Capítulo LXII

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"A dor mostra quem nós somos no íntimo do ser."
- Henrique Mendonça.

O sol ainda não tinha se posto quando uma super lua nasceu por completo no horizonte, de fato o pôr do sol não viria nas próximas horas, sol e lua dividiam o mesmo céu. A grande lua estava azulada, era tão grande que trazia a todos estranheza e sentimento de mau agouro. Diante do imponente corpo celeste Aiala sentia um leve formigar na pele, era como se pequenas descargas elétricas percorressem seu corpo.

A garota olhava para o corpo diante de si sem reação, ela sentiu a aproximação de alguém nas suas costas e sem sequer olhar o reconheceu.

 - Você já fez isso antes, não? - Perguntou  num fio de voz, lutava contra um sentimento de ávida angustia que crescia entro de si nublando sua racionalidade. - É só fazer de novo, você só precisa trazer ele de volta e... - Sua sanidade se esvaia rapidamente, tal qual pétalas de dente-de-leão ao vento.

 Sua alma havia clamado pela ajuda do deus o mais alto que pôde e isso o trouxe ali, ele mal teve o trabalho de procurar o lugar onde ela estava no meio de todo aquele caos. A mulher se manteve por um fio, apegando-se a esperança de que Poseidon surgiria e resolveria seu problema, mas no fundo ela sabia a dura realidade e por isso sua pele formigava. 

- Aiala... - O deus chamou com serenidade, ele que sentia o que ela sentia sabia muito bem que nada do que ele dissesse nada aplacaria sua dor e ira. 

- Não! - Ela o silenciou, não queria ouvir a verdade óbvia, negava por completo a realidade e implorava ao vazio que de dentro dele surgisse uma solução. - É só trazer ele de volta e vai ficar tudo bem. - Ela ainda não tinha olhado para ele desde que ele chegou e permaneceu assim.

- Aiala, eu... 

- Você pode, eu sei que consegue. Você é um deus. - A cada palavra ela se perdia mais e mais. 

- Sei que é difícil, mas estamos no campo de batalha, você precisa... - Ele nunca passou por aquilo, queria fazer alguma coisa, mas haviam limites até para um deus. 

- Eu faço qualquer coisa. - Aquela era uma súplica, as palavras transpuseram qualquer barreira erigida pelo seu orgulho e então deixaram seus lábios. - Eu imploro, faça alguma coisa. 

Poseidon se aproximou de Aiala e, pela primeira vez em sua existência, se pôs de joelho. Ainda sentada no chão, com agarrada ao corpo do homem que a amou, Aiala não se moveu.

- Eu queria... - Disse ele quase em um sussurro, vê-la naquele estado era demais até para ele. Doía, como doía. - Mas não posso, dá outra vez seu amigo tinha morrido à poucos segundos, mas dessa vez... a alma de Nikolaus já atravessou o Aqueronte, Caronte já o levou e ainda que não tenha atravessado, Hades não me cederá o mesmo favor duas vezes. - Ele suspirou, tentava escolher as palavras com cuidado, porém não havia jeito melhor de dizer aquilo e se havia ele desconhecia. - Ele se foi. 

Aiala parou de se mexer por um bom tempo, sequer parecia estar respirando,  como se tivesse perdido a consciência momentaneamente, mas logo depois se levantou lentamente, sua íris emitia uma suave luz vermelha e parecia mais avermelhado que antes, lágrimas de sangue começaram a escorrer pelo seu rosto desprovido de expressão, aquele era o olhar de alguém que olhava para o fundo do abismo e para o azar dos traidores o abismo estava olhando de volta para ela, e ele sorriu. O anel no dedo de Aiala começou emitindo um brilho leve mas logo se tornou forte o suficiente para chamar a atenção de todos no campo de batalha, a terra começou a tremer, o anel escorregou para fora do dedo da garota e flutuou  no ar até pairar a menos de um metro do rosto de Aiala. O brilho do anel se intensificou ainda mais e o tremor seguiu o ritmo, o anel começou a mudar e do submundo Hades sorriu para a última descendente do clã Kokinos. 

Aiala: A Noiva do deus do marOnde histórias criam vida. Descubra agora