Além de hesitar na resposta, uma angústia parecia tapar cada vez mais minha garganta ao ter meus olhos presos nos seus.
A conformidade rachava a minha determinação. Mesmo com os pensamentos sombrios me incentivando a fazer, meu coração ainda se apertava ao ter a imagem de seu sangue em minha mãos. O aperto me remetia:Podia eu ter alguma coisa além da vingança...
Mesmo com a arma em prontidão ele nota minha indecisão. Mas ao invés de fazer o movimento que eu sei que ele poderia, que era pegar a arma da minha mão, ele não o faz.
Talvez eu quisesse que ele fizesse…
—Você sempre me intrigou. —ele confidencia calmo sem se mover. —Eu a contratei, mesmo que os meus instintos me alertassem que a raiva que eu vi em seus olhos no primeiro dia que a vi, fosse me trazer problemas….
—Tenho certeza que se arrepende.
—Não, eu não me arrependo. —ele me contradiz convicto. —A manter por perto foi mais intrigante do que pensei que seria… Ver você lutando contra mim, estando claro que sentia o mesmo que eu, apenas me incentivou a descobrir o porquê. E eu até pensei que naquele dia em que compartilhamos nossas perdas que eu tinha descoberto… Realmente não tinha entendido que eu era o causador.
—E é por isso que eu devo te matar. —solto torturada no mesmo momento que sinto uma lágrima escapar.
—E você deveria… mas eu vejo porque você hesita agora. Não por que você está apaixonada por mim, como eu também eu estou por você. —ele diz terno ao pender um pouco a cabeça e um sorriso triste tocar seus lábios. —Mas porque eu vejo em seus olhos que não é uma assassina.
Havia uma parte de mim, aquela que se agarrava na dor da perda do meu irmão, que influenciava a dizer que ele estava errado e que eu deveria apertar o gatilho.
Eu deveria...
Mas eu sabia o quê ele via nos meus olhos. Ainda a garota que não tinha nascido naquela vida. Aquela que Valentim tinha tentando manter longe daquela parte sangrenta…
E é me agarrando nela pela última vez que fecho os olhos e abaixo a arma. Não fazia isso pelo homem a minha frente e nem mesmo pelo Valentim. Fazia isso por mim. Pela mulher de antes, a de agora e pela que poderia ser.
—Lissa…
Ouço Dante recitar meu nome ainda de forma terna e abro os olhos para ver o que poderia ser a última vez aquilo. Mas assim que os abro eles captam uma movimentação para além dele…
—Você só tinha que atirar nele!
Mal essas palavras são ditas para que Dante vire e receba, sem que possa fazer nada, um tiro que o desestabiliza. Fosse pela surpresa, ou pela força do tiro em si, ele dá passos até que trombe em mim e nos leve desajeitadamente sentados ao chão.
—Por que você fez isso…?!
Arfando apenas solto a arma para poder colocar ambas as mãos no ponto acima do seu ombro que começava a sangrar ao ter ele praticamente no meu colo.
—Na verdade, eu não fiz nada. Você fez. Você o matou…
—Horácio…
O nome do homem em pé à nossa frente é dito por Dante de uma forma mortal. A força que ele emprega no nome é a mesma força que ele tenta usar para se levantar.
—Alto lá! —ele ameaça sorrindo com a arma apontada para Dante, que forço a ficar onde está instintivamente. —Eu estou lhe ajudando aqui. O que tínhamos em mente em fazer…
—O que diabos você está fazendo?! —Dante rosna, mas não se mexe, possivelmente vendo que minhas mãos se enchiam do seu sangue quanto mais ele se mexia.
—Eu estou fazendo uma escolha. A escolha de tirar você do poder. Tenho que te admitir que a proposta da Dário é melhor que a sua. —confidencia, mantendo o sorriso no rosto fino ao dar um par de passos em nossa direção. —Pelo menos assim Glória e Cecília podem viver…
—O quê?! —solto estupefata antes que Dante possa ele mesmo soltar aquilo.
Com a minha deixa os olhos frios e zombeteiros de Horácio sobem para os meus me fazendo estremecer com a maldade que ali encontro. Mas, mais ainda, com as próximas palavras que ele solta:
—Eu sei o que você queria fazer e posso até apostar quem a mandou, Lissa. E é por isso que vai ser fácil colocar a culpa em você do que acontecer aqui.
Ele pisca para mim, como se fossemos íntimos, e para alguns metros parecendo pronto para fazer aquilo que eu não tinha feito.
No entanto, pelos segundos que Horácio olhou na minha direção, foram o bastante para Dante tirar forças do seu interior e, mais rápido do que até mesmo eu pudesse prever, levantar a arma do lado atingido dando dois disparos certeiros em Horácio.
Os urros que ouço são tanto de Dante, que volta a derrubar a arma e colocar a mão em cima das minhas que ainda tentavam inutilmente parar o sangue que vertia, quanto de Horácio que tomba sem ninguém para ampará-lo.
—Precisamos sair daqui…
Até ouço as palavras de Dante ao fundo, mas fico atônita por meio segundo sem entender o que raios tinha acontecido ali?!
Saio do meu estado assim que sinto Dante se mexer com a intenção de se levantar e perceber que o tiro cobrava seu preço. Olhar para a sua careta, que mostra a sua real dor e a palidez que começa a se acentuar por todo o seu rosto, faz meu coração parar por um segundo e meu sangue gelar.
—Eu preciso te levar para um hospital! —solto aflita quando consigo com dificuldade o levantar e passar o braço esquerdo por sob meus ombros.
—Não adianta… ir para nenhum hospital…. —ouvimos Horácio se engasgar e arfar, mas ainda aparentemente rir em sua própria agonia. —Qualquer um que for… vai encontrar uma surpresa… Você vai morrer de qualquer jeito…!
Mesmo com as palavras de Horácio atrás de nós, me ponho a ajudar Dante para fora dali. Eu não sabia quem mais estava do lado de Horácio e de sua loucura!
Assim que chegamos na calçada, que ainda vazia por ser domingo de manhãzinha, paro sem saber o que fazer!
—Você vai me ajudar…?
A pergunta que Dante faz sai baixa e ofegante, mostrando que a falta de sangue e o tiro continuavam a roubar suas forças. Mesmo no meu frenesi, olho para o seu rosto não perdendo a braveza que ele ainda tenta segurar para enfrentar o que quer que estivesse vindo para ele.
E, por um milésimo de segundo, meu modo sobrevivência me diz que aquela era a minha deixa para o largar ali a própria sorte; mas infelizmente, ou felizmente, meu coração tinha outros planos. Um que não incluía o deixar ali, não depois de eu ter desistido de o matar!
—É o que parece… —recito ao começar o levar na direção do meu carro. —Irônico, não é.
Até solto uma risada nervosa pela situação ironicamente trágica. De o matar para o ajudar.
É, o destino tinha suas armas incontroláveis para mostrar do jeito mais incomum que poderia eu ter algo além da vingança…
🖤✨🖤✨🖤✨🖤✨🖤✨🖤✨
Eitas! 😱
Muitos beijos!
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Além da Vingança
Romance"Em um jogo de matar ou morrer pode o amor sobreviver...?" Vingança. Para muitos, um prato que se come frio. Para tantos outros, algo que não vale a pena investir. Para Lissa, que perdeu a pessoa mais importante da sua vida pela cobrança de ou...