18° Presente grotesco

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    Com a respiração descompensada dou passos para trás logo levando a mão à boca com o intuito de segurar a ânsia que me sobe.

   Dante volta correndo para a sala no momento que ouve meu grito estrangulado. A arma levantada é abaixada no momento que ele vê o meu estado e entende que não havia ninguém me ameaçando.

   —O quê…

   Antes dele terminar aponto para a caixa agora aberta para que visse a imagem nojenta e horrenda que havia ali dentro. Mesmo que tivesse olhado por poucos segundos a cabeça de gado com um pedaço de carne sangrenta pregado com uma faca no meio da testa se refaz na minha cabeça.

   —Fecha a porta. —Dante aponta assim que prende os olhos no conteúdo da caixa.

   Faço o que ele pede automaticamente antes de virar e encarar aquela coisa de novo. Ele olha tão enojado quanto eu para aquilo, mas muito mais corajoso do que eu, vejo ele guardar a arma atrás de si antes de enfiar a mão na caixa. Dou mais passos para ver o que ele faria e quase ameaço derramar o pouco que tinha almoçado ali mesmo. Ele puxa a faca com cuidado antes de a soltar dentro da própria caixa e pegar o que eu não tinha nem reparado de início.

   A simples folha lisa de papel é erguida por Dante pelos seus cantos que não estão manchados de sangue. Mesmo que a carne anteriormente pregada com a faca agora escorresse lentamente pela cabeça empalada do gado junto com o sangue, que eu torcia para ser apenas animal,  vou para o seu lado com o intuito de ler a nota.

   “Olá, meu pedaço de carne. Quero que receba esse meu presente para que veja que até o mais delicioso pedaço de carne pode apodrecer…”

   Antes mesmo de terminar de ler um arrepio de medo me perpassa e dou alguns passos me distanciando daquele presente grotesco. Vejo Dante soltar alguns palavrões antes de soltar a nota de volta na caixa.
Meus olhos automaticamente vão de um lado para o outro meio esperando que Ruan se materialize do nada em meio ao apartamento.

   Ele esteve aqui!

   —Ele …

   —Não esteve aqui pessoalmente. —ele diz como se um estranho entrar e deixar algo no meio da minha sala fosse me tranquilizar.

   —Independente! Ele mandou alguém entrar aqui e deixar essa coisa horrível! —rebato em um tom mais alto do que pretendia.

   Levo as mãos ao rosto para tentar me estabilizar e voltar a respirar normalmente. Ouço Dante se movimentar pelo apartamento, mas não tiro as mãos do rosto. Até ouço ele abrir a porta e logo depois a fechar. E, pelos segundos que pensei que ele tinha ido embora um pânico ameaça me tomar, mas pouco depois já o sinto na minha frente. Sinto seus dedos delicadamente se fecharem em meus pulsos e os baixarem.

    —É isso que ele quer. —ele começa quando meus olhos arregalados se prendem na ferocidade dos seus. — Te aterrorizar. Deixar você com medo. Ele mandou algo parecido com isso para Cecília em sua escola. Ele quer ter controle sobre o nosso medo. Não dê isso a ele!

   —Ele encaminhou algo para Cecília?! —exclamo com uma raiva entrando agora em mim ao pensar na doce menina vendo algo tão grotesco quanto aquilo. 

   —Eu já tomei minhas próprias providências para que nada chegue até ela novamente. Como eu vou tomar as minhas com você, mas eu preciso que confie em mim.

   —Eu…

   Até começo, mas as palavras travam na minha boca.

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