capitulo 2

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Será que Any topa esquecer o jantar e ir para casa me olhar dormir?

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Será que Any topa esquecer o jantar e ir para casa me olhar dormir?

Passo meia hora me fazendo essa pergunta enquanto espero por ela, impaciente, no restaurante em frente à escolinha da sua mãe, onde ela dá aula no maternal. Acho que estou ficando velho, porque, se antes correr dez quilômetros atrás de um assaltante era fácil como bocejar, agora eu queria muito um analgésico, um ronronado do meu gato e a minha cama.

Nessa ordem.

Solto o celular e passo as mãos pelo rosto, exausto. Abro os olhos e a vejo caminhar por entre as mesas com uma imponência e postura que poucas mulheres mostram.

Any está linda, como sempre.

Reparo que ela caprichou na roupa e deve ter gastado muito tempo com a maquiagem. Eu me pergunto por que as mulheres se empenham tanto para estar perfeitas, mesmo que seja para compromissos como este: um jantar sem importância, que eu daria a vida para poder embrulhar para viagem. Não seria um cabelo desfeito e uma cara limpa que me fariam adorá-la menos.

Eu gosto dela e ponto.

Mas imagino que o nosso relacionamento ainda não tenha chegado à fase em que o conforto vale mais que arrancar um elogio dos meus lábios, o que quer dizer que também ainda não estamos na fase em que eu posso soltar: Desculpa pela produção, gata, mas vamos ver TV em casa? O bandido era rápido, correu pra cacete e eu estou morto...

Respiro fundo para encarar o jantar, sentindo as pernas latejarem embaixo da mesa. Decido ser gentil e, acima disso, grato, porque sei que ela se empenhou para estar bonita para mim, o que eu afirmo quando Any se senta à minha frente e coloca a bolsa em cima da mesa.

— Você está linda!

Os três babacas na mesa ao lado aparentemente concordam. Sorrio, erguendo minha garrafa de cerveja, quando eles me olham. O sorriso é só para tirar onda, não tenho o menor ciúme dela. Sem jeito, os caras viram para a frente, e eu seguro a risada, me concentrando em Any diante de mim e com as bochechas coradas. Ela é determinada e decidida, e mesmo assim tenho o poder de fazê-la fraquejar diante de um elogio — é uma graça. O cabelo preto deixa sua pele clara, quase translúcida, tornando sua timidez ainda mais evidente. Ela pisca os cílios longos e me brinda com um olhar satisfeito.

— Obrigada, Noah — diz, sorrindo. — Está esperando há muito tempo?

— Não — minto, devolvendo o sorriso e fazendo um sinal para o garçom. Anda logo, porra!

Estamos juntos há pouquíssimos meses, e ainda assim este é meu relacionamento mais duradouro. Não que eu vá contar isso a Any, mas não sou do tipo que namora.

Sempre preferi minha liberdade e nenhum apego, então nunca fiquei mais que algumas vezes com a mesma garota. O que mudou? Eu queria alguém que me fizesse esquecer outro alguém. E, mesmo sabendo que esse tipo de atitude sempre termina machucando um dos envolvidos, convidei Any para sair depois que ela me roubou um beijo durante um jantar de família na casa do “meu alguém”. Para ser sincero, eu fui enfiado no banheiro da área da churrasqueira, me recuperei bem rápido do susto de ser atacado e a coisa não ficou só no beijo. O que aconteceu foi tão bom que a convidei para um cinema no dia seguinte, e assim foi indo. Eu sabia que teria de levá-la a sério desde o início, porque, por consequência de um casamento aí, ela agora é da família do “meu alguém”. Eu não podia tratá-la como uma garota qualquer, porque devo respeito a essa família. Eles são tão importantes para mim que os chamo de minha família também. Any foi uma escolha consciente, mas me surpreendi com quanto estou gostando dela.

Caçadora de estrelas - Adaptation NoartOnde histórias criam vida. Descubra agora