35° Confiança

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—Não precisava você vir.

Ouço a voz de Dante, enquanto dou meu terceiro bocejo, soar divertida.

—Sim, eu precisava. —contradigo assim que pisco o suficiente para dissipar as lágrimas que me subiram aos olhos. —Só acho que não precisava ser tão cedo.

—Mas já são 08:30h! Alguns diriam que é já até tarde.

—Não para mim que mal dormi noite passada!

Minha exclamação até saiu indignada, mas sabia que o motivo de não dormir era culpa minha também. Tanto minha, quanto do homem que dirigia ao meu lado.

Ainda podia jurar sentir a aspereza de seus dedos percorrendo todo meu corpo…

Ao me lembrar disso, e tudo mais que tínhamos feito na madrugada, não posso conter o calor que me sobe. E, como se visse para onde meus pensamentos estavam indo, vejo a sombra de um sorriso curvar seus lábios ao olhar para seu perfil.

Ainda olhando para ele até consigo perceber uma certa serenidade em seu semblante. Não completa, já que dificilmente ele ficaria tranquilo enquanto não recuperasse seu império. Até desconfio que, mesmo após recuperar, a tranquilidade simplesmente não se encaixa em seu estilo de vida, ou de qualquer pessoa naquela posição. No entanto, ainda via que algo tinha mudado.

A mudança mais notável definitivamente foi na forma que estávamos nos tratando. O elefante que tinha nos separado e feito nós trocarmos apenas algumas sílabas nos últimos dias tinha desaparecido. Não que estivéssemos tendo altas conversas desde que acordamos há uma hora, mas ainda assim, qualquer hostilidade parecia ter sido amenizada.

O que era bom, pois ainda tínhamos um longo caminho para percorrer juntos.

—Eu dei a opção de você ficar dormindo, mas você foi teimosa demais para aceitar.

—E deixar você ir sozinho? Nem pensar!

—Por quê? Não confia em mim? —ele sorri ao me dar um breve olhada.

Confiança.

Palavra que tinha muito significado por trás. E, naquele momento, poderia até dizer que tinha mais confiança nele do que em Vladimir. Mas não é isso que digo:

—Não confio nele.

—Martin é a pessoa mais leal que já conheci. —ele aponta veemente.

—Só digo, por que não está na minha lista de desejos ser alvejada.

—Não se preocupe, —ele solta assim que desliga o carro e termina sua frase com uma piscadela. — não deixaria isso acontecer.

Ao ele sair do carro logo em seguida não vê a minha satisfação em ouvir aquilo. Mesmo sorrindo, internamente, não esqueço de resgatar uma pistola para finalmente sair do carro também e ver onde exatamente ele tinha marcado para encontrar com Martin.

Assim que bato a porta do carro, trato de colocar a arma no cós de minha calça e olhar ao redor. Basta uma olhada rápida para reconhecer o viaduto que nos encontrávamos embaixo. Pouco movimentado, era um das saídas para a metrópole da cidade. O chão de cascalhos e matos crescendo em volta me alegam que poucas eram as pessoas que se atreviam a parar ali.

Sem sinal da chegada de Martin, pouso meus braços em cima do teto do carro popular e pergunto:

—O que pretende dizer a ele?

—Tudo. —responde francamente olhando para onde certamente Martin surgiria a qualquer momento.

—Inclusive que íamos nos casar?

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