34° Como admitir...?

178 26 2
                                    

Prós e contras se debateram na minha cabeça quanto mais eu pensei na proposta de Vladimir. Já que, para cada pró que eu levantava, um contra aparecia. Por isso, depois de inúmeras contraposições decidi que só pensaria naquilo novamente quando aquela rodada acabasse.

E eu queria, mais do que tudo, que ela acabasse!

O elefante gigante quando chegamos em casa voltou a nos separar e reduzir o nosso já inexistente diálogo.

A vontade de falar com Dante quase me fez perguntar como ele estava depois de bater de frente com o assassino direto do seu irmão e confirmar que uma pessoa que ele, claramente confiava, estava por trás daquilo. Quase fiz as palavras saírem, mas desisti e as palavras que saíram foram se ele queria comer algo.

Negando ele foi para o seu quarto temporário e, como realmente estava disposta a comer algo, fui para a cozinha. Após mordiscar qualquer coisa voltei para o quarto e tomei um banho esperando que ele levasse para o ralo a inquietação que ainda me consumia.

Vestida com pijama de shorts e camiseta, ouvindo os pingos da chuva baterem na janela e olhando para as estrelinhas há muito coladas no teto do quarto que um dia tinha sido da minha mãe; ainda me sentia inquieta.

Ainda tinha vontade, como também não tinha, de ir falar com ele. A parte racional me diz que ir lá era a última coisa que deveria fazer. Por tudo que tinha acontecido nos últimos dias. Já a emocional me alegava que aquela inquietação só seria dizimada quando fosse o ver com os meus próprios olhos.

Presa naquele dilema continuei observando os poucos detalhes que ainda remetiam que ali tinha sido o refúgio da minha mãe. Poucos, pois minha avó tinha doado praticamente todas suas coisas quando mudamos.

Levanto o relógio prata que Valentim tinha me presenteado comprovando que os minutos se arrastavam. Olhando continuamente para o objeto, me lembro do sentimento de traição que ainda sentia quando pensava que quase teria tido meu destino selado pela pessoa que eu mais tinha confiado no mundo. Ele era a última pessoa que eu pensaria concordando com aquilo, mas eu claramente estava enganada…

Mas também ter um sobrinho era a última coisa que eu pensaria em ter. Um pedacinho do meu irmão em um serzinho que eu não fazia a mínima ideia onde poderia estar.

Como eu queria que aquilo acabasse…

Mas como querer não era poder, me levanto da cama disposta a encontrar alguma besteira para comer. Quando chego na cozinha vou direto para a geladeira, mas não chego a abrir; pois um barulho de algo se espatifando me faz dar um pulo.

Olho por toda a cozinha, mesmo sabendo que o barulho não era dali, mas sim de um dos quartos. 

Suspirando decido ir ver e, quando chego na porta do indivíduo, apenas empurro por estar somente encostada.

—Eu até entendo sua raiva, —começo ao me encostar no batente da porta.  — mas eu realmente tenho que pedir para não quebrar tudo.

Averiguando o quarto, que um dia tinha sido dos meus avós, mal posso o associar sendo deles com Dante estando ali. Ainda era a mesma cama de madeira antiga; o mesmo guarda roupa que ainda continha algumas roupas que minha avó não tinha se desapegado de meu avô e a cômoda de carvalho que Dante se encostava agora.

Mas o conjunto do abajur quebrado em um canto (motivo do barulho) e um Dante sem camisa, ainda destoam totalmente a lembrança.

Por mais que olhar para o seu peitoral tatuado fosse alimentar minhas fantasias, não é isso que prende minha atenção.

—Está sagrando…

Aponto para o ferimento em seu ombro fazendo com ele olhe automaticamente, como se só agora notasse a ferida que vertia um pouco de sangue.

Além da VingançaOnde histórias criam vida. Descubra agora