Olhares Diferentes

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Ninguém tinha mais clima para se divertir. As garotas foram para a casa da Mônica, esperar Magali se restabelecer para então levarem-na para casa. Não acharam por bem preocupar seus pais no momento. Dona Lili, Mãe da Mônica, preparou uma vitamina forte e levou para a garota inconsolável que chorava abraçada a sua filha no andar de cima.

- Toma Magali. Você tem que provar isto, é receita da minha família, levanta o ânimo de qualquer um. - disse, entregando um imenso copo da bebida.

- Obrigada Mamãe. - agradeceu Mônica, recebendo pela amiga - Eu dou a ela daqui a pouco. Ela está muito sensível agora.
Magali chorava copiosamente, abraçada ao travesseiro redondo de Mônica, o terceiro que já encharcava com suas lágrimas. Não havia lógica naquilo. Como era possível que o Quim, o SEU Quinzinho pudesse ter agido daquela forma com ela? Era injusto demais aquilo. Não lembrava mais da última vez que havia sequer conversado com o filho do padeiro, seu namorado, desde que ele conseguiu a tal bolsa de estudos.

- Como ela está? - escutou alguém dizer, do vão da porta do quarto, por trás de si. Aquela voz lhe trouxe de repente um minúsculo afago de tranquilidade e paz. Seu porto seguro estava ali. Não que a garota de dentes proeminentes ao seu lado, segurando sua mão, não fosse um alívio para a dor que lhe dilacerava por dentro. Mas aquela pessoa parada na porta, ele era alguém que se jogaria de um trem em movimento por um amigo sem pestanejar.

- Ela está bem, Cascão. Só precisa de tempo para... - Mônica foi interrompida pela própria amiga, que passou por ela e se jogou nos braços do ex-sujinho. Este, só teve a reação de retribuir, a apertando com força.

- Porquê ele faria isto, Cas? Por quê comigo? Eu sou uma pessoa tão ruim assim? - ela chorava, mas não como antes.

- Ssshiii, não faça isso com você mesma Magali. Não é culpa sua.

Ele esperou ali, em pé, calado por um tempo. A garota se acalmou e foi sendo conduzida por ele até a cama, onde Mônica estava sentada, olhando com os punhos fechados. Sentia uma raiva profunda pelo que aquele filho do padeiro fizera a sua melhor amiga, e via que Cascão era, neste momento, um apoio psicológico até melhor do que ela mesma.

- Fica com ela um pouco Cascão, vou lá embaixo ligar para os pais dela e falar com minha mãe. -disse, acariciando os cabelos da morena e já saindo do quarto.

- Pode deixar. - falou o garoto, dando um meio sorriso torto e virando-se para trás - Não vou deixar que ela fuja.

Magali suspirou profundo e olhou para as mãos. Estava trêmula ainda, e as lágrimas teimavam em cair, mas sabia onde era seu eixo novamente. Estava no controle. E isto, apenas com a presença de Cascão ali. Era reconfortante.

- Eu... Ele... Não consigo pensar direito Cas. Acho que vou enlouquecer. - disse a magricela, em voz baixa, olhando pro nada.

- Maga. Você lembra quando eu e a Cassandra terminamos? - ele olhava nos olhos da garota. Olhos tão meigos e lindos, agora perdidos num vácuo escuro.

- Uhum... - disse, quase inaudível.

- Pois é, naquela vez, eu sumi por três dias. Fugi até de casa. E quem me encontrou? Quem me trouxe de volta para o mundo e para a vida? - ele segurou uma das mãos da amiga.

- Você se escondeu nos fundos do colégio. - ela quase sorriu, relembrando o episódio. Os dois conheciam aquele esconderijo, onde tantas vezes o Cebola levava eles, para fugirem de qualquer enrascada. Havia até água e barrinhas de cereal escondidas ali.

- Pois é... E apenas você, Maga, se lembrou de me procurar ali. Você confiou na minha inocência quando a Cascuda me acusou de traição.

- Bem... Na verdade, ela te acusou de... - a garota corou. Lembrava muito bem de Cassandra lhe apontando e dizendo para todos que o Cascão sempre gostara da magricela, e isso na época gerou uma certa distância entre os amigos. Quim pareceu não dar ouvidos para tudo aquilo, mas Cascão preferiu não arriscar a paz daquele relacionamento.

- O Quim... Eu não sei porquê isto aconteceu, Maga. Mas te garanto que a culpa não foi sua. Absolutamente. E olha que esta palavra é enorme!

- Hehe, seu besta. - ela sorriu.

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