Noah
Sina, eu vim pra casa tomar um banho antes de te pegar, mas estou me sentindo muito cansado. Será que a sua mãe pode te trazer, amor?Não respondi. Fiquei ocupada arrancando minha mãe do banho. Eu chamo a mulherzinha do meu pai de “mãe” uma vez — só porque achei que o bolo sairia mais rápido — e agora todo mundo se refere a Clara como minha mãe.
— Te ligo para contar, mãe. — Inclusive eu, porque eu queria chamá-la assim faz tempo, só não tenho vergonha na cara para admitir. Não me senti envergonhada depois que aconteceu ou culpa pela minha própria mãe. Na verdade eu me senti muito bem. Ela respondeu: “Vou fazer o bolo agora mesmo, meu amor”, e eu tomei isso como permissão para continuar com a moda, e aqui estamos nós, fingindo que é uma coisa normal que fazemos desde sempre. Como uma coisinha tão meiga pariu a Any? Não tenho ideia, e, por falar nela, preciso dar uma conferida no celular do Noah.
Eles vivem de papinho, sempre espio.
— Vou esperar acordada — Clara sussurra, tentando esconder o nervosismo.
Eu não dou conta de esconder o meu, porque estou tremendo por inteiro. Tô a cara da batedeira dela, só não sei fazer bolo. Beijo sua bochecha com pressa de entrar em casa e absorvo seu olhar enquanto saio do carro, um daqueles que eu entendo como “Se precisar eu volto”.
Às vezes, se acordo depois de um pesadelo e não consigo parar de chorar, tenho o costume de ligar. Se não consegue me acalmar pelo telefone, Clara vem e para o carro na porta, me aperta até que eu consiga respirar de novo e depois vai embora. Foi tão difícil esconder a novidade dela quanto do Noah, mas eu queria que ele fosse o primeiro a saber. Corro para dentro de casa, brecando na porta da sala quando noto tudo escuro. Não acendo as luzes. Em vez disso, procuro Noah pela casa. Quando não o encontro, me sento na nossa cama e reviro a bolsa atrás do celular.
Estou aos pouco me preparando mentalmente para o que vou escutar.
Não briguei ou sequer reclamei quando ele não quis que eu fosse à consulta desta vez. Gostei que estivesse preocupado com o neném, porque de certa maneira também me preocupo com a maneira como meus sentimentos o afetam. Adoro o dr. Bigodinho, até aliso o rato morto na cara dele sempre que o vejo, já pegamos intimidade, mas o homem curte uma sinceridade bruta, então decidi que preferia escutar o que quer que seja da boca de Noah, como ele também queria. Ele vai saber como me dizer.
Sina
Cheguei e não te achei. Saiu, amor?Noah
Estou no antigo quarto da minha mãe. Pode vir aqui um minuto?Sina
Ok.Levanto na mesma hora, abandonando o celular, para ir atrás dele com o coração batendo forte no peito. O medo e a fé estão travando uma batalha dentro de mim. Só Noah pode me acalmar. Tenho mil e um pensamentos diferentes rondando minha mente quando paro na porta do quarto, mas nenhum deles se fixa, porque, no instante em que empurro a porta apenas encostada e o encontro no meio de um universo cheio de estrelas, só consigo pensar em quanto o amo. Ele está parado bem de frente, perto de um bercinho de madeira. Meus olhos passeiam lentamente dos seus tênis ao jeans escuro, passam pela camiseta branca suja de tinta azul-marinho, pelo rosto alegre e, por fim, o boné da mesma cor da tinta virado para trás. Será que ele tem ideia de que é o homem mais bonito do mundo? Eu sei que sou a mulher mais feliz, só pelo prazer de ser amada por ele.
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Caçadora de estrelas - Adaptation Noart
Fanfiction|•Noah and Sina•| Sina, após flagrar o namorado com outro cara (e descobrir que, ainda por cima, ele tem um gosto para homens melhor que o dela!), se arrepende de ter abandonado a família, o gato, o emprego, os amigos e até o país para segui-lo. Mas...