25° Pesadelos de um sábado à noite - Parte 2

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Assim que aquelas palavras saem da minha boca trato de travar a arma e a colocar cuidadosamente atrás do cós da minha calça. Volto a manter as mãos erguidas em sinal de rendição e, mesmo que a desconfiança pairasse em sua expressão, ele não dá mais nenhum passo para trás. O que me diz que eu estou no caminho certo. E é por isso que me forço a falar com naturalidade:

—Se você pensou nesse plano direito, então trouxe um carro, né?

—É claro que pensei em tudo! —ele faz uma careta ofendida, mas não se move me dando mais espaço para continuar. —Eu deixei um carro no final desse beco.

—E você pretende levar ela para onde?

—Eu arranjei um galpão afastado da cidade.

—Ótimo….

Assim que paro a poucos metros dele é impossível não ter meus olhos desviados automaticamente para Cecília.

—O que você deu a ela?

—Apenas uma coisinha misturada com uma bebida para ela cooperar melhor e parar de tagarelar. —ele diz sorrindo, logo me dando a entender que, seja lá o que tinha dado a ela, tinha consumido também.

Ainda olhando para uma Cecília presa em seu próprio mundinho drogada, uma bola se forma em minha garganta. Ela até permanecia em pé encostada em Marcelo e quando seus olhos me perpassam de forma lenta, o brilho de reconhecimento demora, mas quando há, ela simplesmente sorri de forma preguiçosa me deixando saber que para ela a situação era irrelevante.

Você poderia ter impedido isso… Poderia ter ouvido seus instintos e impedido aquele pesadelo….

Como também deveria ter negado o pedido de Valentim para a encontrar naquela noite.
Engolindo em seco àqueles martírios, que nada me ajudariam naquele momento,  me esforço em focar nas ações que realizaria e que definiriam quem de nós três viveria ou morreria.

—Ok, você pode deixar eu a levar…

Vou com a intenção de pegá-la dos braços dele enquanto uma ideia tenta ganhar forma em minha cabeça. Porém, mesmo que ele tivesse abaixado a arma, ainda nitidamente sua confiança para comigo estava na corda bamba. Então não é uma total surpresa ele não me entregar de pronto.

Ok, um plano diferente…

—Se você quer fazer parte disso então saiba que sou eu que estou no comando.

—Sem problemas! Você que planejou, então vou deixar você levar todo crédito. —digo mantendo os olhos nos seus e sorrio de forma conspiratória. —Vou inclusive falar com Vladimir pessoalmente do quanto você foi eficiente. Ele vai realmente te promover dentro da família.

Aquela última sentença mal saiu da minha boca para que eu visse o seu efeito em Marcelo. A sua ambição era visível e quase palpável. Ele queria por que queria subir na família, independente de quem fosse pagar o preço.

—Ótimo. —ele sorri de volta. —Eu a levo e você dirige.

Ele indica para que continuássemos a andar e, se foi pelas minhas palavras ou se por conta das drogas que tinha consumido que o levaram confiar imediatamente em mim, eu não sabia. Mas até o mais esperto saberia que, se o seu inimigo virou seu amigo em menos de um minuto, o mínimo que você faz é manter os olhos nele por um tempo e não dá as costas para ele.

Não que eu estivesse reclamando da falta de discernimento de Marcelo, que de costas para mim, recomeça a caminhar para saída do beco com uma debilitada Cecília ainda enroscada em seu pescoço.

O próximo ato que faço é simples e rápido: resgato a arma nas minhas costas e com um movimento simplesmente bato com toda força a coronha em sua nuca. Ele desfalece imediatamente fazendo com que eu me mova soltando a arma para segurar Cecilia, antes que a mesma cambaleante caía junto com ele.

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