1º Pesadelo

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Um ano depois...

É um pesadelo.

Eu sei que é um pesadelo.

Porém, independente de saber, as imagens distorcidas que meu subconsciente criou depois daquela maldita ligação continuavam a se desenrolar em meus sonhos. Sonhos esses que me prendem e seguem seu curso sempre medonho...

Então mais uma vez lá estava eu, como uma espectadora, apenas olhando o pesadelo ir tomando forma. Nele, não estou a quilômetros de distância de sua execução, mas há apenas alguns passos...

Vejo as sombras ao redor parecerem sempre tão sedentas, quanto o homem com feições distorcidas. Sua pose enraizada em manter um celular na orelha e ter uma arma apontada para cabeça da pessoa ajoelhada à sua frente...

A partir disso a vontade de gritar que é um pesadelo é tamanha, que sei que gritos sufocados saem pela minha boca. Mas não é o suficiente para me despertar e calar a risada horripilante que embala o pesadelo. Simplesmente não consigo! E não conseguir dava espaço para que ele continuasse....

Sem poder me mexer apenas observei, enquanto o homem com a arma ainda erguida dá seu aperto final e tira, mais uma vez, a vida de Valentim.

Meu irmão.

E para concretizar aquela cena criada, assim que seu corpo tomba para o lado seus olhos estão em mim. Opacos. Sem vida. Distantes em um mundo inalcançável...

Um bônus apenas para me lembrar que o único que nunca tinha me abandonado.... me abandonava agora para sempre...

Acordo, como sempre acordo, segundos depois ainda podendo sentir o desespero e a dor tão vivida em meu coração. Sinto lágrimas escorrerem pelo meu rosto assim que me sento na segurança da minha cama. Com a mão no peito, como se para acalmar manualmente as rápidas batidas do meu coração, respiro fundo algumas vezes para tentar manter minha sanidade no lugar.

—Foi apenas um pesadelo...! —recito como um mantra.

Alguns minutos muito mais controlada seco as lágrimas teimosas, que insistiram em cair sem meu consentimento, e olho para o relógio na mesa de cabeceira da cama. As horas em vermelho gritam que meu dia deveria ter começado há, pelo menos, uma hora.

Amaldiçoando jogo minhas pernas para fora da cama e me espreguiço para fazer com que o sono me abandone de vez.

Havia esperado aquele dia ansiosamente!

O dia em que a minha vingança oficialmente começaria!

Chego até a abrir um sorriso ao encarar meu reflexo na penteadeira do quarto. Meu reflexo poderia não estar um dos melhores, com os meus cabelos escuros amassados e desordenados por ter acabado de acordar e meus olhos verdes ainda se ajustando, mas a felicidade meio macabra estava instalada no meu sorriso de dentes e tudo!

Ainda sorrindo por tudo estar como planejado, estou pronta para ir ao banheiro e tomar um banho revigorante quando um barulho sutil vindo de fora do quarto me chama a atenção. O sorriso se desfaz automaticamente e coloco meus ouvidos para ouvir atentamente qualquer coisa.

Por um momento pensei ser coisa da minha cabeça ou que algum dos vizinhos acima ou abaixo do meu apartamento tivesse feito o tal barulho, pois não ouvi nada por um minuto inteiro. No entanto, com os instintos ainda acesos decido investigar e dizimar aquela dúvida.

Com as pontas dos pés tocando cautelosamente o chão gelado, me ponho para fora do quarto olhando diretamente para o final do corredor, que se abre na sala. Com apenas mais uma porta nele, que se encontra fechada, o final dele parece mais promissor para averiguar.

Além da VingançaOnde histórias criam vida. Descubra agora