29° Matar ou Morrer

168 25 13
                                    

Desligo o celular apenas para que o som pare, já que o desenrolar da situação não pararia…

Nem se eu quisesse…

Não me mexo e nem viro para encarar Dante Gonzalez, somente fecho os olhos com força mantendo as mãos, que seguravam a arma e o celular, abaixadas.

Estava tão perto de ir…

A menos que nunca estivesse perto de realmente ir…

E, como se lesse meus pensamentos, ele logo responde:

—Só para você saber esse celular já foi checado.

Uma emboscada.

Aquilo era a droga de uma emboscada que eu tinha caído perfeitamente. Estava tão preocupada que ele descobrisse as minhas reais intenções, que não tinha entendido que mesmo que ele tivesse me levado para cama, ele possivelmente já as soubesse.

—Você sabe por que eu estou aqui? —pergunto assim que encontro minha voz. Ela reverbera pelo estacionamento e fico grata por ela soar mais forte e estável do que eu verdadeiramente me sentia.

Espero sua resposta, mas quando ela não vem, não tenho outra opção a não ser virar. Seguro minha pose ao abaixar o capuz e virar para o encontrar a apenas alguns passos a frente. Éramos oponentes parecidos nas roupas pretas e na arma que cada um segurava abaixada, em uma ameaça velada.

Porém, sua expressão era dura e a frieza que vejo em seus olhos quase me desestabilizam. Tão diferentes do olhar necessitado e terno que tinha me olhado há apenas algumas horas. No entanto, me forço a segurar a pose e perguntar novamente:

—Você sabe por que eu estou aqui?

—Por que você não me diz, Valquíria?

—Meu nome não é Valquíria, mas você não vai acreditar…

—E por que deveria? Você veio até aqui pegar o celular daquele que estava prestes a te matar. O engraçado é que quando ele deu a entender que você era Valquíria, eu não quis acreditar, mas cá está você.

Sua postura até então inflexível quase parece estremecer ao se referir a mim, mas ele claramente não deixa se abalar.

—Então eu vou fazer a mesma pergunta que fiz para ele: quem ou qual facção te mandou?

Ele não levanta a arma quando solta aquela pergunta, mas não precisava para eu sentir a ameaça dela.

Mas com ameaça ou não, o vigor empregado em sua pergunta respondia a minha inicial. Ele não sabia o porquê de eu estar ali. De ter feito tudo aquilo. Ele não se importava, apenas queria saber com quem disputaria poder. Sempre poder.

—É claro que é só isso que importa, não é… —começo a divagar não segurando o sorriso amargo que corta meus lábios. —Poder e mais poder. E pensar que eu ia embora…. que eu ia por que eu me apai….

Me interrompo nas minhas palavras balançando a cabeça para estancar o leve queimar no fundo dos meus olhos. Eu não poderia me desestabilizar, não quando ele mantinha sua postura inflexível.

—Quem. Mandou. Você? —ele diz pausadamente e a ferocidade que ouço em seu tom é a mesma que está em seus olhos de lobo.

Se fosse em qualquer outra ocasião eu poderia ter recuado com aquilo, mas não hoje. Não quando meu tolo coração se quebrava ao ter ele me olhando como uma traidora, que eu verdadeiramente era para sua família. Então me forço a olhar para ele dá forma que eu sempre deveria ter olhado, apenas como o mandante do assassinato do meu irmão. Por mais difícil que fosse…

—Ninguém me mandou, Dante. —sentencio ao focar na dor que tinha me acompanhado desde que eu ouvi o tiro que ceifou Valentim. Precisava dela mais viva do que nunca para fazer aquilo… —Foram suas escolhas que me trouxeram até aqui.

—Minhas escolhas? —rebate cético.

—Você mandou matar a pessoa mais importante da minha vida! A minha única família! — levanto a arma em sua direção e ele não demora um segundo para fazer o mesmo. —Você é o único culpado de eu estar aqui, Dante!

Olhando para o rosto do culpado vejo uma carranca se instalar no seu semblante. Possivelmente tentando lembrar quem tinha sido o infeliz…

—É claro que nem sabe de quem eu estou falando.

—Aquele que era especial para você.

—Ele era mais do que especial… ele era tudo para mim!

Vejo a força crua das minhas palavras o acertarem, mas nem de longe esperava que as seguintes palavras ou ações se desenrolassem.

—Nada do que eu disser vai mudar isso então: faça.

— O quê…?

—Faça.

Ao dizer aquilo ele abaixa a arma e dá um passo na minha direção, como se para marcar seu ponto de rendição, me deixando para lá de desconcertada! Mas, mais do que isso, olho para ele desconfiada e mantenho a arma erguida. Meus olhos percorrem um pouco o ambiente para comprovar que ele não baixava a arma porque tinha uma outra arma apontada para mim.

—O que você está fazendo? —rebato baixo quando ele dá mais um passo para frente.

—Não é isso o que você quer? Eu não vou impedir…

Ele inacreditavelmente estava facilitando.

—Por que está fazendo isso?

—Só faça, Valquíria...

Ele continua por fim, dizendo em um tom leve, deixando que o cano negro da minha arma fique a poucos centímetros do seu peito esquerdo. Onde seu coração parecia bater lento e determinado, como seus olhos, que não me desafiavam a atirar, mas pareciam conformados em aceitar que eu atiraria e tiraria a vida sua vida.

A minha boca até se abre, mas nada saí. Minha pose por fora dizia que eu estava pronta para matar ou morrer naquele lugar. A vingança estava ao apertar de um dedo…
Mas, ainda assim, hesito ao apertar ainda mais a arma e minha mão.

Eu estava pronta para o matar ali e agora?

🖤✨🖤✨🖤✨🖤✨🖤✨🖤✨

😮😮

Muitos beijos!!

Além da VingançaOnde histórias criam vida. Descubra agora