Epílogo

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Ainda posso ver com clareza a chegada de Aiala ao vilarejo, quando receberam a mensagem trazida por um pássaro, a mensagem que anunciava seu retorno, todos preparam uma grande festa. Contudo, a imagem solitária da garota entrando no lugar trazendo em suas mãos a urna funerária é algo que qualquer um que tenha presenciado aquilo será incapaz de esquecer. 

Os instrumentos que haviam começado a ser tocados rapidamente silenciaram-se, senhora Ráptis abriu caminho com um olhar incrédulo. Seus olhos fixos no de Aiala agora desciam para o objeto em suas mãos, a incredulidade deu lugar ao choro sentido que logo foi acompanhado por lamúrias vindas dos demais alí presente. Como uma mãe que acabara de perder seu precioso filho na guerra,  senhora Ráptis segurou firmemente a urna nas mãos e  lamentou com profundo pesar, dor escorria de seus olhos. 

Os gêmeos se uniram a sua mãe, acariciavam o vaso com cuidado, para eles não era outro senão o irmão deles em sua frente. Um cortejo se formou e a urna foi levada montanha a cima, pararam diante do carvalho e ao lado do túmulo de Pachis foi cavado um novo, delicadamente a urna foi colocada no funda e em lágrimas todos deram o último adeus. O que a para fazer além de contentar-se? Não ouvira que há jeito para tudo exceto para a morte? Contudo havia alí alguém que superou a morte e não estava disposta a largar o osso, até que fosse feita a sua vontade. 

Recordo ainda que Aiala  levantou cedo na manhã seguinte, preparou uma pequena bagagem e caminhou até a entrada do vilarejo, estava partindo para não voltar tão cedo. Em seu íntimo dizia que jamais retornaria para aquele lugar repleto de memórias sobre dias que não mais voltariam. 

A garota olhou uma última vez ao redor, se despedia silenciosamente do lugar que cresceu e foi muito amada. Depois ela deu as costas e começou a ir embora. 

- Eu já não posso ficar aqui. -  Justificou Aiala sem sequer se virar, ela havia parado de andar. - Sou grata pelo que fizeram por mim.

A mulher se aproximou vagarosamente, olhos vermelhos, inchados e cheio de olheiras, estava pálida como se estivesse doente. Certamente não tinha pregado o olho aquela noite.

- Um dia o velho Pachis voltou ao vilarejo com uma linda e frágil garotinha. - Falou senhora Ráptis. - Ele nunca teve filhos e nunca se casou, não sabia o que fazer com a criança. Foi um alvoroço, mas todos nos unimos para que a nossa menina crescesse bem e saudável. - Ela fez uma Pausa. - Minha criança, você sempre foi um espírito livre e nós viviamos temendo o dia em que você alçaria vôo para longe daqui. - Ela limpou lágrimas teimosas. - Essa é sua casa Aiala. - Disse docemente. - Mesmo que você voe para longe, sempre terá aqui na nossa pequela vila um lugar para retornar e mesmo que levem cem ou mil anos para voltar ainda será recebida com festejos. 

Senhora Ráptis acelerou um pouco os passos até estar bem perto das costas de Aiala, a garota ficou parada sem nada dizer por um tempo. 

Após alguns segundos ela se virou e fez algo que a mulher nunca vira em sua vida. Aiala sorriu, um sorriso cheio de gratidão, afeto, carinho e uma pitada de tristeza e saudade. 

- Todo mundo vai reclamar porque eu parti sem dizer nada, mas sabe? - Disse Aiala. - Eu nunca gostei de despedidas.

Quando uma lágrima solitária escorreu pela face sorridente da garota, Senhora Ráptis teve um vislumbre, ela viu uma criança, a criança que ela não conheceu, a criança que tinha um pai amoroso, uma mãe dedicada e um irmão mais velho que a carregava nas costas para cima e para baixo. 

Senhora Ráptis ficou plantada no lugar enquanto Aiala caminhava para fora do vilarejo, parando uma última vez para acenar em despedida. Ainda positivamente atordoada, a mulher acenou de forma desconcertada. Aiala partiu dalí já com saudades e um objetivo.


                              ❇❇❇



- Escute bem, Aikaterhíne. Essa e muitas outras histórias que lhe contei são de grande importância para a sua compreensão sobre o trabalho que logo lhe será atribuído. 

Aikaterhíne era mais alta que a Pitonisa, tinha pele alva e cabelos loiro acinzentados com algumas poucas mechas escuras, seus olhos pretos contrastavam com todo o resto. Trajava um comprido vestido verde água, como a Pitonisa, estava descalça. 

- Compreendo, grande Pitonisa. - Disse a Jovem Aikaterhíne. - Logo serei a nova Pitonisa do oráculo de Delfos, então sei que devo ouvir atentamente cada uma das história. 

- De fato, sempre que uma nova Pitonisa é escolhida, cabe a atual treiná-la e lhe repassar as histórias. - Disse ela. - Tive a oportunidade de presenciar e participar da história que acabei de contar. 

- Acabou? - Indagou a jovem. - Como assim acabou? Há muito o que saber ainda. O que houve com o cozinheiro pirata? Os amigos da prometida se tornaram imortais? Conseguiram achar um jeito de trazer de volta Nikolaus? Eu tenho tantas perguntas. 

- Você pergunta demais. - Suspirou a mulher. 

- Além disso... - Aikaterhíne olhou para a mulher com uma expressão desconfiada. - Como a senhora sabe de todas essas coisas?

- Uma Pitonisa nunca dorme. - Respondeu. - Veja.

A mulher afastou com a mão a fumaça que se formava na pequena fonte de água que estava à sua direita, imediatamente imagens começaram a aparecer refletidas na água. 

- Que incrivel! - Disse a menina empolgada. - Se tinha algo assim, devia ter me mostrado antes. 

- Pra você fugir das tarefas e ficar brincando na fonte? - Alfinetou. - Não, obrigada! 

Silêncio, a garota estava pensando. 

- Espere!? - Sobressaltou-se. - Se a senhora estava vendo tudo, então quando Poseidon e Aiala...

- Já chega! - Berrou a Pitonisa envergonhada, perdeu totalmente a postura. 

A garota lhe lançou um olhar malicioso e sorriu em desdém. Ela estava vendo uma oportunidade, Aikaterhíne sempre foi uma espertinha para a infelicidade da Grande Pitonisa.  

- Se a senhora me contar o resto da história, talvez o pessoal daqui não fique sabendo sobre o que a grande Pitonisa anda assistindo na fonte sagrada. - Disse com ar inocente. 

- Você está me ameaçando? - Sussurrou a mulher.

Aikaterhíne ergueu então o dedo indicador na frente do rosto da Pitonisa e ficou balançando para um lado e para o outro sem mover o resto da mão, enquanto fazia isso, ela estalava a língua sucessivamente em negativa e então parou, olhou dentro dos olhos da mulher.

- Eu vim barganhar. - Disse ela. 

Aikaterhíne era a única pessoa que a tratava como igual e em vista disso, as trocas de provocações eram constantes. Não era como se a mulher desgostasse disso.

A Pitonisa suspirou completamente derrotada.



Fim!

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É isso galera, chegamos ao fim dessa obra que amei escrever. Sou grata a todos os leitores que persistiram até o final, que não me abandonaram e me incentivaram. Em breve estarei revisando a obra pra ajeitar principalmente a ortografia. Kkkkkkk

Eu retirei o livro "O legado de Neankanaua" para ajeitar umas coisas também, mas logo estarei postando capítulo por capítulo. Então me sigam na nossa próxima aventura, já deixo avisado que lá também tem cutuo a divindades (predomina politeísmo).  Obrigada por tudo💜💜💜💜.

Não esqueça de votar e comentar. Saionara. 💃💃💃

Aiala: A Noiva do deus do marOnde histórias criam vida. Descubra agora