17° Amigos?

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Decidir antecipar o final de semana tinha sido uma decisão fácil. Ligar para Carmen ontem para informar que não estava bem e que não iria, também tinha sido fácil.

Porém, passar praticamente o dia de ontem enfurnada dentro daquele apartamento, não tinha sido de muita ajuda, já que meu cérebro parecia querer me deixar louca trazendo as lembranças do beijo e do quase beijo que tivera com Dante.

E se não era isso, era pior. Já que o ataque de Ruan tinha acentuado ainda mais os pesadelos, que tinham voltado a acontecer com a mesma frequência de antes.

Hoje, ainda frustrada e cansada, mas não a ponto de conseguir dormir com a tranquilidade de não sonhar, decido gastar o restante de energia que ainda me restava.

Ir para a academia queimar essa energia tinha se tornado uma ótima ideia. Sendo assim, lá estava eu, depois de correr meia hora na esteira, socando o pobre saco de areia. Para a tardezinha de uma sexta-feira os tatames a minha volta estavam vazios anunciando que as pessoas já começavam a se preparar para o fim de semana.

Concentrada em chutar e socar cada vez mais forte não pude evitar de imaginar que o rosto a ser desfigurado fosse o de Ruan. As técnicas que um dia meu irmão me ensinou e depois aperfeiçoadas pela a ajuda de Thales, intensificam minha movimentação. Movimentando para cima e para baixo como se ele estivesse realmente ali, minha cabeça começa a criar um novo cenário. O rosto de repente de Ruan se torna o de Dante. Depois do segundo soco meu punho simplesmente hesita.

Isso faz com que eu abaixe as duas mãos agora sem saber o porquê daquela leve hesitação.

Você vai matá-lo!

Não deveria sequer hesitar em dar uma surra imaginária nele!

-Merda!

Assim que solto o praguejo decido tomar um gole de água antes de voltar a treinar a todo vapor. Chego a dar dois passos em direção a garrafa sob os bancos na parede quando alguém parado na entrada daquele pavilhão me congela. Meu coração parece parar uns segundos antes de voltar a bater ainda mais rápido do que antes pelo esforço que estava fazendo.

-Soube que você não estava se sentindo bem...

As palavras de Dante ecoam pelo espaço vazio soando dubiamente como uma pergunta e uma afirmação. Eu tinha reportado apenas a Carmen meu mal-estar, mas obviamente que chegaria a Dante. Só não sabia que ele viria até aqui para conferir com os próprios olhos.

-Sim.

A minha monossílaba é seguida de eu realmente ir até minha garrafa e tomar um bom gole de água. Pego a pequena toalha que havia trazido e passo pelo meu rosto secando o suor acumulado na testa e pescoço. Assim que faço isso, volto meus olhos para ele que permanece imóvel na entrada. Suas roupas que se constituíam de calças jeans e uma jaqueta escura, me diz que ele havia voltado para casa antes de decidir vir até aqui.

-Não é um mal-estar físico. -solto me aproximando o máximo da verdade.

Eu sabia que o fio entre a verdade e as mentiras da minha história era tênue, mas o ponto chave para aquilo dar certo estava em manter um pouco de verdade sempre que possível. E aquele momento poderia apontar, mesmo que meio encoberto, o motivo de não ir trabalhar.

Vejo ele assentir antes de olhar em volta e começar a vir em minha direção. Tento não me abalar com sua aproximação, mas o friozinho na barriga era algo que eu estava começando a entender que não conseguiria controlar.

-Quis comprovar o que Oliver disse para você? -alfineto cruzando os braços e olhando atentamente para ele, que levanta as sobrancelhas em certa surpresa. Quase sorrio ao ver aquilo. -É, eu sei que ele tem sido minha sombra desde que voltamos.

Além da VingançaOnde histórias criam vida. Descubra agora