Capítulo 17

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O que que eu fiz? Não, essa não sou eu, não pode ser

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O que que eu fiz? Não, essa não sou eu, não pode ser. O que quer que estivesse dentro daquele menino que atendi na escola deve ter me possuído. Saio da casa de Noah desnorteada, envergonhada e muito ressentida por ter sido rejeitada.

Eu ia mesmo beijá-lo? Não, não ia. Bom, a ideia bem que passou pela minha cabecinha recheada de coisas, mas eu não teria coragem. Será que não? Não sei mais. Não sei de mais nada.

Assim que passo pelo portão de casa, ouço gritos histéricos. Não consigo distinguir muita coisa, então entro com cautela, na pontinha dos pés, como uma boa abelhuda, para ouvir melhor.

— Aquela vaca estava quase beijando o Noah, mãe. Como você quer que eu fique calma? — Any berra. Paro no meio do caminho e continuo escutando atentamente, com um misto de ansiedade e culpa, porque não tenho dúvida de quem é a “vaca” e estou começando a me sentir mal pelo que aconteceu.

— Você não vai falar da minha filha nesse tom, mocinha, não importa o que você viu ou acha que viu — meu pai se intromete, bem rude. Isso aí, pai! Me defende! Não que eu chegue a merecer, mas enfim...

— Calma, Sebastian! — Clara pede, em meio ao desespero de não saber de que lado ficar. — Filha, os dois são amigos há muitos anos. Pode ser que o que você viu não seja nada de mais. Por que você não entrou e conversou com eles?

— Eu sei o que eu vi, mãe. Ela ia beijar o Noah! — Any grita mais uma vez, sem paciência. — Aquela que todo mundo mima porque não tem mãe ia beijar o meu namorado!

— Any — alerta meu pai.

— Não é verdade? Pois foi isso que o Noah me disse, que a Sina é assim porque vocês dois sempre a mimaram. Devem se sentir culpados pelos segredos da mãe dela que vocês escondem.

Meus olhos pinicam imediatamente com a maldade impregnada nessas palavras. Não compreendo como o fato de eu não ter mais uma mãe se relaciona com a minha aparente falta de caráter em quase beijar o namorado dela. E que história é essa de segredo?

— Any, que fique claro. Este é o meu último aviso para você parar de falar — meu pai adverte, com uma fúria que eu nunca tinha visto antes. Nunca consegui deixá-lo bravo assim, e olha que eu aprontei bastante. O comentário da garota e a reação estranha do meu pai me atingem em uma ferida que nunca cicatrizou, por isso me escoro na porta e espero que a dor diminua antes de entrar e quebrar a cara dela por falar da minha mãe com aquela boca suja.

— Ela tem mãe, Any. A mãe dela faleceu; isso não quer dizer que não tenha uma, então não fala assim, pelo amor de Deus! — implora Clara, alarmada.

— A mãe dela se matou, mamãe. Quem sabe, se tivessem contado para a Sina em vez de transformá-la em um bibelô de vidro, a menina não teria todos esses problemas de comportamento.

Não demoro mais que poucos segundos para absolver seus julgamentos infundados. Ela está errada. Minha mãe se afogou. Ela me amava, nos amava demais para tirar a própria vida. Uma sensação latente de desespero e impotência toma conta de mim. Sinto o medo, a saudade e o abandono me cercando e pouco depois me atingindo fundo por todos os lados. São tão fortes que tenho a impressão de que, se esticar as mãos, posso agarrá-los. Quero mais que qualquer coisa ensiná-la a nunca mais falar da minha mãe, fazê-la engolir cada uma de suas palavras e calar sua maldita boca.

Caçadora de estrelas - Adaptation NoartOnde histórias criam vida. Descubra agora