— A Sina acreditou? — Lamar pergunta.
— Ela não tem motivo para desconfiar. Nós enganamos bem — comento, me recostando mais no banco do carro dele, me sentindo péssimo por ter mentido. Por ter esperado que ela dobrasse a esquina para sair sorrateiramente. Eu não sou assim.
— Era uma quantia alta? — ele pergunta, curioso, me dizendo que escutou atentamente nossa conversa. Bom, dei um soco no painel do carro alugado dele. Não tinha como não se interessar depois dessa.
— Era. Ela estava no banco desde os dezoito anos, então acho que dá para estimar, né? — respondo olhando para minha cara fechada no retrovisor, irritado com a permissividade dela e com quão filho da puta o gringo foi. Tem que ser muito mau-caráter para tirar o dinheiro de uma garota assim. Ele se cala, porque já sacou que não vou especificar valores, embora eu saiba de cor até os centavos que havia naquela conta.
Nunca tivemos segredos para essas coisas.
Mas eu guardo outros dela...
Sina me pediu para deixar Levi no aeroporto no dia em que ele retornou a Londres, pois ela tinha que trabalhar e o pai e o irmão se negaram. Eu fui. Ele, muito sarcástico, jogou na minha cara, assim que estacionei em frente ao seu portão de embarque, que não demoraria uma semana para minha garota ir atrás — e eu sabia que estava certo. O ciúme que ele tinha de mim, o ciúme que eu tinha dele e a saudade que eu já sentia dela custaram bem caro para Levi. Nunca tive muita paciência com os namorados dela, de toda forma, mas aquilo foi uma afronta para mim. Se quer saber, eu estaria muito, muito arrependido agora se não tivesse batido com gosto no cara. Pelo menos posso considerar que essa merda já foi descontada com antecedência. Ele saiu do carro pingando sangue e nunca contou nada para Sina. Se tivesse contado, ela teria me falado alguma coisa. Até nisso foi covarde.
— O que ela queria?
— Grana para um jantar em comemoração à minha saúde. Nas palavras dela, espetacular — conto em um sussurro. Seus olhos se fecham com pesar, e ele morde o lábio de maneira ansiosa.
— Está com medo? — Benjamin pergunta.
— Não. Só quero acabar logo com isso. — Dou de ombros, olhando para a estrada à nossa frente. — Mas estou grato por você estar comigo e por tudo que tem feito.
Ele sorri e assente. Parece que demos muitos passos em três dias.
Nem quero mais atirar nele. Em vez disso, retribuo o sorriso.
Chegamos a São Paulo pouco depois. Nós nos hospedamos em um hotel na Avenida Paulista e aproveitamos o restante da tarde.
Conversamos, rimos, relembramos as partes boas do que um dia foi uma grande amizade e hoje se transformou em quê?
Caridade?
Cuidado?
Remorso?
Uma nova chance?
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Caçadora de estrelas - Adaptation Noart
Fanfiction|•Noah and Sina•| Sina, após flagrar o namorado com outro cara (e descobrir que, ainda por cima, ele tem um gosto para homens melhor que o dela!), se arrepende de ter abandonado a família, o gato, o emprego, os amigos e até o país para segui-lo. Mas...