32° Surpresas do destino

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A primeira coisa que faço ao passar do portão levemente enferrujado quando chego na calçada é cruzar os braços. Talvez assim escondesse o tremor que me subia ao pensar que os dois chefes das famílias rivais estavam apenas a alguns metros de distância.

Mesmo assim, espero pacientemente um dos seguranças abrir a porta do passageiro do sedã preto para então ver o seu dono.
Vladimir saiu do carro abotoando seu terno escuro e olhando de um lado para o outro antes de focar os olhos castanhos em mim; os mesmo olhos que Valentim tinha. Só os que de Valentim eram muito mais suaves do que os que me analisavam agora.

Para um homem de 58 anos Vladimir Vasconcellos ainda se mostra um homem bem imponente. Os cabelos e barba acinzentados até remetem à sua real idade, mas a sua estatura alta e magra ainda seguram o garbo do poder mortal que ele tinha em suas mãos.

Não que aquilo me intimidasse, por isso vou direto ao ponto:

—O que você está fazendo aqui?

—Olá para você também, Valquíria. —ele contradiz dando ênfase no nome que ele sabia que eu não usava com a sombra de um sorriso entrando em seu rosto marcado pelo tempo.

—Olá, Vladimir. —satirizo da mesma forma que ele, mas não contradigo o nome que ele me chama. Não adiantaria, ele simplesmente não me reconhecia como Lissa, então volto à pergunta anterior. — Agora, o que você está fazendo aqui?

—Eu vim me certificar que você está bem…

—Estou perfeitamente bem, como pode ver! —alego o cortando.

—Ótimo, mas ainda temos que conversar. Por que não me convida para entrar?

A indicação dele não é nada mais que uma ordem. Sei pelo o tom que usa e pela forma analítica que seus olhos estão em mim. Torço para que o meu nervosismo não seja tão aparente, quanto eu sinto estar por dentro.

—Tudo bem. —cedo ao voltar para o portão e o abrir. —Você pode entrar, mas eles ficam.

Agora é minha vez de indicar para os dois seguranças que o acompanham. Um estava na frente do carro e outro que abriu a porta parecia pronto para acompanhar o seu chefe.

—A menos que esteja com medo de conversar a sós com a sua filha.

—Fiquem aqui.

Essas são as últimas palavras de Vladimir para os seus seguranças quando passa pelo portão que mantenho aberto. Assim que o fecho, volto a liderar o caminho até a porta que daria para a sala média da casa.

Ao adentrá-la apenas torcia que Dante seguisse a minha ordem de ficar escondido e quieto até que Vladimir se fosse.

Pensando nisso, faço uma varredura com os olhos para me certificar de que não havia nenhum sinal de Dante visível. Confirmar que a porta de um dos quartos que dava para sala estava fechada e a pequena passagem para a cozinha iluminada estava vazia também, me acalmam um pouco para enfrentar Vladimir novamente.

—Não tive mais notícias de Marcelo. —Vladimir começa, ao sentar na poltrona que um dia tinha sido de meu avô. —Ele está…

—Morto. — Corto, direta. —Ele não me deu ouvidos, fez merda e acabou pagando por ela.

—É uma pena. Seu pai tinha sido um bom soldado e pensei que ele lhe ajudaria. Mas com ajuda dele ou não você fez. Fiquei sabendo sobre o incêndio nas empresas Gonzalez. Realmente pensei que não fosse até o final, mas agora vejo que é realmente uma de nós. Uma Vasconcellos.

—Não fiz isso por você ou para provar alguma coisa para sua família.

—Fez por Valentim, eu sei. — assente banalizando minhas palavras com um gesto. —Mas todos nós ficamos gratos mesmo assim. Eu, principalmente, que não podia fazer nada naquele momento…

Além da VingançaOnde histórias criam vida. Descubra agora