Capitulo 1

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Já é madrugada

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Já é madrugada. Entro no banheiro, mas deixo as luzes apagadas. Por nada neste mundo quero me olhar no espelho e ver na minha cara a vergonha de quem se apaixonou e se fodeu de novo. É o tipo de coisa que faz as pessoas se atirarem na frente de um caminhão, e imagino que esse destino ainda seja melhor que aquele que me aguarda. Tenho absoluta convicção de que vou implorar por uma morte rápida e indolor até o fim da semana, logo depois de contar para minha família a merda que aconteceu desta vez.

Jesus, o Noah!

Não paro de pensar no Noah.

Tiro a roupa rápido e me jogo debaixo da água escaldante do chuveiro.

Preciso me sentir limpa, o que, considerando a situação, não vai ser fácil.

Estou arrependida por não ter procurado, na espelunca onde me hospedei, um litro de água sanitária ou um tubo de gel antisséptico para esfregar no meu corpo até ele estar em carne viva. Um bom pedaço de Bombril também viria a calhar. Daí, quando lembro que burrice não pode ser arrancada do corpo como se fosse sujeira, desisto e sento no chão do box para pensar na vida, sentindo o vapor da água quente me sufocar, imaginando se conseguiria me afogar no chuveiro. Seria possível?

Ainda não consegui chorar. Estou chocada demais, senão poderia tentar me afogar nas minhas próprias lágrimas — muito mais poético!

O que a gente faz quando pega o namorado na cama com outra pessoa? Grita? Chora? Surta e sai correndo atrás de uma faca de desossar para acabar com a raça do desgraçado? Não, não fiz nada disso. Só fiquei ali parada, perto do pé da cama, olhando para os dois e pensando: Puta que pariu. Ele tá me traindo com o maior gato.

Você não leu errado. Não mesmo.

Meu namorado estava na cama com outro cara — e que cara, meu Deus! Só que esse não é o foco! O foco é que eu sou uma tremenda chifruda. Não que eu não esteja acostumada, porque estou: ele não foi o primeiro e, a julgar pela sorte que tenho, provavelmente não vai ser o último traidor a enfeitar a minha testa. Ainda assim, fico curiosa para saber por que esse tipo de coisa sempre acontece comigo.

Deve ser o meu carma. Eu posso muito bem ter afundado a merda do Titanic no passado, ou de repente fui a porcaria de um nazista. Será que queimei mulheres gritando “Matem a bruxa!”? Seja o que for, não importa: tenho coisas mais importantes com que me preocupar no momento, e não, não estou falando das minhas lágrimas inexistentes. Vou ter muito tempo para elas depois.

Quando todos, sem exceção — juro, até meu gato rosnou —, avisam que um relacionamento vai dar errado, ele realmente dá. E a sua vida escorrega pelo ralo. Primeiro, porque ninguém vai permitir que você esqueça o que aconteceu. Afinal, que diversão as pessoas teriam se não pudessem jogar na sua cara que estavam certas? Segundo, porque você vai ficar envergonhada e humilhada por ter que contar a porra da história — todo mundo ama os detalhes das merdas que acontecem na vida alheia, não é? Por último, sempre tem a maldita frase que escapa da boca de um ou outro. Sabe aquela? Eu te avisei. Meu Deus, como eu odeio essa frase! Se eu ganhasse uma moeda a cada uma das vezes que a escuto, meu porquinho ia precisar de uma cirurgia bariátrica!

Caçadora de estrelas - Adaptation NoartOnde histórias criam vida. Descubra agora