Epílogo

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Duvida da luz dos astros, De que o sol tenha calor.

Duvida até da verdade, Mas confia no meu amor.

WILLIAM SHAKESPEARE

SEIS ANOS DEPOIS

Meus olhos se abrem assim que escuto seus passinhos no chão de madeira. Sesê hesita na porta do quarto por apenas um instante, decerto refletindo sobre a melhor maneira de acordar seu melhor amigo, e eu sorrio no escuro. Se fico quietinha em noites como esta, sempre assisto a uma das minhas cenas favoritas no mundo. Estreito os olhos quando ele entra, pé ante pé, com o travesseiro nas mãos, e para do lado esquerdo da cama para chamá-lo.

— Você pode dormir comigo? — sussurra baixinho. Os olhos amarelos de certa criaturinha se abrem e suas patas se esticam no travesseiro ao lado do meu antes de ele se levantar, incomodado com o garoto atrapalhando seu sono, e se apressar para o meu. — Por favor, Cupi! — ele implora cheio de dengo, agora um pouquinho mais alto, e é sempre aqui que acontece: quando ele é ignorado por seu melhor amigo preguiçoso.

— Oi — sussurra o ser que ele está tentando acordar com essa conversinha.

— Oi, papai. — Suas bochechinhas coram.

— Está tudo bem?

— Eu... eu não queria te acordar, mas é que...

Sesê morde o lábio ansiosamente, e já sabemos o que isso significa, não é?

O tique da mentirinha não é a única herança dele: os olhos, o cabelo bonito e a bondade vieram no pacote também. Como eu tenho certeza de que é mentira? Simples, temos mais três gatos espalhados pela casa, dois estão na cama dele, e meus olhos estavam bem abertos e viram que não foi na orelha do Cupido que ele sussurrou.

— Teve um pesadelo? — pergunta com tanta gentileza que meus olhos se enchem de lágrimas.

Toda vez que eu o vejo fazer uma pergunta nesse tom, que rouba os mais belos sorrisos do nosso filho, sinto como se estivesse diante de um milagre.

— Sim. Eu caí em um buraco sem fundo e agora não consigo mais dormir — ele conta, chateado.

— Quer escutar uma historinha? — Os olhos do nosso filho brilham, e no instante seguinte ele já está no meio de nós dois.

Fecho os olhos por alguns segundos, esperando ambos pararem de se mexer para reabri-los.

— Já pensou em uma historinha, papai? — pergunta nosso filho.

— Já — Noah sussurra. — Vou te contar do que é feito o céu, Sesê... — Ele se virou para o meu lado, para poder ficar de frente para o garotinho deitado em seu travesseiro. Sesê está mais para baixo, então consigo ver perfeitamente o olhar apaixonado de Noah.

Eu amo esse olhar e as palavras doces que saem dos seus lábios quando fala com nosso filho, mais do que amo sua risada, então nunca ferro com esses momentos. Apenas assisto e penso em quanto eu o amo e como sinto orgulho dele por nunca ter desistido de lutar por nós. Mas o fato de ele estar aqui não me surpreende. Estamos falando do Noah! Do garoto que esperou por essa família por trinta anos. Não seria uma doença cretina que o tiraria de nós. Mesmo assim, todas as manhãs, quando ele abre aqueles olhos verdes penetrantes, me encara e sorri, eu o agradeço por ser a porra do cara mais determinado na face da Terra. E ele sempre esteve determinado a me fazer feliz, disso ninguém discorda.

— Era uma vez uma princesinha tão bonita quanto a mamãe, que vivia em um reino onde o céu era completamente apagado, porque as estrelas ainda não existiam... — Minha garganta se fecha. — Ela era filha de um rei adorado por seus súditos e por toda a família real, assim como o príncipe Josh, seu irmão mais novo. Porque ambos sempre demonstraram bondade e estenderam a mão para todos aqueles que precisavam de ajuda, sem hesitar.

Caçadora de estrelas - Adaptation NoartOnde histórias criam vida. Descubra agora