siga até o meu apartamento.

   A subida é constrangedora, pelo menos para mim, que evito olhar para ele a todo custo. Enquanto os números do modesto elevador sobem até o meu apartamento, perguntas e suposições se misturam também em minha cabeça.

   Ele iria me demitir? Precisava ir até o meu apartamento para fazer isso? Não poderia simplesmente esperar até amanhã?

   —Por aqui. —indico liderando o caminho até a porta do meu apartamento.

   Tirando a chave de um dos bolsos do moletom, que agora esquentam mais do que necessário os meus braços, abro a porta logo adentrando o apartamento. Ainda sem virar, sigo jogando a chave, celular e o moletom no sofá. E, por mais que eu quisesse muito mais tempo para o encarar, não tenho escolha se não virar e o enfrentar de uma vez.

Além da VingançaOnde histórias criam vida. Descubra agora