26° A decisão

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O som explode alto nos meus ouvidos e até sinto quando respingos tocam meu rosto, mas a dor que pensei que sentiria não vem. Com os olhos fechados por um momento penso que a minha morte tinha sido tão rápida que nem tinha sentido nada. Que o som da bala saindo da arma para então entrar no meu crânio tinha sido o último som a soar nos meus ouvidos.

No entanto, não sinto dor, apenas  ouço um pequeno baque na minha frente que me diz que algo diferente podia ter ocorrido. Mas, com medo de dar de cara com a morte, me mantenho parada esperando o seu desenrolar.

Desperto daquela sensação letárgica quando alguém toca o braço ao qual eu tinha recebido um tiro de raspão. Instintivamente me esquivo do toque até que caio desajeitamento sentada. Chego a ainda repelir de forma descoordenada a pessoa, mas logo após percebo quem é.

—Ei, está tudo bem! Sou eu, Lissa! Sou eu…!

Respirando descontroladamente sinto quando Dante coloca ambas as mãos em meus ombros para me estabilizar. Seus olhos arregalados são a primeira coisa que vejo, mas não por muito tempo, já que de repente meus olhos se enchem de lágrimas. Se são lágrimas por não estar morta ou por simplesmente ver Dante ali, eu não sabia.

—Está tudo bem agora… —ouço no mesmo momento que ele me puxa para um abraço parecendo comprovar que estou viva. Não luto com aquilo, não poderia nem se quisesse naquele momento. —Você tá machucada?

Balanço a cabeça minimamente ainda mantendo o aperto que até então inconscientemente estava exercendo ao segurar a frente de sua camisa.

—Melhor te levar para o hosp…

—Não.

—Lissa… —ele começa novamente ao voltar olhar para meu rosto, mas não faço o mesmo, permanecendo com os olhos baixos.

—Estou bem… Eu.. eu só quero sair daqui… Por favor…

—Tudo bem. Vem…

Assim que ele me ajuda a levantar suavemente tenho a chance de realmente ver o que acontecia ao redor. Ainda vacilante vejo que não estávamos sozinhos naquele beco. Haviam dois homens que já se espelhavam e olhavam atentamente para todas as direções. Como se preparados para uma luta iminente.

No entanto, para sorte deles, o sujeito amador daquele pesadelo estava no chão e, se estava ou não respirando, não sabia dizer ao ter meus olhos passando por sua postura esparramada no chão. Vejo o ponto vermelho ir ganhando forma, mas não tenho a chance de comprovar se foi fatal. Se tinham realmente matado a pessoa que podia me destruir se abrisse a boca. E, com Dante já me guiando para fora daquele beco, não teria aquela resposta. Não naquele momento…

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Entre estar sentada no carro e estar de volta no casarão as coisas tinham sido dispersas. Sabia que tinha perguntado em algum ponto do caminho para os caras que estavam me levando se Cecília e Oliver estavam bem. A única resposta que tive deles é que eles estavam sendo levados para o melhor hospital da cidade.

Dante tinha ficado para trás, possivelmente para acabar com o resto de Marcelo. Mesmo que, naquele momento, ele nem soubesse a quem Marcelo realmente respondia. Mas não importava, porque no momento que ele tinha tocado em Cecília seus dias já estavam contados. Marcelo só não tinha acreditado em mim quando apontei aquilo.

Eu deveria ter insistido ou ameaçado mais… Deveria ter impedido aquele pesadelo…

Deveria ter feito tantas coisas, mas agora essas coisas não importavam mais. Apenas importava o que aquele pesadelo poderia ter desencadeado.

Além da VingançaOnde histórias criam vida. Descubra agora