Imagino que em pouco tempo vai ser como se eu nunca tivesse ido embora, e esse pensamento me aquece e assusta na mesma medida. Além de desejar que as pessoas que eu amo me perdoem, me acolham e apaguem minhas falhas, me ressinto do tempo que passei fora em busca de uma ilusão. Era como se, não importava quanto eu corresse, jamais conseguisse sair do mesmo lugar.
E, durante essa lacuna, o tempo passou!
Voltar para casa deveria ser um bálsamo para meu coração machucado.
Eu deveria sentir tranquilidade e segurança, mas, a cada quilômetro que o ônibus roda, sinto mais medo. Posso apostar que não vou ser recebida com faixas e balões de boas-vindas. Ninguém vai passar a mão na minha cabecinha desmiolada sem antes discursar detalhadamente sobre o tamanho da cagada que eu fiz, sobre o verme que eu sou e sem dizer que no fim das contas nada valeu a pena. Como se eu mesma não soubesse!
Todos vão me perdoar, disso não tenho dúvida, mas me pergunto quanto vai custar e, principalmente, por quanto tempo vou ter que implorar que me deixem em paz.
Minha família não me preocupa. Noah sim.
Passei todos esses meses me perguntando se eu não era importante o suficiente para ser merecedora de uma maldita mensagem no Skype! Eu não me importaria se fosse uma porra de comunicação por telepatia, um punhado de palavrões via sinal de fumaça ou um telefonema no meio da noite — nem que fosse para me chamar de filha da mãe lunática que só pensa no próprio umbigo! Eu só queria que Noah não me ignorasse, como fazia quando éramos pequenos e eu destruía algum brinquedo dele.
Mas esta é muito mais que uma briga infantil e passageira, eu sei. Não foi a primeira maluquice que fiz ao me apaixonar por alguém que não partilhava dos mesmos sentimentos, mas foi, sim, a primeira vez que Noah me abandonou por causa de uma maluquice. Eu o decepcionei, e constatar que de alguma maneira estraguei o amor que tínhamos me magoa profundamente.
Jamais vou esquecer o olhar desolado, furioso e desapontado que ele me deu no dia em que eu não lhe disse adeus.
Eu tinha acabado de escrever um bilhete de despedida para o meu pai, pegado minha mochila de cima do sofá e saído porta afora com um imenso sorriso de satisfação no rosto. Sorriso esse de quem estava eufórica por ter a oportunidade de viver uma aventura romântica que me renderia um amor para a vida inteira, um casamento e uma penca de pirralhos barulhentos. Santa ignorância! Saltitei pelo jardim e saí de casa, me escorando no muro para aguardar o taxista. Sim, naquela época eu ainda tinha dinheiro para um táxi, mas era tão mão de vaca quanto agora, que não tenho um tostão no bolso. Foi quando o vi.
Noah estava no carro, parado do outro lado da rua, a cabeça apoiada no encosto do banco e as mãos escondendo o rosto. Em determinado momento as mãos caíram, me permitindo ver suas feições cansadas e rígidas. Ele parecia triste e ao mesmo tempo pronto para berrar comigo.
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Caçadora de estrelas - Adaptation Noart
Fanfiction|•Noah and Sina•| Sina, após flagrar o namorado com outro cara (e descobrir que, ainda por cima, ele tem um gosto para homens melhor que o dela!), se arrepende de ter abandonado a família, o gato, o emprego, os amigos e até o país para segui-lo. Mas...