33° Intermediária

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—Se quiser, eu posso dirigir...

Deixo a oferta no ar e espero que Dante a reconsidere.

—Preciso me concentrar em algo.

E ele até parecia realmente concentrado, com as duas mãos no volante e os olhos grudados na estrada. Até parecia, mas eu sabia que sua mente estava em outro lugar. 

E saber disso somente acentua o frio na minha espinha quando ele faz mais uma ultrapassagem, no mínimo arriscada, na rodovia que nos encontrávamos.

—Se formos parados teremos problemas…

Aponto assim que ele faz mais uma ultrapassagem, que atrai mais do que um par de buzinas irritadas.

A última coisa que queríamos era a polícia rodoviária nos parando e perguntando sobre a carta de motorista que não estava com Dante. E, como se tivesse os mesmos pensamentos que eu, vejo quando seus dedos afrouxam um pouco o volante de seu aperto mortal e a velocidade volta a ser aceitável pela rodovia.

Volto a minha atenção para o GPS que informava que faltava pelo menos 30 minutos até o lugar que Vladimir se encontrava com ninguém menos que Oswaldo Teixeira.

E aquele tinha sido o primeiro pedido de Dante aos Vasconcellos: encontrar aquele homem. Como intermediária temporária questionei o porquê, já que não estava disposta a ser deixada no escuro sobre qualquer coisa, e recebi uma resposta curta de Dante.

Apenas que  aquele homem era a única prova viva que Dário era o responsável pela morte de Dimitri. Aparentemente, tinha tentado o encontrar, mas mesmo com a “ajuda” de Horácio na época não tinha conseguido.

Eu não sabia o que aquele homem poderia ter a ver com o acidente que seu irmão tinha sofrido, mas pela expressão de Dante desde que contei que Vladimir tinha conseguido o encontrar, poderia apostar que ele tinha tudo.

O observando, via claramente a raiva escapando por todos os seus poros, mas além dela sinto uma angústia saindo também. Não poderia negar que, ver ele se fechar em si mesmo com aquele turbilhão, não me doía o coração.

Tinha até vontade de confortá-lo, mas minhas objeções me impediam e só me deixavam o olhar de soslaio. 

As objeções estavam entre não querer ver a cólera em sua expressão com qualquer tentativa minha de aproximação; como também a minha indecisão de como me sentia com relação a ele. Não tinha mais ânsia nenhuma de matá-lo, mas também não tinha esquecido o que ele tinha feito.

Um verdadeiro impasse!

E esse impasse estava como um elefante entre nós nos últimos dois dias que estávamos praticamente trancados na casa dos meus avós. Poucas eram as palavras trocadas entre nós.

Para não pensar apenas naquilo, minha mente voltava para o que Vladimir contou. O que, definitivamente, não ajudava!
Porém, antes que pudesse enlouquecer, recebi a ligação que nos fez finalmente sair do nosso confinamento.

Então ali estávamos, com o mesmo carro que eu tinha usado para fugir, indo ao encontro de Vladimir em um lugar inabitado. Percebi essa característica quando o GPS anunciou que faltava 10 minutos para chegar e desviamos da rodovia para ruas mal pavimentadas e desertas, que logo deu lugar a uma estrada de cascalhos que nos levou até o pátio de um decrépito galpão.

Com a voz robotizada do GPS informando que havíamos chegado ao nosso destino final é que Dante desliga o carro. Antes de sairmos dele, nossos olhos se encontram por um momento e, pelos segundos que nos encaramos, espero ter transmitido que estávamos juntos naquilo.

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