Capítulo XLVI

189 29 23
                                    

Aiala continuou presa ao caloroso abraço de Nikolaus por longos minutos, Dídimo e Íris resolveram não intervir nem no momento mais acalorado da discussão. Pelo canto do olho a garota teve a impressão que algo se moveu na sombra, em seu íntimo algo se agitou, era como se ela sentisse uma presença familiar, mas a presença que ela sentiu não deveria estar alí, afinal o que alguém como ele faria naquele lugar? Ela até tentou olhar na direção em que sentiu estar alguém que não via a um bom tempo, mas o abraço estava apertado demais e correr atrás de uma sombra no mundo inferior não era a melhor das idéias. Aos poucos a garota notou àquele que se esgueirava nas sombras se afastar sem fazer o menor ruído, e em seu interior não pôde deixar de sentir saudade. 

De fato, quem se encontrava nas sombras era uma divindade, e ele  assistiu angustiado toda aquela cena. Tentou se afastar e mandar para longe um sentimento novo, algo que nunca havia sentido. A verdade é que ele não era incapaz de sentir qualquer coisa, mas viveu por tantos milênios em um inalcançável pedestal que a simples idéia de sentir ciúmes ou amor sequer lhe ocorreu. Sendo alguém que viveu, assim como os outros deuses, em nome do orgulho, sentir ou demonstrar tristeza era inconcebível, principalmente se o caso fosse ficar triste por algo que aconteceu com terceiros. Seria aquilo, que revirava em seu âmago, empatia? 

- O que, pelo estige, eu estou pensando? - Murmurou enquanto caminhava. - Acaso penso que me tornei um humano? - Prosseguiu enquanto mergulhava a mão esquerda em seus cabelos. - Pare com isso! Esse tipo de coisa é algo que apenas um humano sentiria. 

O deus andou alguns passos e então parou, seu olhar distante fitava o nada. 

- Faz tanto tempo que não a vejo. - Falou. - Ela parecia tão cansada, talvez fosse melhor voltar e perguntar se ela precisa de alguma coi… - Sua fala foi interrompida pelo forte som que um tapa em sua face fizera, e o autor do tapa? Foi ele mesmo. - Recomponha-se! Está sendo patético de novo. 

Ele voltou a caminhar. 

- Você nem sabe o que ela veio fazer aqui… - Ele pausou. - Na verdade você sabe sim. - Falava consigo mesmo. - Mas é melhor fingir não saber, esse foi o caminho que ela escolheu. Não é problema seu. - Tentava se convencer. - Não entre nessa confusão, só um idiota arriscaria sua posição, orgulho e a vida de seus súditos em uma guerra que não é sua. - Concluiu. - Isso mesmo! Eu nunca me arriscaria por aquela humana. 

O deus continuou seu caminho a fim de realizar sua desgostosa tarefa, o preço pago pelo favor que havia requerido a alguém, em sua mente estava a imagem da mulher que mexia com sua sanidade, abraçada ao homem para quem ela abriu seu coração e em sua mão esquerda carregava seu imponente e poderoso tridente. Mas o que um deus da mais elevada estirpe viera fazer ali?


                              ❇❇❇

Nikolaus decidiu deixar para Aiala a decisão de quando encerrar o abraço e ela o fez quando bem quis, caminhou até Dídimo e Íris, apanhou suas coisas e anunciou que era chegada a hora de partir. 

- Quanto mais cedo entrarmos, mais cedo sairemos. - Disse Aiala. 

- Se sairmos…- Divagou Íris em voz alta e todos olharam para ela. Aquilo era a última coisa que queriam ouvir naquela hora. - O quê? - Questionou confusa. 

Ninguém respondeu a ruiva. 

- A partir daqui é terreno ainda mais perigoso. - Falou Dídimo. - Mas como dito antes, temos outro problema. 

- Estamos ficando esgotados. - Apresentou Nikolaus. 

- Exatamente. Os campos de punição roubaram mais de nossa energia do tinhamos previsto. - Argumentou Aiala. - Desde que escapamos da Erínia eu tenho percebido que meu corpo parece mais pesado e lento. 

Aiala: A Noiva do deus do marOnde histórias criam vida. Descubra agora