15º Tudo por que você quis salvá-lo

196 30 6
                                    


   A saída daquela estrada vazia tinha sido rápida e mais coordenada do que eu pensei ser possível com os corpos mortos ou moribundos no meio da estrada. Apenas um dos carros 4x4 nos seguiram enquanto o outro ficou aparentemente para limpar a bagunça mórbida.

   Dante havia me ajudado a mancar até o sedan e não havia saído do meu lado. Oliver havia dirigido em silêncio, mesmo que eu tenha notado seus olhos passarem por mim e meu estado desordenado. O silêncio do carro seguiu até o nosso destino final. Havia me perguntado se iríamos para o mesmo hotel, mas ao descer do carro vi que uma casa era o que nos aguardava.

   Dante realmente esperava por aquilo.

   Com a sua ajuda também a adentrei e logo fui  recebida por uma Glória que correu até nós para certificar que estávamos bem. O meu estado a preocupou tanto quanto Cecília, que viu o sangue e a sujeira grudados em mim, e não pôde conter as lágrimas que lhe subiram aos olhos.

   Dante as tranquilizou e me ajudou a ir ao quarto que agora eu me encontrava. A sua promessa que ele voltaria para conversar comigo foi a última coisa que disse antes de fechar a porta do quarto impessoal.

   Sozinha, a primeira coisa que fiz foi ir ao banheiro para tomar um banho e limpar os arranhões que tinha ganho na luta com Ruan.

    Assim que entro em seu box apenas tento, ao decorrer que água morna escorre por meu corpo, me concentrar na dor que o processo de limpar os arranhões da minha perna e pequenos cortes aleatórios me proporcionam. Queria tirar tanto a sujeira, quanto as lembranças das mãos de Ruan de minha pele.

   Porém, mesmo não querendo, a imagem dele apontando a arma na minha direção se forma na minha cabeça quando fecho os olhos. Um segundo de hesitação e eu teria uma  bala cravada no meio da testa. Descendo as mãos do rosto ao pescoço sinto meus dedos perpassarem o corte reto na sua lateral esquerda. Um segundo mais tarde ali também teria acarretado em uma morte sangrenta e dolorosa...

   Tudo por que você quis salvá-lo.

   O pensamento me faz engolir em seco e deixo que água bata diretamente no corte fazendo com eu sinta uma leve ardência. A dorzinha limpa um pouco meus pensamentos, mas não as perguntas que eu ainda tentava encontrar a resposta.

   Por que não deixou que Raul atirasse nele? Por que não o deixou morrer? Porque, se no final daquilo ele estará morto?

   Tento me convencer, ao deixar as últimas gotas de água escorrerem, que fiz aquilo por que no final tinha que ser eu o matar. Com as minhas próprias mãos e ele sabendo o porquê daquilo.

   Sim, é isso!

   Me convencendo daquilo, saio do box e me seco com a toalha branca e felpuda que ali tinha. Passo delicadamente nos machucados a deixando rosa pelo pouco do sangue que ainda vertia deles. Me enrolo nela e olho para as roupas que eu havia simplesmente descartado no chão do banheiro. As pego, mas vendo a terra e as folhas secas aleatórias presas tanto na blusa, que algumas horas tinha estado branquíssima, e na saia, que mostrava que a fenda tinha sido mais avantajada pela queda; decido que não quero mais as vestir. Podia jurar sentir, se eu as levasse ao nariz, o cheiro do perfume enjoativo de Ruan.

   Estremecendo, simplesmente as solto na pia e torço para que tenham trazido minha mala para o quarto. Prendendo bem a toalha no meu corpo deixo que o meu cabelo molhado caia sobre meus ombros em ondulações e vou para o quarto. Ao pisar para fora do banheiro o vapor dele me segue, mas não nubla minha visão. Me contento ao ver que tinham trazido a minha mala, mas um frio na barriga é o que me domina quando vejo quem está no quarto.

Além da VingançaOnde histórias criam vida. Descubra agora