Franzo o cenho e engulo um palavrão quando alguém morde meu tornozelo, porque não quero acordá-la. Nem preciso olhar para saber quem me acordou às... Que horas são? Abro os olhos o suficiente para ver que ainda está escuro. Estou quase pegando no sono de novo quando percebo que Sina está inquieta demais, mas, antes que possa perguntar se está tudo bem, eu a ouço afastar o edredom e falar...
— Sério que você não gosta mesmo de Big Mac? Como pode? — pergunta, em um cochicho resignado, saindo da cama bem rápido.
Com quem está falando? Aonde está indo?
Provavelmente atacar a geladeira, então fico quieto.
O gatinho que estava dormindo no meu peito reclama por ter sido acordado, pula meu corpo, se segurando com as unhas até cair, depois rasteja para a minha camiseta, ao mesmo tempo em que sinto a patinha minúscula do outro bater na minha bochecha. Acho que estava no travesseiro dela. Sei lá, essas porras grudam até nos lustres agora. Sabe o que é mais interessante? Paguei um absurdo em uma caminha que ninguém usa, virou enfeite. Os quatro só dormem na nossa cama, mais precisamente em cima de nós, ainda nos fazem de travesseiros e nos acordam de madrugada se querem brincar. É um inferno. Mas eu amo.
Ela também. É muito divertido.
Dividir a vida com a minha garota é ainda melhor do que eu tinha sonhado.
— Vai dormir, Asa — cochicho no seu ouvido, ganhando um ronronadinho fofo. Asa é toda doce, como a mãe. O que está na minha camiseta é o demônio disfarçado; Arco é idêntico ao pai. O que eu disse sobre os nomes?
Fico perdido na inconsciência, sentindo o barulhinho da felicidade da bonitinha no meu peito. Dá ainda mais sono...
— Merda, neném! — Sina geme, abrindo a tampa do vaso, ou ao menos acho que foi isso que falou, porque a tampa bateu na cerâmica ao mesmo tempo. E eu? Eu acordei.
Tô bem acordado.
Meus olhos se abrem no instante em que penso ter escutado uma variável da palavra proibida — aquela que ninguém menciona porque combinamos fazer isso apenas depois da consulta. Sei que nós vamos escutar algo ruim, e ainda acho que é uma péssima ideia colocar alguém inocente no meio disso, mas, assim que sairmos do hospital e minha garota chorar nos meus braços me pedindo de novo a porra de um bebê, eu sei que vou concordar.
— Neném malvado — ela sussurra para o gato, fazendo meu peito apertar, porque tem alguma coisa no tom... uma coisa diferente...
Tenho uma ideia do que seja quando, um segundo depois, escuto os sons dela dando adeus ao hambúrguer que comeu mais cedo, quando levamos meu irmão e a namorada ao cinema — o primeiro que come desde a nossa briga —, e eu paro de achar que estava falando com o Cupido.Afasto as cobertas com um milhão de perguntas na ponta da língua, mas acho que só uma importa. Mentiu para mim, porra? Entretanto sua voz me faz parar, ficar quieto e escutar. Sua voz transforma todo o inconformismo que estou sentindo apenas ao cogitar essa ideia em algo mais bonito.
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Caçadora de estrelas - Adaptation Noart
Fanfiction|•Noah and Sina•| Sina, após flagrar o namorado com outro cara (e descobrir que, ainda por cima, ele tem um gosto para homens melhor que o dela!), se arrepende de ter abandonado a família, o gato, o emprego, os amigos e até o país para segui-lo. Mas...