22° Algo a mais...?

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A minha subida furtiva, notada apenas pelos seguranças, tinha sido uma pequena vitória. E quando cheguei no corredor do quarto logo corri para ele entrando e batendo a porta. Encostada nela com os olhos fechados e a cabeça mirando o teto não consegui conter o suspiro de alívio de estar ali que me sobe à garganta...

—A festa está tão ruim assim?

A voz ressoar no quarto, que até então eu achei estar vazio, faz com que eu leve um pequeno susto e mire de imediato a pessoa do outro lado do quarto.

—Dante! —ofego seu nome sem querer.

Olho surpresa para ele, que se encontrava perto da sacada aberta, e até tento formular algo há mais para dizer, mas depois da discussão que tivera com Marcelo nada se forma. No entanto, simplesmente não conseguir dizer algo banal como: meus pés estão me matando ou a música clássica estava me matando de tédio; o faz levantar uma sobrancelha em confusão e logo perguntar:

—Tudo bem?

Vejo ele colocar o que eu percebo ser um dos meus livros na mesa, que havia perto da sacada, antes de focar sua total atenção em mim.

—Sim.

A minha resposta monossílaba é seguida de me desencostar da porta e ao dar um passo meus olhos passam de relance pela minha mala. Ela estava encostada em um das mesinhas de cabeceira da cama e em seu interior ainda escondia a arma que havia ganho de Valentim. Meu juízo tinha me alertado que o lugar mais seguro e menos suspeito para deixar a arma ainda seria no forro dela.

—Tem certeza?

Quando levanto os olhos percebo que ele está muito mais perto. Sua chegada sorrateira só faz com que a cadência do meu coração se desregule quando meus olhos se prendem no azul profundo do seus. Quase pude sentir aquela bolha querer nos envolver e, por um brevíssimo momento de fraqueza, eu realmente quis voltar para os seus braços. E como se para ele não fosse diferente o vejo acabar com toda a distância entre nós e até vejo a sua intenção de me tocar. Minha pele até se arrepia ao antecipar a distinta sensação…

Esqueceu que ele mandou matar Valentim?!

A voz de Marcelo cortar meus pensamentos faz com que aquele névoa se dissipe quase que de imediato. E com aquilo, antes de ele chegar a colocar a mão em meu rosto, simplesmente me esquivo e vou para atrás dele. Mas não antes de ver em seus olhos surpresa e… decepção?

—Tenho.

A minha alegação é seguida de eu cruzar os braços para refrear a vontade insana de virar e desfazer o que acabara de fazer. Olhando para a noite a fora que a sacada mostra, tento lembrar de algo para falar e mudar os sentimentos controversos que se embolam da minha cabeça até o coração.
Rebuscando as ideias simplesmente lembro do que ele me falou antes de encontrar Marcelo e viro logo soltando aquilo para tentar mudar os rumos da conversa… Ou dos meus pensamentos.

—Você disse que queria falar comigo? Seria sobre..?

—Seria sobre a viagem que farei … — ele diz automaticamente ainda confuso.

—Viagem?

Meu eco, no entanto, o tira da letárgica confusão e eu vejo quando uma latente desconfiança aparece em seu semblante. Mesmo com aquilo ele coloca as mãos no bolso de sua calça e continua:

—Sim, nós tivemos uma pista de onde Ruan está se escondendo…

—E você vai até lá simplesmente atacar?

—Cansei de ficar esperando a oportunidade certa. Eu vou fazer essa oportunidade acontecer. Além do mais, a melhor estratégia está em usar uma ofensiva surpresa.

Além da VingançaOnde histórias criam vida. Descubra agora